Casa Branca

O labirinto de Trump

Joe Biden crescendo, pandemia, resistência em nichos historicamente republicanos e insegurança econômica: para se reeleger, o atual presidente americano tem pela frente uma extensa lista de obstáculos
17.07.20

Uma caminhada por Washington, a capital dos Estados Unidos, mostra o que pode estar passando na cabeça dos americanos a dezesseis semanas das eleições. Não é incomum deparar-se com filas longas na porta das escolas públicas que distribuem refeições gratuitas. Em algumas lojas, cartazes trazem a mensagem “negócio de proprietários negros” e a sigla BLM, do movimento Black Lives Matter. Outras têm os vidros ainda estilhaçados, resquícios das manifestações contra o racismo e a violência policial. Ao redor do terminal Union Station, sem-teto se aglomeram. No bairro Georgetown, conhecido pelo agitado comércio e pelos restaurantes, os clientes são escassos. Nas calçadas desérticas, ambulantes vendem máscaras contra o coronavírus com a bandeira americana e a frase: “Torne a América segura novamente”. A mensagem, segundo a vendedora salvadorenha Areni Andrade, de 44 anos, faz referência tanto ao medo de contágio por coronavírus como à crise econômica. Faxineira em um restaurante, ela perdeu o emprego há cinco meses.

O país que começou o ano discutindo se o presidente Donald Trump poderia sofrer um impeachment mudou radicalmente o tema das discussões políticas com a pandemia. O quadro atual, dominado pela crise na saúde e na economia, em nada favorece aquele que está no comando da nação e tenta a reeleição. A última pesquisa da Universidade Quinnipiac, do dia 15 de julho, mostra o candidato democrata Joe Biden quinze pontos percentuais à frente de Trump. Até então, a vantagem de Biden estava oscilando entre 8 e 11 pontos. O democrata parece ter conquistado os independentes, aqueles que não se identificam com nenhum dos dois partidos, mas representam 40% da população. De cada dez independentes, seis acham que Biden estaria fazendo um trabalho melhor que o de Trump no combate ao coronavírus. Apenas três preferem Trump.

Nathalia WatkinsNathalia WatkinsA salvadorenha Areni Andrade e a máscara: “Torne a América segura de novo”
A preocupação com a pandemia tem levado o presidente a perder apoio entre vários grupos que votaram nele em 2016. Entre essas parcelas do eleitorado estão os idosos, que são mais vulneráveis ao vírus e gastam mais com atendimento médico. Americanos com mais de 65 anos foram fundamentais para que Trump se saísse vitorioso na disputa com Hillary Clinton nos estados de Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. Desta vez, quem está ganhando na terceira idade é Biden. Nos três estados citados, o democrata abriu mais de dez pontos percentuais de folga nessa faixa etária. Outro grupo insatisfeito com o republicano é o de mulheres brancas de classe média sem diploma universitário. A diferença a favor de Trump contra Hillary na eleição de 2016 foi de 27 pontos percentuais. A vantagem para Biden é menor: 14 pontos percentuais. Em geral, mulheres são mais atentas para a saúde do que os homens. Para aquelas com filhos pequenos, o tema é ainda mais sensível.

Até junho, Trump estava se saindo bem quando os americanos eram questionados sobre o estado da economia, o outro assunto relevante da campanha. Mais da metade dos entrevistados aprovava a maneira como o atual presidente estava lidando com a questão. O desemprego que estava no patamar histórico de 4% pulou para 14% em abril e depois caiu para 11% em junho. Em torno de 30 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial do governo. A aprovação a Trump na economia, contudo, está atrelada à expectativa de reabertura do comércio e ao retorno às atividades. Em maio, diversos estados, incluindo Texas e Flórida, anunciaram o afrouxamento das medidas de isolamento social. Como os casos de óbitos por coronavírus voltaram a crescer, governadores tiveram de dar um passo atrás. “Entre as pessoas que tinham voltado ao trabalho, havia um alívio, uma sensação de que a situação tinha melhorado. A última coisa que elas queriam ouvir é que tudo voltaria a fechar. E foi isso o que aconteceu”, diz a cientista política americana Susan MacManus, professora aposentada da Universidade do Sul da Flórida.

ReproduçãoReproduçãoAnúncio de Biden para a TV no Texas: “Fique seguro, use máscara”
Dos 50 estados americanos, mais da metade precisou interromper seus planos de reabertura. O número de casos de Covid está subindo em 47 deles. Para Trump, foi uma péssima notícia. Pesquisas têm mostrado Biden à frente nos seis estados-pêndulo, aqueles que podem preferir candidatos democratas ou republicanos, dependendo do momento. São eles Arizona, Flórida, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin. Biden está na dianteira até mesmo em redutos tradicionalmente republicanos, como o Texas. Na semana passada, a campanha do democrata começou a veicular anúncios de televisão no estado, que tem preferido candidatos republicanos nos últimos 44 anos. Na peça publicitária, Biden promete não abandonar os americanos e os aconselha a usar máscaras, a lavar as mãos e a manter o distanciamento social.

Saúde e economia são atualmente os temas mais quentes da campanha, seguidos pelas tensões raciais. Nos próximos três meses e meio, é impossível adivinhar o que pesará mais. Em breve, Biden deve escolher seu vice, provavelmente uma mulher. Os debates só devem começar no final de setembro. Até o dia 3 de novembro, data da eleição, ainda há muito para acontecer e determinar se o pleito deste ano será ou não um déjà-vu de 2016.

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