CarlosGraieb

Para que serve a oposição

11.11.22

Lula chorou nesta quinta-feira, 10, ao dizer que julgará sua missão cumprida se todos os brasileiros puderem comer todos os dias as três refeições. É salutar que um governante mostre empatia com quem sofre e passa fome – nem todos são assim, nós sabemos disso.

No mesmo discurso, Lula vituperou contra quem lhe pede um compromisso com a responsabilidade fiscal.  Nesse ponto, ele foi infame. Por meio da PEC da Transição, o  sujeito está prestes a receber licença para gastar uns 200 bilhões de reais que não existem nos cofres públicos. Ninguém, nem sequer “o mercado”, está encrencando com isso. Todo mundo – inclusive o governo Bolsonaro – sabe que os pobres, a classe C e até mesmo a classe média-média estão há um bom tempo vivendo no aperto, da mão para a boca, e é justo que recebam uma assistência mensal de R$ 600 ou um salário mínimo reajustado. O que se pede em contrapartida do presidente eleito são sinais: um nome para o ministério da Fazenda; a definição de uma regra para substituir o teto de gastos. Mas Lula fica ofendido diante desses pedidos. Responde às patadas.

Isso já está afastando de seu governo pessoas que, sem serem petistas, lhe deram apoio na campanha eleitoral. Henrique Meirelles disse que Lula “dilmou”. Armínio Fraga lembrou que é asneira tratar a responsabilidade fiscal como coisa de gente malvada, inimiga do bem estar social, porque são os mais pobres que pagam a conta quando ela, inexoravelmente, é cobrada.

Esse padrão é conhecido. Mais uma vez, e apesar de toda a conversa sobre frente ampla, cabe à direita moderada fazer o papel de chata – o papel de oposição.

Ué, mas e aqueles parlamentares todos que se elegeram tremulando as bandeiras do bolsonarismo? Não são eles “a nova oposição”? Acredito que é preciso encontrar uma outra palavra para defini-los.

Pense na carreira parlamentar de Bolsonaro. Ele jamais participou de uma comissão na Câmara dos deputados, jamais tentou dar pitaco nos assuntos complicados da administração pública – aqueles que requerem fazer contas e estudar leis e regulamentos. Passou quase três décadas vociferando sobre outros assuntos, sobretudo a tal “pauta de costumes”. Não se pode dizer que tenha feito oposição a qualquer um dos presidentes que o antecederam, pois suas palavras foram irrelevantes na construção das feições sociais e econômicas do Brasil de hoje. O que não significa que ele tenha deixado de criar um espaço político próprio.

Como aquele personagem da Bíblia, Bolsonaro agora pode dizer: “Meu nome é Legião, pois somos muitos”. E vejam só: nestes momentos iniciais da transição, parece que as multidões bolsonaristas nas ruas e no Congresso se comportam exatamente como o “mito” quando era deputado. Têm os olhos fixos em um mundo alternativo, onde o resultado das urnas é revertido, as portas do STF são trancadas e milícias armadas vão para as ruas de mãos dadas com os militares, à caça dos milhões de comunistas, pedófilos e outros pervertidos morais que vivem escondidos por aí. Ao mesmo tempo, permanecem alheios às políticas que estão sendo desenhadas e começarão a ter impacto no ano que vem.

Mesmo que um grupo político tenha ideias muito fortes sobre o mundo – e ninguém vai negar isso à nossa direita exaltada – ele só se transforma em oposição quando também se dedicar à tarefa trabalhosa de esmiuçar as propostas de um governo eleito, uma a uma, destacar seus pontos fracos e, de vez em quando, apresentar alternativas factíveis. As eleições são um épico que entra em cartaz de quatro em quatro anos. Nos intervalos, vai ao ar uma longa trama realista em que é preciso manter as portas da lojinha abertas e atender os fregueses (todos nós). Nessa trama, é a solução de problemas concretos que preenche o tempo de protagonistas e antagonistas. Ou deveria preencher.

Desenha-se neste momento uma situação em que a direita exaltada se organiza para fazer barulho e se apresentar como “oposição” em 2026, enquanto moderados cumprem a tarefa aborrecida de fiscalizar o governo em sua gestão cotidiana. A pergunta de um trilhão de dólares é como fazer com que os  moderados, sem abandonar essa missão indispensável, também pareçam “sexies” aos eleitores na próxima ida às urnas. Quem tiver a resposta, passe no guichê.

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  1. De nada adianta com este sistema institucional mafioso estabelecido na CF88. Solução seria parlamentarismo, como nas melhores e mais prósperas democracias. A responsabilidade formal do parlamento sobre o executivo é fundamental e evita corrupção e negociatas, pois é o próprio parlamento que indica e apoia o rpimeiro ministro que pod ser destituído a qq hora. Presidencialismo é ditadura escolhida a cada 4 anos. Sem liberdade de escolha: não há candidaturas independentes de máfias partidárias.

  2. Carlo Graieb não tem o perfil para "O Antagonista" . Sugiro transferi-lo para um novo órgão de imprensa : "O Chapa Branca" .

  3. O mais preocupante é a volta da matriz econômica que o PT elaborou durante o seu reinado e que se mostrou danosa ao país quando a conta do dinheiro público gasto a esmo chegou. Quem paga essa conta são os pobres, os mesmos que acham que o Lula é o Getúlio Vargas pós moderno. Oremos

  4. O choro do lulla é teatro, é chantagem para que os deputados não lhe neguem a aprovação da PEC. 200 bilhões é o que conta.

