Vem aí o Embraer anti-Boeing?
Embraer pode estar avaliando jatos maiores para encarar Boeing e Airbus, mas pesa custos e riscos na disputa do segmento mais acirrado da aviação comercial
Já faz alguns anos que se especula que a Embraer estaria considerando desenvolver um avião ainda maior que sua linha E2, que transporta até 146 passageiros.
Essa movimentação em direção à criação de um jato maior ganhou força nos últimos meses, mas expõe um dilema estratégico que deve marcar o futuro da empresa.
A ideia de avançar para um avião que dispute espaço com os modelos mais leves de Airbus e Boeing surge em meio a um cenário de renovação de frotas, custos altos e competição acirrada por eficiência.
A fabricante brasileira enxerga oportunidade, mas ainda parece distante de uma decisão definitiva, pois sabe que qualquer passo nessa direção exige investimento pesado e um cálculo fino de risco e retorno.
A demanda por aeronaves de corredor único com mais de 150 assentos segue grande, impulsionada pela busca das companhias aéreas por consumo menor de combustível e mais flexibilidade operacional.
A Embraer avalia se vale a pena encarar de frente gigantes que dominam o segmento, ao mesmo tempo em que administra projetos internos que também disputam recursos e capacidade de engenharia.
A empresa não tem os mesmos recursos financeiros de Boeing e Airbus e não tomará atalhos, só avançando quando tiver clareza sobre custos, escala e competitividade, um mantra que tenta protegê-la de apostas precipitadas.
Seus concorrentes seriam o cada vez mais envelhecido Boeing 737, lançado em 1965 e atualizado desde então, na atual versão Max, mas cuja percepção crescente é de que seu ciclo está sendo esticado e a linha Airbus 320, laçada nos anos 80 e que segue muito eficiente na atual versão Neo.
Um jato novo desse segmento seria um enorme passo para a Embraer, não bastando apenas "espichar" sua atual linha E2. Seria uma aeronave com interior mais largo, provavelmente na configuração 3+3 como seus concorrentes (o E2 é 2+2), portanto um projeto completamente novo, do zero.
Isso traz custos muito grandes e exige grandes recursos de engenharia para conseguir oferecer um produto mais barato, mais econômico de operar e de manter no segmento que já é o mais disputado da aviação e já antecipando que os concorrentes também reagirão nessa disputa de longo prazo.
Vamos lembrar que a canadense Bombardier tentou dar um passo parecido poucos anos atrás, com sua linha CSeries mirando justamente subir um degrau no tamanho de seus aviões e concorrer com a linha E-Jet/E2 da Embraer e quase faliu, vendo-se obrigada a engolir um prejuízo bilionário e vender seu ambicioso projeto para a rival Airbus, que o rebatizou de A220.
Essa hesitação da empresa brasileira, portanto, não é fraqueza. Mostra apenas que o salto para um avião maior envolve muito cálculo de custos e risco. Exige parcerias sólidas, fornecedores confiáveis (muitas vezes os mesmos dos concorrentes, o que poderia gerar gargalos) e a garantia de que o mercado absorverá um produto novo em um ambiente onde contratos costumam se estender por décadas.
A Embraer também observa mudanças no comportamento das companhias aéreas, que hoje se mostram mais cautelosas com encomendas e buscam flexibilidade para ajustar frotas a ciclos econômicos cada vez mais instáveis.
O debate dentro dos escritórios da companhia tende a se prolongar, pois a pressão por crescimento contrasta com a responsabilidade de não comprometer sua saúde financeira.
Enquanto isso, especialistas entendem que a simples possibilidade de um jato maior já reposiciona a Embraer no mapa das grandes decisões do setor e aumenta sua relevância nas discussões sobre o futuro da aviação comercial.
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