'Está na hora de contar como muitos venceram o preconceito'
A historiadora Mary del Priore lamenta a pobreza da visão oficial sobre o Bicentenário da Independência e diz que é mais do que urgente uma pesquisa sobre mobilidade social de afrobrasileiros e afromestiços no período imperial
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A historiadora carioca Mary del Priore cumpriu um percurso notável em universidades brasileiras e estrangeiras, como professora e pesquisadora. Há cerca de duas décadas, passou a se dedicar ao trabalho de divulgação histórica, aproximando os leitores de personagens e momentos cruciais do passado brasileiro. Vários de seus livros alcançaram um público amplo. Entre eles, histórias das mulheres, da infância e da violência no Brasil. Mary não é uma especialista na história política da Independência, que completa seu bicentenário em 2022, mas mergulhou no período por um ângulo peculiar: a vida íntima da família imperial. Além de um livro sobre a imperatriz Leopoldina, o imperador D. Pedro I e sua amante Domitila, a Marquesa de Santos, ela acaba de lançar uma narrativa sobre os anos em que a inglesa Maria Graham viveu no Brasil, conviveu com a imperatriz e testemunhou sua solidão. Sobre este período que antecede a data do bicentenário, a historiadora destaca a pobreza da abordagem oficial, que recicla clichês já desmentidos sobre o Grito do Ipiranga ("A Independência do Brasil foi conquistada com um brado. Nossa liberdade, anunciada com uma exclamação", diz o site produzido pelo governo) e a profusão de informações que têm vindo à tona em novos estudos e permitem falar em "Independências", no plural. A tarefa que ela considera urgente para os historiadores brasileiros é complementar a história da escravidão com uma história da mobilidade social, que levou homens e mulheres negros ou mestiços a assumir papéis de protagonismo ainda nos períodos da Colônia e do Império. "Desde D. João VI, temos uma Corte 'mulata'", diz Mary, que abordou o tema em À Procura Deles (Benvirá), livro lançado em 2021. Ela lamenta, ainda, que duzentos anos não tenham bastado para fazer avançar a cidadania no Brasil.
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Comentários (10)
Rodrigo Salles Batista
2022-06-01 16:44:04Faltou concluir o artigo. O preconceito e a desigualdade só podem ser vencidos com estudo e competência daqueles que sofrem preconceito. É o que nenhum ativista jamais pregou.
Ana
2022-06-01 10:33:12👏👏👏👏👏👏👏👏👏 Parabéns 👏👏👏👏👏👏👏👏
Carlos Renato Cardoso da Costa
2022-05-31 05:46:14Muito interessante. Passarei a estar mais atento as suas publicações
Maria do Carmo
2022-05-30 09:45:43Parabéns pela entrevista. Sou leitora assídua de Mary Del Priore e encontro em seus livros informações para tentar entender esse país cheio de contradições em que vivemos. Precisamos resgatar nossa história, sob todos os ângulos, mesmo que não se encaixe nos conceitos que querem nos impor. Precisão cirúrgica para definir o nosso país, guardando, obviamente, o respeito aos répteis que não merecem ser comparados aos seres abjetos de Brasília.
Magda
2022-05-29 17:01:35Laurentino Gomes tb escreveu 2 livros de história muito interessantes: 1808 e 1822. No último dá a entender que D. Pedro I matou a imperatriz, homicídio culposo.
Maria
2022-05-29 12:56:59Que leitura maravilhosa! Parabéns por nos trazer Mary Del Priori ! Brilhante historiadora.
Celio
2022-05-29 10:41:51Excelente matéria! Uma abordagem necessária para nos entendermos melhor.
Carla
2022-05-29 08:31:15Ótima entrevista! 👏👏👏👏
Delei
2022-05-29 05:01:37Entrevista interessante que reforça que a história é um processo e deve sempre ser revisto.
JULIANA
2022-05-28 09:39:40Uma das 3 saudades q tenho da minha vida escolar, é da aula de História! Fiz meu ensino médio numa escola q era mantida por um jornal. Eu ñ gostava da escola, mas amava as aulas de História! Esperava c ansiedade pq elas, eram, invariavelmente, excelentes (na minha cabeça de qm saiu de uma escola pública ruim). Ñ sei se é por isso, mas gosto de História e gosto (muito) de historiadores! Então, só posso dizer q, sou suspeita p falar, mas gostei (muito) da entrevista! Obrigada Graieb e Mary!🙂🤗