O labirinto de Trump
Uma caminhada por Washington, a capital dos Estados Unidos, mostra o que pode estar passando na cabeça dos americanos a dezesseis semanas das eleições. Não é incomum deparar-se com filas longas na porta das escolas públicas que distribuem refeições gratuitas. Em algumas lojas, cartazes trazem a mensagem “negócio de proprietários negros” e a sigla BLM, do movimento Black Lives Matter. Outras têm os vidros ainda estilhaçados, resquícios das manifestações contra o racismo e a violência policial. Ao redor do terminal Union Station, sem-teto se aglomeram. No bairro Georgetown, conhecido pelo agitado comércio e pelos restaurantes, os clientes são escassos. Nas calçadas desérticas, ambulantes vendem máscaras contra o coronavírus com a bandeira americana e a frase: “Torne a América segura novamente”. A mensagem, segundo a vendedora salvadorenha Areni Andrade, de 44 anos, faz referência tanto ao medo de contágio por coronavírus como à crise econômica. Faxineira em um restaurante, ela perdeu o emprego há cinco meses.
O país que começou o ano discutindo se o presidente Donald Trump poderia sofrer um impeachment mudou radicalmente o tema das discussões políticas com a pandemia. O quadro atual, dominado pela crise na saúde e na economia, em nada favorece aquele que está no comando da nação e tenta a reeleição. A última pesquisa da Universidade Quinnipiac, do dia 15 de julho, mostra o candidato democrata Joe Biden quinze pontos percentuais à frente de Trump. Até então, a vantagem de Biden estava oscilando entre 8 e 11 pontos. O democrata parece ter conquistado os independentes, aqueles que não se identificam com nenhum dos dois partidos, mas representam 40% da população. De cada dez independentes, seis acham que Biden estaria fazendo um trabalho melhor que o de Trump no combate ao coronavírus. Apenas três preferem Trump.
Até junho, Trump estava se saindo bem quando os americanos eram questionados sobre o estado da economia, o outro assunto relevante da campanha. Mais da metade dos entrevistados aprovava a maneira como o atual presidente estava lidando com a questão. O desemprego que estava no patamar histórico de 4% pulou para 14% em abril e depois caiu para 11% em junho. Em torno de 30 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial do governo. A aprovação a Trump na economia, contudo, está atrelada à expectativa de reabertura do comércio e ao retorno às atividades. Em maio, diversos estados, incluindo Texas e Flórida, anunciaram o afrouxamento das medidas de isolamento social. Como os casos de óbitos por coronavírus voltaram a crescer, governadores tiveram de dar um passo atrás. “Entre as pessoas que tinham voltado ao trabalho, havia um alívio, uma sensação de que a situação tinha melhorado. A última coisa que elas queriam ouvir é que tudo voltaria a fechar. E foi isso o que aconteceu”, diz a cientista política americana Susan MacManus, professora aposentada da Universidade do Sul da Flórida.
Saúde e economia são atualmente os temas mais quentes da campanha, seguidos pelas tensões raciais. Nos próximos três meses e meio, é impossível adivinhar o que pesará mais. Em breve, Biden deve escolher seu vice, provavelmente uma mulher. Os debates só devem começar no final de setembro. Até o dia 3 de novembro, data da eleição, ainda há muito para acontecer e determinar se o pleito deste ano será ou não um déjà-vu de 2016.
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