Marcos Corrêa/PR

Declarações de Bolsonaro provocam desconforto e militares reagem

13.11.20 19:41

As declarações mais recentes do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo a quase-declaração de guerra aos Estados Unidos, geraram mal-estar na caserna. O clima ruim motivou o comandante do Exército, general Edson Pujol, a sair a campo na quinta-feira, 12, para tentar descolar a política dos quartéis. Nesta sexta-feira, 13, Pujol adotou o mesmo tom do dia anterior ao comentar sobre o papel do Exército durante um seminário de Defesa Nacional.

“Não somos instituição de governo, não temos partido, nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências em determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da nação. Elas são instituições de Estado, permanentes. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões”, afirmou.

As declarações do comandante do Exército foram endossadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que já havia dito mais cedo que, pessoalmente, reconhecia a vitória de Joe Biden à presidência dos EUA, ao contrário do que tem defendido Jair Bolsonaro, partidário desde sempre das teses de Donald Trump — o atual presidente dos EUA contesta a apuração dos votos e o resultado da eleição em favor do democrata.

A manifestação de Mourão não repercutiu nada bem no Palácio do Planalto. A avaliação de pessoas próximas a Jair Bolsonaro é de que fica difícil dissociar a imagem pessoal do vice-presidente das posições do governo. No entanto, um interlocutor do presidente tentou colocar panos quentes ao afirmar que Mourão foi “muito prudente” ao se manifestar como pessoa física. Esse mesmo auxiliar reconhece, porém, que Bolsonaro se excedeu no discurso da última terça-feira, quando praticamente declarou guerra aos Estados Unidos. Não foi o único. No meio militar houve reações à postura de Bolsonaro, para além das reparações feitas por Pujol. 

O general da reserva Paulo Chagas, que concorreu ao governo do DF e fez campanha para Bolsonaro, se dirigiu às redes sociais para criticar o ex-aliado. “Há muito deixei de dar atenção a pronunciamentos de fanfarrões, às suas ameaças absurdas e à exposição do seu despreparo e falta de maturidade”, escreveu, sem citar nomes.

A Crusoé, Paulo Chagas garantiu que esse é o entendimento da maioria dos colegas de caserna. “Muitos concordam com a minha tese, ainda que alguns achem inoportuno que eu fale dessa maneira. Mas preciso dar uma resposta à minha consciência. Quem deu o cargo de presidente a ele foi a sociedade. Não é para ele usar isso para fazer o que bem entende. O cargo é de presidente de todos os brasileiros, não apenas dos radicais que ficam ali aplaudindo”, explica o general.

“Agora, ele vem falar em pólvora? Não tem cabimento. Quem declara guerra é o Congresso. E vamos declarar aos Estados Unidos? Isso não passa de um show de populismo e de fanfarronice. O presidente da República tem que medir as consequências de seus atos, sobretudo quando afeta as relações internacionais. Essa declaração pode trazer consequências econômicas e também serve para difamar a direita liberal”, justifica o general Paulo Chagas.

O militar defende o vice-presidente, que, para ele, tem sido deliberadamente isolado. “O Mourão é muito mais preparado do que ele. Tem muito mais traquejo e conhecimento do que ele, era muito mais lógico formar uma dupla com Mourão, deixá-lo participar, do que isolá-lo, dizer publicamente que nem fala com o subcomandante. É um desrespeito com o vice-presidente”, acrescenta.

Na visão de Lucas Rezende, professor de Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Catarina, especializado no estudo das Forças Armadas, as falas de Edson Pujol refletem o descontentamento. “Ele tem um posicionamento claramente mais moderado dentro das Forças Armadas. Então ele está querendo manter um distanciamento e demonstrar que parte das FFAA se incomoda com a adesão que uma ala aparentemente majoritária das Forças teve ao governo de Jair Bolsonaro”, analisa o acadêmico. 

“Ele não quer a política nos quartéis, mas tem quase seis mil militares que ocupam cargos no governo, então a política já faz parte dos quartéis.  A declaração dele vem no sentido de condenar essa partidarização das Forças Armadas”, acrescenta Rezende. “Ele diz que as Forças Armadas não seriam suficientes para garantir a soberania do Brasil. Mas então como é que você tira seis mil militares de suas funções? Isso quer dizer que esses militares não deveriam estar atuando na política”. 

