Barroso: Moro foi 'altivo e corajoso'
Para o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, Sergio Moro foi "altivo e corajoso" na decisão de pedir demissão do governo. Um dos maiores defensores da Lava Jato na corte, Barroso evitou, porém, tecer mais comentários sobre as razões que levaram o ex-juiz a entregar o cargo nem sobre os desdobramentos do discurso...
Para o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, Sergio Moro foi "altivo e corajoso" na decisão de pedir demissão do governo. Um dos maiores defensores da Lava Jato na corte, Barroso evitou, porém, tecer mais comentários sobre as razões que levaram o ex-juiz a entregar o cargo nem sobre os desdobramentos do discurso que ele anunciou a decisão.
Na manhã desta sexta-feira, durante "live" organizada pela XP Investimentos, Barroso chegou a ser indagado sobre a possível saída de Moro, que ainda não havia sido confirmada oficialmente. Ele disse o seguinte:
“O juiz Sérgio Moro representou a face, digamos assim, da Lava Jato. E a Operação Lava Jato, eu acho que ela transcendeu o fato de ser uma operação policial-judicial e passou a ser um símbolo, passou a ocupar um espaço no imaginário social brasileiro, que é a superação de uma velha ordem em que era legítima a apropriação privada do Estado e o desvio de dinheiros públicos. A Lava jato significou uma mudança de paradigma e mobilizou uma sociedade que deixou de aceitar o inaceitável. A corrupção era a moeda corrente, era o modo como se jogava o jogo, em todo contrato administrativo relevante alguém levava uma vantagem indevida, em todo empréstimo relevante havia um pedágio, em toda obra pública, em todo serviço. Era uma cultura de desvio de dinheiro que nos atrasou na história."
O ministro, que assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral em maio, disse que Moro é símbolo de um processo histórico experimentado pelo país. E apontou para a possibilidade de um "certo arrefecimento" do combate à corrupção com a saída do ex-juiz. "A Lava Jato e a luta contra a corrupção simbolizaram uma sociedade que deixou de aceitar o inaceitável. E há pessoas que gostam mais e há pessoas que gostam menos do ministro Sergio Moro, mas o fato é que ele é o símbolo deste processo histórico. E, portanto, eu acho que sua eventual saída revela, como fatos já vinham revelando, um certo arrefecimento desse esforço de transformação do Brasil."
"A verdade, no entanto, é que eu acho que o Brasil já mudou. Mesmo com decisões do Supremo que eu discordo profundamente, que eu acho que nos retardaram um pouco nesse processo, a sociedade já não aceita mais, já não é mais tão fácil acontecer de novo o que aconteceu na Petrobras. Já não é tão fácil acontecer de novo o que aconteceu no Rio de Janeiro. Já não é mais tão fácil agentes públicos nos mais altos cargos venderem atos normativos. Já não é mais fácil acontecer de novo o que aconteceu nos fundos de pensão", prosseguiu.
Barroso disse esperar que, apesar da saída de Moro do governo, o país siga avançando. "Eu sou contra insulto, sou contra agressão, mas hoje em dia está cada vez mais difícil um vigarista sair na rua e andar em paz. Nós acabamos um pouco com o fetiche do corrupto rico que circulava na sociedade como se fosse uma pessoa de bem e normal. E acho que isso era imprescindível. Não há como o Brasil se tornar verdadeiramente desenvolvido com os padrões de ética pública e de ética privada que nós praticávamos aqui. De modo que qualquer coisa que enfraqueça esse processo histórico acharei ruim, mas acho a história seguirá seu curso independente de A ou de B.”
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