Arte/Crusoé

O dia a dia de uma bolsista brasileira em Harvard

Sarah Borges saiu de Goiânia para estudar em uma das mais prestigiadas instituições de ensino do planeta. À Crusoé, ela conta seu caminho e sua realidade
09.08.24

Sarah Borges é o que se define como “polímata” — aquela pessoa que detém habilidades em muitas áreas.

Aprovada em quinto lugar no Enem para cursar Medicina na USP, ela optou por estudar Psicologia e Ciência da Computação em Harvard, tornando-se a primeira bolsista de Goiânia em uma das mais prestigiadas universidades do mundo.

Como guia turística do campus, Sarah apresenta estátuas, prédios, salas, bibliotecas e refeitórios, com a desenvoltura de uma comunicadora, enquanto recebe abraços afetuosos de amigos e amigas de diversos países que vão aparecendo pelos jardins e corredores, entre uma aula e outra.

Eu, Felipe, a atriz e apresentadora Regina Casé e alguns outros convidados da Brazil Conference, realizada em abril de 2024, em Boston, nos Estados Unidos, tivemos o privilégio de conhecer a cidade universitária ciceroneados por esta verdadeira cidadã do mundo, que, naquela semana, interrompia seu intercâmbio em Oxford, no Reino Unido, para colaborar com a organização do evento.

Trajetórias fascinantes como a de Sarah inspiraram esta série de entrevistas realizadas por Crusoé com estudantes brasileiros de destaque, iniciada no final de julho com Matheus Farias, o primeiro PhD. em Engenharia em Harvard, e continuada em agosto com Verena Paccola, a estudante de Medicina que descobriu asteroides.

“No geral, eu sou muito interessada em saber por que as pessoas se comportam da forma como se comportam, como que os grupos aos quais elas pertencem ou a cultura onde elas estão inseridas afetam o comportamento ou como elas pensam. E isso acabou me levando à psicologia clínica, que no começo eu achava que não ia me interessar”, diz Sarah.

Durante uma de suas passagens por São Paulo, ela falou dos momentos decisivos de sua história, desde os sonhos no Brasil até o cotidiano entre os professores americanos.

Com toda a habilidade, claro.

Assista à entrevista abaixo (ou leia sua transcrição):

 

 

Sarah Borges, seja muito bem-vinda aqui no Crusoé Entrevistas.
Obrigada, Felipe. É um prazer para mim estar aqui com vocês hoje.

Então, estava eu no Brazil Conference e a Regina Casé sendo guiados pela Sarah Borges num tour por Harvard, um luxo. Ela foi apresentando para a gente tudo da faculdade, de cada setor da universidade americana. E, ela ia falando com um monte de gente. Um monte de gente ia falando com ela. [Sarah é] alguém que está ali há três anos e que já criou muitos vínculos e muitas amizades, não é isso?
Obrigada. Foi uma coincidência que eu vi vários amigos ao longo do caminho, mas foi realmente um prazer. Eu fui inclusive guia turístico oficial da faculdade durante o verão do ano passado. Então, eu aceitei esse convite com um prazer de apresentar a faculdade.

Agora, conta um pouco da sua história familiar. Você vem de Goiânia, lá no interior do Brasil, e sempre foi muito dedicada à escola. Os seus pais já perceberam desde cedo que você tinha um talento acadêmico. Como foi esse começo?
É, eu acho que não tem como falar de mim sem falar da minha família. Então, acho que essa é a melhor primeira pergunta que você poderia fazer. Quem que faz parte da minha família, né? Eu tenho meus dois pais e eu tenho duas irmãs, uma irmã mais velha e uma irmã gêmea, que acabou perseguindo um caminho diferente do meu. Ela ficou aqui no Brasil, mas temos interesses bastante parecidos. Tanto eu quanto a minha irmã éramos muito dedicadas na escola desde o começo. Então, eu acho que, sim, os meus pais sabem disso. Inclusive, a gente sempre recebeu o auxílio financeiro das escolas onde a gente estudou. Então, eu estudei em uma ótima escola em Goiânia. Eu cursei primeiro o ensino fundamental na Escola Interamérica, onde eu fui super bem recebida. A minha família é próxima das pessoas que tinham fundado a escola, então foi um ambiente que eu pude cultivar esse amor pela educação e sempre com o incentivo dos meus pais. Nenhum dos dois seguiu carreira acadêmica. Eles fizeram até o ensino superior, mas ele sempre… Era dado para mim e para as minhas irmãs que a gente ia estudar e que a gente ia fazer faculdade, então eu sei que essa é uma felicidade que muita gente não tem. 