  5. No Brasil nada mudou. A oposição bolsonarista (se vier a existir, já que dependem do Valdemar) atuará como quando era situação: fazendo barulho aqui e ali com o objetivo de viralizar algo para sua plateia amacacada. Nenhum produziu nada. Do PT também espero o mesmo de sempre: cativação de um eleitorado pobre, que escravizará, e amordaçamento do legislativo na base da propina

  6. O tal lula é o suprassumo da dissimulação. Ele e sua rafaméia já estão salivando para meter a mão no dinheiro público. É só uma questão de tempo. Se ele não conseguir comprar uma oposição que se comporte minimamente como séria, vai ter dificuldades de governar.

  7. Em 14 anos de governo do PT, ele não conseguiu terminar com a miséria e agora chora? Lágrimas de Jararaca como ele bem se auto denominou quando “ousaram” colocar o L de Ladrão na cadeia!!!

    1. Não adianta. Somos uma nação de cegos, onde quem tem uma vista é rei. Lula tem as duas😱😱😱.

    2. Perfeito, Mary. Exatamente o mesmo discurso de 2002. Passaram-se 20 anos, dos quais 14 deles (70%) sob a pata do PT, e o mesmo discurso?? Algo está muito, muito errado. Se aprendemos com a História, o que nos garante que a alma mais honesta do Brasil e o PT vão mudar o Brasil? Eu mesmo respondo: nada, porque não se pode pedir a um escorpião que ele fique bonzinho, que não ferroe ninguém mais. Alguém acredita mesmo que Lula perdeu o apetite por 💰 público? Respondo de novo: 60.345.999 de patetas.

  8. No final não se distinguirá de longe quem são os homens, quem são os porcos. parecerá que todos possuem duas patas, Afinal se quatro patas é bom, duas patas é melhor...

    1. correto. O bom português é um bálsamo para os ouvidos.

  9. Neste país puteiro infelizmente grande parte da oposição serve unicamente para se vender como fizeram a Sarney, Fernando Henrique que comprou a reeleição câncer da nação, Lula e Dilma e que como não seriam comprados por este governo inventaram as tais emendas parlamentares inaceitáveis e que transforma o poder executivo em gestor de interesses da escória ladra eleita para assaltar a nação ignorante dividida e rumando ao caos ... justo castigo? sem nenhuma dúvida.

    1. Belli ... neste pardieiro a estória sempre se repete prá pior e como o ladruam que achou pouco (e é mesmo) o salário mínimo de $1.400 do finado já o definiu em incomensuráveis $1.320 e aí fia sai a picanha e entra a panelada de bode que cheira bem ... vão lambendo babacas kkkkkkkkkk.

  10. Olá Crusoé, chamo a atenção para o áudio "computorizado" (não sei o nome disso), tanto nesse texto como em outros, ele não segue o que está escrito. Se a gente ouve e lê ao mesmo tempo percebe as falhas frequentes. Um pouco de atenção da parte de vcs é esperada.

  11. Se o Lula quiser acabar com a fome no Brasil é só ele e seu grupo político fazerem uma "vaquinha" com o dinheiro público desviados dos cofres públicos em seu governo, e comprarem em cestas básicas. Acredito que deve ser suficiente para acabar com a fome no planeta.

    1. Sem dúvida, um excelente comentário Ar. Wagner, assino em baixo.

  12. O chorinho de Lula ao falar da fome não convenceu ninguém, é só observar o esforço que a Amante Gleise fazia para não rir. Não haverá oposição, todos se unirão para, mais uma vez nos roubar. Desta vez, graças ao Bolsonaro, dentro das 4 linhas da constituição.

  13. Esse guichê só tem fachada. No meu entender estaria na construção de uma terceira via.Uma grande decepção para mim, é o namoro da Simone Tebet, agora escancarado, com o petismo. Me parece que já mantinha encontros às escondidas, com o PT. Não passou de farsa essa candidatura. Desejava a qualquer custo um naco do poder. Faz parte daqueles que andam de braços dados com o Lula para lá e para cá, desavergonhadamente. Pensei que era diferente, que preservava os verdadeiros valores humanos. Lástima.

    1. Só o fato de Simone Tebet ser do MDB já anunciava o que viria. Nunca me enganou e recusei-me a votar nela. Se até o João Amoedo virou a casaca…

    2. Simone Tebet representou bem com galhardia o DNA do MDB, seu partido, que foi comandado por longos anos pelas raposas políticas do naipe de Uilisses Guinarães, Sarney, Temer, Romero Jucá, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Baleia Rossi e tantos outros fisiológicos que sempre estiveram pendurados nos governos de plantão para poder "mamar eternamente" nas suculentas tetas desses governos corruptos.

    3. Mais um exemplo de que políticos só pensam em si, e não na Nação. Nenhum deles (tirando um gato louco acolá)) pensa na Nação.

    4. Concordo plenamente!!! Uma farsa a candidatura dessa aí. E ainda veio dizer que não podia ficar em cima do muro. Argumento vergonhoso, pois se ela se candidatou é pq não concordava com nenhum dos dois "protagonistas". Tinha o dever moral de se manter isenta no segundo turno e trabalhar para se tornar viável em 2026. O que ela queria mesmo era uma boquinha no covil petista.

    1. Este debochado, chorou de alegria , disse que era o homem mais feliz do mundo....pobre nunca esteve em sua agenda, só nos discursos.

  14. O Pondé descreveu muito bem a “direita” brasileira na conversa com Cláudio Dantas: precisa aprender a comer de garfo e faca. Eu acrescentaria também que precisa aprender a ler. Assim, poderia analisar documentos, ler as leis, aprender a conversar sem espumar o canto da boca e ranger os dentes e parar de gritar nas nossas cabeças. MS

    1. Excelente. É bem assim que a direita tosca age. Que azar ter sobrado só ela como “desopção” ao PT.

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