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‘Há um genocídio em andamento na China’, diz representante da etnia uigur

18.07.20 18:09

A chinesa Rushan Abbas (foto), de 53 anos, pertence à etnia uigur e professa a religião muçulmana. Em Xinjiang, onde nasceu, ela começou a participar de protestos pela democracia ainda nos anos 1980. Depois de viajar para os Estados Unidos, ela começou a lutar pelos direitos de seu povo e fundou a ONG Campanha pelos Uigures. Em setembro de 2018, já com cidadania americana, deu uma palestra em Washington sobre as atrocidades cometidas na China. Seis dias depois, sua irmã e sua tia foram raptadas. A irmã continua desaparecida.

Em entrevista a Crusoé por telefone, Rushan falou sobre o caso de sua irmã e sobre os campos de concentração construídos na região autônoma de Xinjiang pelo Partido Comunista. Também discorreu sobre a importância das sanções que o governo americano está impondo a membros do governo chinês.

Como foi que o governo chinês sequestrou sua irmã?
Minha irmã é uma médica que acabou se aposentando mais cedo por questões de saúde. Sempre foi uma pessoa calma e nunca se meteu em política. Em um dia de setembro de 2018, ela e minha tia, que mora a 1400 quilômetros de distância da minha irmã, foram raptadas pela ditadura. Elas foram levadas seis dias após eu dar uma palestra em Washington sobre os direitos humanos dos uigures. Não é mera coincidência. Elas foram sequestradas como uma represália ao meu ativismo nos Estados Unidos. Minha tia foi liberada alguns meses mais tarde, mas eu nunca mais tive notícias da minha irmã.

Onde ela pode estar agora?
Minha suspeita é a de que ela esteja em um desses campos de concentração, porque ela não cometeu nenhum crime e não foi acusada de nada.

O Partido Comunista diz que esses campos são para reeducação vocacional. Faz sentido?
Minha irmã é uma médica experiente. Ela não precisa de nenhum treinamento profissional. Além dela, há professores acadêmicos, cientistas, atrizes e atores famosos, médicos e executivos nesses campos. Nenhum deles precisa de ajuda profissional do governo.

O que acontece lá dentro?
De acordo com algumas pessoas que passaram por esses campos, os detentos passam por uma doutrinação intensiva com propaganda do Partido Comunista. Depois, são forçados a renunciar à religião muçulmana. Também são submetidos a tortura mental e física. Sem água e sem comida, eles ficam desidratados e perdem muitos quilos. Também são obrigados a viver em quartos lotados. Ficam o tempo todo cercados por arame farpado e são vigiados por guardas em torres de controle. É claro que não estamos falando de um lugar de reeducação profissional. Isso é uma mentira.

Quais são os critérios usados para prender pessoas?
O principal deles é se as pessoas viajaram alguma vez para um país de maioria muçulmana, como Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes ou Catar. Outro critério é se os indivíduos praticam algum ato religioso. Mesmo atividades simples como rezar, fazer jejum, não comer carne de porco ou não tomar bebidas alcoólicas pode comprometer alguém. Todas essas coisas são consideradas atividades ilegais. A China praticamente proibiu toda a religião muçulmana. É uma guerra contra a minha religião e contra a minha etnia.

O que acontece com aqueles que não aceitam essa situação? 
Eles podem ter de enfrentar a morte. Segundo a Convenção de Genebra, há cinco condições que podem identificar um genocídio. Basta que uma delas seja satisfeita para que se possa usar o termo. Os campos de uigures atendem aos cinco requisitos. Eles estão matando membros do nosso grupo. Crematórios foram construídos ao lado dos campos de concentração. Querem erradicar a identidade étnica. Há um genocídio em andamento na China.

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