Seu pai e sua mãe no caso, né? Você falou os dois pais…  Hoje em dia, tem que esclarecer só para deixar assim… 
É, meu pai e minha mãe, boa correção. Então, os dois sempre incentivaram os estudos. Eu lembro assim da minha mãe levar a gente na escola, participar de todas as reuniões, eventos para os pais. A gente participava de feiras de ciência, feiras de empreendedorismo… Então, o meu ensino fundamental foi muito bacana. Eu realmente adorava passar tempo na escola e eu passava muito tempo lá, porque a minha mãe e o meu pai trabalhavam o dia todo. Meu pai é engenheiro civil, ele trabalhava numa indústria. Hoje, aposentado, mas ele trabalhava numa indústria de cosméticos em Trindade. Então, era uma hora de distância de onde a gente morava. Então, ele acabava passando o dia inteiro lá e voltava pra Goiânia no fim da tarde. A minha mãe tinha uma loja de sapatos, depois mudou para uma loja de móveis, então ela também passava muito tempo no trabalho. Então, acabava que eu e a minha irmã passávamos muito tempo na escola estudando. Eu lembro que, desde o ensino fundamental, eu dava monitoria para outros estudantes.

Já tinha aí um elemento de professora, que seria turbinado ao longo dessa vida acadêmica como a gente vai ouvir mais adiante.
Sim. Eu lembro que o meu presente favorito foi um quadro de escrever. E aí, a minha tia me deu esse presente. A gente ficava brincando de ensinar eu e a minha irmã gêmea. Então, eu fui realmente… Eu sempre gostei muito de ensinar e de aprender.

E aí você prestou vestibular para Medicina e já tinha aí esse interesse desde cedo? Eu sou de família de médico, eu sei que médicos muitas vezes desde a adolescente já quer ser médico, já bota na cabeça aquilo, não muda, mas você veio a mudar depois. Mas, naquela fase era muito certo?
Não era certo. Inclusive, se conecta com por que eu apliquei para fora. Eu sempre estudei muito, gostei muito da escola de estudar diferentes matérias. Participei de olimpíada científicas no Ensino Médio e sabia que ia fazer uma faculdade, mas não sabia o que eu ia fazer. Eu passei quase todo o ensino médio sem ter muita clareza do que eu ia fazer. Achava que eu não queria Direito, mas é não sabia exatamente, o que seria. E, quando foi no meu terceiro ano, que aí eu tinha que decidir realmente porque eu ia fazer o Enem em outros vestibulares, eu comecei a ver as opções. Aí, eu lembro que eu listei todas todos os cursos oferecidos pelas universidades públicas do país e aí eu fui pensando: ‘Ah, quais desses cursos eu gostaria de fazer no futuro?’. E aí eu cheguei a uma lista um pouco menor, mas era assim… Ah, eu gostava de ciências. Então, me via fazendo algo próximo de biologia química. Queria algo que me desse uma ampla gama de oportunidades. Eu achava que Medicina era um desses cursos e eu queria algo que me permitisse fazer pesquisa, porque eu sabia que eu gostava muito de estudar, sabia que eu queria continuar estudando, e eu me via fazendo pesquisa, sendo professora, e eu gostava muito do cérebro de estudar biologia. Então, pensei: ‘Ah, acho que a medicina pode ser uma boa opção’. Mas, não foi uma decisão muito certeira.

E aí você passou para qual universidade?
Eu passei para Medicina na UnB pelo PAS [Programa de Avaliação Seriada] e para Medicina na USP, passei em quinto lugar pelo Enem [Exame Nacional do Ensino Médio].

