O incômodo de Galípolo com a falta de recursos no BC
"Todos eles se espantam", disse o presidente do BC brasileiro sobre reação dos pares internacionais ao saber da falta de autonomia financeira

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (foto), demonstrou incômodo com a falta de recursos do Banco Central pelo menos cinco vezes ao longo da entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira, 5, para detalhar medidas para proteger o sistema financeiro brasileiro do crime organizado.
Logo no início da entrevista, Galípolo falou em "remanejar um pouquinho os nossos recursos, que, como vocês sabem, estão escassos", quando falava sobre a antecipação de medidas já planejadas para melhorar o monitoramento de instituições financeiras.
Ao responder se medidas como a limitação de 15 mil reais para TED e Pix feitos por meio de instituições de pagamento não autorizadas serão suficientes diante da capacidade limitada de supervisionar as novas regras, o presidente do BC se lamentou de novo, comentando que a "questão de pessoas claramente é uma restrição que nós temos".
"Todos eles se espantam"
Foi quando Galípolo começou a comparar o BC brasileiro, que tem autonomia administrativa, mas não financeira, com seus pares ao redor do mundo.
"Tenho dito isso desde do primeiro momento. E acho que, hoje, existe, como tenho que agradecer inclusive o ministro [Fernando] Haddad, ontem, que manifestou publicamente o apoio à autonomia do Banco Central, e a gente tem dito isso faz algum tempo, de o quanto isto é relevante para que a gente possa operar nas condições que a maior parte dos outros bancos centrais do mundo operam. Tive uma série de reuniões na semana passada, Banco Central do México, Banco Central da Nigéria, Chile, sem contar os grandes bancos centrais, que todos operam com essa condição de ter autonomia financeira. Todos eles se espantam, geralmente, ao saber que o Banco Central produziu tudo que produziu o Banco Central do Brasil, de revolução no sistema, sem ter essas condições. Isso é muito importante", comparou.
Segundo o presidente do BC, "a gente acaba tendo um remanejamento de pessoas para forças-tarefas, como essa, o que acaba, obviamente, não permitindo que a gente consiga fazer simultaneamente as entregas que a gente gostaria de fazer, de inovação, por exemplo, junto com algumas medidas que a gente está adotando agora no cronograma, que nós gostaríamos de poder fornecer".
Galípolo lamentou que os servidores do Banco Central não possam receber adicional por trabalhar de madrugada ou em finais de semana. "Passaram finais de semanas e madrugadas todos aqui dentro do Banco Central, entendendo como é que a gente poderia responder, preservar a segurança do sistema sem comprometer o serviço para a população ou fazendo o mínimo de dano para o serviço", comentou.
PEC da Autonomia
Questionado diretamente sobre a PEC da Autonomia do BC, que tramita atualmente no Senado com a oposição do governo Lula, Galípolo disse que "todos nós, diretores, já nos pronunciamos. e não só diretores, favoravelmente".
"A gente tem uma atualização do que tem se chamado do arcabouço ilegal do Banco Central, que está representado na PEC, para que o Banco Central possa fazer duas coisas: primeiro, fazer aquilo que a gente chama de 'catching up', ou, eu fosse usar uma gíria, tirar o atraso relativamente aos pares nossos. Como eu falei, olhando para diversos bancos centrais, tinha muita dificuldade, achavam que eu estava fazendo uma brincadeira com eles quando eu dizia que eu não tinha autonomia. Eles diziam: 'Não possível ,você não tem você não pode contratar, você não pode fazer isso, você não pode?' Não posso. Então, poder fazer isso, num banco central que já entregou tanto sem ter essas condições", comentou.
Questionado sobre a iniciativa de parlamentares de tentar dar poder ao Congresso Nacional para demitir diretores do BC, feita no contexto da negativa para a compra do Banco Master pelo BRB, Galípolo disse que "o mandato dos diretores do Banco Central não é uma garantia para o diretor, é uma garantia para o país".
"Não há nenhum diretor aqui que vai enxergar algum tipo de risco ou trade-off entre fazer a coisa correta, técnica, e manter o seu emprego. Ou seja, todo mundo vai tomar a decisão correta, técnica, ainda que isso possa custar perder o seu emprego. Não é um trade-off a ser considerado", disse o presidente do BC, acrescentando que "as melhores práticas internacionais adotaram que, se a diretoria do banco central puder tomar essas decisões técnicas, tendo preservado o seu mandato. isso fica mais forte e dá um resultado melhor", acrescentou.
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