Lula e o direito a chamar Bolsonaro de genocida
Os advogados de Lula recorreram nesta semana de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o impede de chamar Bolsonaro de genocida. O candidato petista quer ter o direito a chamar o mandatário dessa forma e interpreta o termo como exercício regular de sua liberdade de expressão. Do ponto de vista jurídico, as eleições...
Os advogados de Lula recorreram nesta semana de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o impede de chamar Bolsonaro de genocida. O candidato petista quer ter o direito a chamar o mandatário dessa forma e interpreta o termo como exercício regular de sua liberdade de expressão.
Do ponto de vista jurídico, as eleições têm por princípio o direito ao discurso e ao amplo debate e, como limite, a manipulação da informação inequivocamente mentirosa. Se Lula disser, por exemplo, que o presidente é negacionista ou desumano, contará com a possibilidade de que tais adjetivações não sejam entendidas como mentiras inequívocas, incontestáveis, podendo ser utilizadas em campanha, pois são juízos de valor que dependem de certa interpretação subjetiva.
Até mesmo a expressão fascista, tão usual hoje em dia para designar o presidente, entendo possuir algum grau de subjetividade interpretativa, sendo utilizada como sinônimo de pessoa autoritária e avessa ao diálogo.
Em relação à expressão genocida, no entanto, é diferente. Genocídio é um crime. E acusar alguém de um crime não é um direito. Até que o judiciário condene Bolsonaro por genocídio, adjetivá-lo desta forma, durante uma campanha eleitoral regular, não pode ser considerado uma verdade incontestável, não sendo amparado pela liberdade de expressão.
Lula pode, em tese, chamar Bolsonaro de negacionista, desumano e até mesmo de fascista, mas não de genocida, ou não sem que o TSE interfira, como já o fez. Da mesma forma, aliás, Bolsonaro não pode imputar a Lula crimes que não cometeu, como, por exemplo, o de ter participado da morte do ex-prefeito Celso Daniel. Em ambos os casos, os candidatos passam do ponto tolerável.
Independentemente do resultado do recurso de Lula no TSE, é lamentável que o Judiciário tenha de se manifestar formalmente a respeito de um dos candidatos ter ou não o direito de chamar o outro de genocida. Lula sabe disso e se aproveita desse fato. Forçar a justiça eleitoral a discutir seu direito já é por si só uma exposição do adversário suficiente para empurrar a imagem pública de Bolsonaro ainda mais para a lama.
Para nós, eleitores, resta lamentar. Conviver com um debate em que os postulantes ao cargo de presidente da República se acusam de crimes para vencer as eleições não é exatamente o que a maioria de nós imagina como sinônimo de “festa da democracia”.
De um lado, um candidato que precisa ganhar na justiça o direito a não ser chamado de genocida. Do outro, um que busca o direito a chamá-lo. No meio deles, nós, carentes de planos e de projetos concretos para sairmos de uma crise sem precedentes que assola o mundo todo, mas que parece se instalar confortável e preguiçosamente na poltrona da sala de cada um dos brasileiros.
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Comentários (10)
Rosele Sarmento Costa
2022-08-26 07:23:19Obrigada, Marsiglia! Excelente texto! #TerceiraViaUrgente Já vimos esses dois filmes e sabemos o the END!
jorge luz
2022-08-22 09:32:08O FATO REVELA, POR SI SÓ, A MEDIOCRIDADE DOS DOIS CANDIDATOS E O DILEMA CRUEL EM QUE NOS ENCONTRAMOS, EXCETO A OCORRENCIA DE UM MILAGRE... REZEMOS ...
Carlos Renato Cardoso da Costa
2022-08-21 14:54:22Discussão deveria ser tida na justiça comum, enquadrando como injúria ou difamação, não sei qual o mais adequado, caso desejado pelo visado. Aos candidatos deve-se dar liberdade irrestrita de expressão, fora o determinado pela lei, decidido por um tribunal que não o eleitoral, que não deveria nunca modular discurso de campanha. Deixa cheiro demasiado forte de censura no ar.
Marco Antonio Bosculo Pacheco
2022-08-21 10:22:29Genocida é quem rouba dinheiro público e, com isto impede a melhoria da saúde, da educação, do bem estar da população! Isto é genocidio! Mas, no Brasil de hoje o larápio é solto por amigos porque o fôro não era o adequado, e não há julgamento no que os amigos entendem que é!
maria do socorro quirino escoda
2022-08-21 10:11:38Ótimo, entao a recíprocidade éverdadeira e tem cabimento. Um é genocida e outro ... (condenado, por corrupção e lavagem de dinheiro )é o que hein?
Alberto de Araújo
2022-08-21 10:02:55Lula e Bolsonaro são semelhantes. Ambos farsantes, populistas. Desejam o poder, custe o que custar. Quantas vezes Lula foi candidato e quantas se elegeu, ou elegeu poste? Bolsonaro tem o mesmo objetivo.Se dizem democratas, mas no íntimo de seu ser, são ditadores enrustidos.Se apresentam como enviados de deus, cheios de bondades, enganando o povo.Não há milagres. O antídoto para combater a pobreza é o desenvolvimento econômico. Sem isso, e falácia.
David
2022-08-21 09:36:48Para o candidato do TSE tudo, para os adversários, o rigor da lei inventada por eles.
KEDMA
2022-08-21 09:13:22A última frase do seu texto foi conclusiva. Muito bom André Marsiglia.
Marco
2022-08-20 23:29:52Recomendo o livro: Celso Daniel: Política, Corrução e Morte, no Coração do PT, escrito por Silvio Navarro, Editora Record, 2016. Neste livro temos a clara noção do que é o PT.
Ivan
2022-08-20 23:01:14O que ainda me anima é ler a maioria dos comentários de leitores da Crusoé. Pessoas que pensam , raciocinam e acima de tudo possuem uma bússola moral forte. Somos nós, queridos leitores, que sofrem e lutam por um país competente, inteligente mas acima de tudo ético que podemos liderar um movimento para salvarmos esta nossa terra. Se não por nós, posto que isto demanda décadas de luta, para nossos filhos e netos.