Janela utópica
Todo torcedor começa a temporada como se vivesse na Utopia descrita por Thomas More — mas não se joga bola por lá
Todo torcedor começa a temporada como se vivesse na Utopia descrita por Thomas More. É na janela de transferências que a emoção recomeça.
Na sociedade perfeita descrita pelo britânico, o dinheiro é desnecessário e os prisioneiros de guerra só viram escravos se tiverem cometido crimes — a escravidão é o único pecado desse seminal paraíso comunista woke do século 16.
No time perfeito idealizado pelo torcedor, Gabigol (foto), Dudu, Bolasie e Fágner formarão uma seleção imbatível no Cruzeiro de Fernando Diniz.
Seleção?
Quem sou eu para dizer que vai dar errado? O futebol é um esporte completamente maluco e tudo pode acontecer. Mas…
Diniz quase terminou a temporada passada demitido do Cruzeiro. Dudu não encontrou lugar para jogar no Palmeiras de Abel Ferreira depois de voltar de contusão.
Gabigol acordou tarde demais no Flamengo, a tempo de marcar gol que garantiu título, mas não de assegurar a sequência no clube.
E Fágner, que reinou por anos na lateral direita do Corinthians, era reserva de Matheuzinho.
O ápice
O torcedor cruzeirense fica chateado quando ouve tudo isso e culpa a "mídia do eixo” São Paulo-Rio de Janeiro, que estaria agourando a formação da seleção sob a batuta e o dinheiro do presidente Pedrinho.
E o cruzeirense tem de aproveitar o momento mesmo. Este pode ser o ápice do Cruzeiro na temporada, assim como o da maioria dos clubes.
Ainda sob o efeito anestesiante dos títulos, um deles inédito, o Botafogo se desmonta para que John Textor possa remontar o Lyon, na França, e circula o rumor de que os jogadores podem não se reapresentar por falta de pagamentos.
Esperanças
O Palmeiras abriu os cofres para tirar Paulinho do Atlético-MG, mas em recuperação de cirurgia até abril, e tenta a ousadia de trazer um jogador com menos de 30 anos direto da Europa — Andreas Pereira joga na bilionária Premier League, pelo Fulham.
O São Paulo repatriou o renegado Oscar, que deixou o clube de forma tumultuada no início da carreira e cujo futebol, após oito anos de protagonismo na China, é uma incógnita.
O Corinthians e o Flamengo já tinham contratado tanta gente e terminaram tão bem a temporada passada que suas torcidas nem cobram novidades.
Já o Santos corre para nunca mais voltar para a Segunda Divisão.
A realidade começará a se impor nos campeonatos estaduais, como de costume.
Alguns perceberão mais cedo, outros cairão na real apenas ao fim de mais uma temporada sem títulos, mas restará à maioria das torcidas constatar que não se joga bola em Utopia — pelo menos não na descrita no livro de More.
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Comentários (1)
Clayton De Souza pontes
2025-01-10 07:49:46Espero que os torcedores do Botafogo tenham comemorado bastante o feito do ano passado. Novas oportunidades poderão demorar