As falas de Pujol não significam necessariamente que ele está querendo se afastar do governo, entende o cientista político Jorge Zaverucha, professor da Universidade Federal de Pernambuco. “Ele está vendo uma briga entre Mourão e Bolsonaro, entre o presidente e generais da reserva, e ele não quer se meter. A instituição militar está acima de tudo, ele não quer que essa briga política seja levada para dentro da caserna”, diz o especialista.

“General da reserva não move tanques. Quem dá apoio ao governo é a instituição, as Forças Armadas. Eu acho que essa declaração do Pujol foi pra dizer ‘olha, nós estamos fora disso aqui. Briguem aí fora, não metam a instituição nessa briga de vocês’. A situação das Forças Armadas com Bolsonaro é muito confortável. Bolsonaro deu tudo que as Forças quiseram. Aumentou salário, resolveu a questão da previdência militar, aumentou os orçamentos, colocou seis mil militares no governo”, enumera Zaverucha. 

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  1. NÓS BRASILEIROS DE BEM, NÃO SUPORTAMOS MAIS ESSE CAPITÃOCLOROQUINA, QUE SÓ NOS CAUSA VERGONHA. DECEPÇÃO PARA AS FORÇAS ARMADAS, DECEPÇÃO PERANTE AS DEMAIS NAÇÕES. GENERAL MOURÃO, ASSUMA DE VEZ O COMANDO, POIS CONFIAMOS NA VOSSA CAPACIDADE. FORA BOLSONARO.

  2. Dinheirão jogado fora com esses militares de merda que sempre serviram para oprimir seu próprio povo que não aguenta nem meia hora de guerra com a finada combalida Venezuela!

  3. O ex-capitão (que não está honrando o posto que ainda detém na reserva) cometeu estelionato eleitoral, iludindo aqueles que queriam acabar com as trapalhadas do PT. Não tem a mínima condição moral de ser Presidente da República. 2022 vem aí.

  4. A credibilidade dos militares está em baixa por causa do presidente genocida. Primeiro, eles não conseguiram frear o desmatamento ilegal na fogo na Amazônia. Segundo, apesar do enorme custo de manter tropas na fronteira, nunca as atividades ilícitas no norte do país estiveram tão altas. Terceiro, milhares de militares da ativa no governo estão demonstrando que eles são incompententes para gerenciar as coisas públicas. Em resumo: os militares de hoje serão os lulistas de amanhã!

    1. MUITOS SE VENDERAM. SÃO MAIS DE SEIS MIL DELES NO GOVERNO. ESTAO SIM SENDO HUMILHADOS PELO BOZOBOSTA. MAIS O QUE CONTA É O EXTRA MUITO BOM QUE ELES GANHAM. ESTÃO OMDE ESTÃO SIMPLESMENTE POR DINHEITO.

  5. Quem votou em Bolsonaro para evitar que o PT levasse o Brasil no mesmo rumo da Venezuela deve estar amargamente arrependido agora...eu me incluo nessa...

  6. Cada macaco no seu galho !!! Militares no cumprimento de suas atribuições constitucionais na defesa do ESTADO , das instituições. NÃO É GOVERNO , NÃO SE ENVOLVE NA POLÍTICA PARTIDÁRIA. PONTO. TAOKEY ???

  7. Imagine se as NOSSAS NOVAS FORÇAS ARMADAS seguiriam cegamente a caixa craniana vazia de um """"presidente"" demente"""", como fizeram os acéfalos militares alemães, seguindo cegamente o genocida sociopata-psicopata hitler!!! As NOSSAS FORÇAS ARMADAS cuidarão da nação - que os financia - entretanto como prioritária missão, e não como manípulos de um mero desgovernante ""doidão"" e mentalmente doente!!!!

  8. Os militares se venderam rmbtroca de benesses.Eles não teem vergonha de participar de um governo corrupto? Bolsonaro se vendeu para o Centrão para livar-se e aos filhos da justiça. Um governo desgovernado

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