Corina, a melhor representação da luta pela liberdade
“Ao invés de ficar chorando, eu indiquei outro candidato”. Esse foi o recado dado por Lula a María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, após ter a sua candidatura à Presidência da República barrada pelo Supremo Tribunal de Justiça do país. O presidente fez um paralelo infeliz, comparando a decisão do Supremo Tribunal venezuelano com a decisão do TSE, em 2018, pela impossibilidade de sua candidatura – condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.
María Corina não deixou barato e respondeu Lula à altura: “Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram por mim nas primárias e os milhões que têm direito de votar em eleições presidenciais livres nas quais derrotarei o Maduro”. É claro que cabe uma reflexão não só sobre o contexto dessa troca de farpas e o histórico da Venezuela, mas também sobre quem é a mulher que, atualmente, se consolida como a mais importante representação da luta pela liberdade na ditadura venezuelana.
Historicamente, países marcados por incontáveis ditaduras e golpes de Estado tendem a ter dificuldades de se libertar de fracassos econômicos e políticos, especialmente quando há poder, populismo e fraudes eleitorais envolvidos. O caso da Venezuela não foge disso. A história do país é marcada por ditaduras e golpes desde o século XIX e ao longo do século XX, no qual surgiu a figura de Hugo Chávez, em uma tentativa fracassada de golpe militar no governo do então presidente Carlos Andrés Perez, em 1992.
Apesar de fracassada, essa tentativa foi a responsável por consolidar Chávez como um líder popular e carismático que prometia combater a corrupção, reduzir a desigualdade social e a pobreza e enfrentar o domínio político das elites tradicionais na Venezuela – clássica estratégia retórica que leva à ascensão de um líder popular e sua consequente vitória nas urnas. O contexto era favorável, já que Perez havia sofrido impeachment por corrupção alguns anos antes da primeira vitória eleitoral de Chávez, eleito presidente em 1998.
Hugo Chávez governou a Venezuela de 1999 até a sua morte em 2013 e consolidou-se como uma forte figura política na história do país. Assim, surgiu o chavismo, ideologia marcada pelas características do governo de Chávez. Esse governo foi caracterizado por uma abordagem centralizadora, populista e, principalmente, socialista. Em discurso no Fórum Social Mundial de 2005, Chávez chamou o seu projeto de “Socialismo do Século XXI”, marcado pela nacionalização de setores estratégicos da economia, políticas de reforma agrária, implementação de programas sociais etc. Com a sua morte, Maduro, então vice-presidente, toma a frente da Venezuela, enfrentando uma economia destruída, com escassez de produtos básicos e inflação altíssima que se arrasta até hoje.
María Corina surge em meio à ditadura de Maduro, com denúncias de supressão de liberdades. Opositores políticos ao governo enfrentam perseguição, intimidação e detenção arbitrária. A Organização das Nações Unidas (ONU) reúne relatórios com centenas de casos de tortura e prisões políticas. Em meio a essa conjuntura, María Corina, que foi deputada na Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014, venceu as primárias da oposição em outubro de 2023 com mais de 90% dos votos.
O destino já traçava o caminho de Corina na defesa do liberalismo, já que, ainda no governo de Chávez, seu pai – empresário do setor metalúrgico – teve suas empresas expropriadas. Daí surgiu uma mulher defensora de ideias liberais. Como deputada, sua atuação foi marcada por uma postura firme e combativa em defesa da democracia, dos direitos humanos e das liberdades individuais na Venezuela. Corina também defendia políticas econômicas opostas às implementadas por Maduro, como a promoção do livre mercado e do empreendedorismo como caminhos para o desenvolvimento econômico do país.
A recente proibição de ocupar cargos públicos pelo Supremo Tribunal de Justiça do país não foi o primeiro ato de perseguição sofrido por Corina. Sua trajetória como ativista e oposição ao governo de Maduro a colocam como verdadeira ameaça ao chavismo. Em 2014, liderou um movimento de protesto contra Maduro, o que a fez perder a sua cadeira na Assembleia por acusação de conspiração golpista.
A persistência e a resistência de uma mulher lutando pela liberdade em seu país é o que move a esperança dos 90% de votos conquistados por Corina no ano passado. A ascensão de uma mulher liberal como líder da oposição a uma ditadura é a melhor representação da luta pela liberdade individual e econômica na América Latina. E essa luta está longe de acabar.
Letícia Barros é advogada, empreendedora e vice-presidente do LOLA Brasil.
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Parabéns María Corina.
Para o ridículo feminiCInismo do patropi a Corina é um macho alfa ... haja testosterona.
Ela que deveria ser apoiada por Lulaa e o PSEUDO ministro relações exteriores,e não o dita dor psicopata maduro