Passou em 5º lugar pelo Enem para Medicina na USP. E aí, a sua família queria que você ficasse lá?
Queriam que eu ficasse… A minha família não tinha muita noção do que eu tava fazendo aplicando para fora. Então, eu lembro que, enquanto eu tava escrevendo os essays para fora, para aplicar para fora do país, a minha mãe me via fazendo aquilo e ela perguntava: ‘Sarah, você não devia estar estudando para o Enem?’. E, eu pensava: ‘Eu não sei, talvez eu devesse, mas aqui estou’.

Então, já estava aplicando para fora antes mesmo de fazer as provas de vestibular. 
Foi ao mesmo tempo, foi no final do meu ensino médio, no terceiro ano. Então, eu optei por fazer os dois, mas a minha família achava que eu deveria ficar no país, porque era o que vinha sendo construído até então de planos. Eles também não sabiam muito das faculdades de lá, conheciam de nome só Harvard mesmo. Então, acho que foi um pouco mais fácil de convencer eles a ir para Harvard do que outra universidade. Mas, fui questionada assim se eu não queria ficar mesmo fazendo Medicina aqui, no Brasil.

Quando você pensou em Harvard, você foi procurar na Internet esses formulários de inscrição? Que tipo de vaga teria? Quais eram os requisitos? Foi simplesmente vasculhando os portais? Porque, é até bom deixar claro para estudantes, para jovens, que estejam assistindo à esta entrevista que tem muitas oportunidades para a faculdade nos Estados Unidos que estão online. 
Sim, isso é super importante. Eu sempre gosto de falar, porque foi o que mais me ajudou. Então, primeiro eu busquei no YouTube. Então, eu comecei a buscar como fazer pra estudar nos Estados Unidos. Eu achava que os Estados Unidos eram mais próximos do Brasil. E dando um passo para trás: ‘Por que que eu comecei a olhar?’. Foi essa questão de não me ver fazendo um curso. Só parecia que eu não encaixava no sistema de Ensino Superior aqui, do Brasil, e eu queria algo que me desse mais flexibilidade e eu comecei a falar para as pessoas. Comecei a reclamar quase… 

Eu me identifico muito com isso. Deixa eu fazer um parênteses, não perde aí a sua linha de raciocínio. Mas, eu, até quando dou entrevistas também, quando eu estou no seu lugar, em podcast, etc, eu sinto muito…  Há uma expressão que está no livro de minha formação do Joaquim Nabuco, que foi o mais influente dos abolicionistas brasileiros. Já depois de velho, ele fez um livro sobre toda a biografia e a biografia intelectual dele também. E, ele falava da incompressibilidade, quer dizer que não podia comprimir, porque eram interesses muito amplos. Ele teve uma carreira política também, mas sempre foi mais intelectual do que político. Ele falava que ele se sentia muito limitado pela política ‘pequeno partidária’, como ele chama. Então, você tem que aderir à agenda do partido, você tem que focar naqueles problemas, muitas vezes pequenos, fazer aquelas reuniões, assembleias, etc. E ele estava muito mais antenado com o drama humano contemporâneo universal. Então, os grandes acontecimentos do mundo daquela época, fossem Paris ou fossem em qualquer outro lugar continente, ele de repente virava o olho e falava: ‘Esse é o grande drama da humanidade’ Hoje, provavelmente, ele estaria com os olhos ligados na guerra na Faixa de Gaza, na guerra da Rússia contra o Ucrânia, em todos esses conflitos que a gente aborda aqui diariamente em O Antagonista. Então, assim, na época de sair da faculdade, de escolher o rumo, eu também ficava com isso, assim tudo me parece muito específico, e eu queria ter uma abordagem mais ampla, ter um leque de possibilidades. Aí, inventei isso de ser colunista, de ser cronista, de escrever, de ser jornalista, porque permite você falar de muitos assuntos. Mesmo dentro do mercado da comunicação do jornalismo, você tem carreiras muito específicas. Eu falava: ‘Não vou ficar limitado a isso. Eu quero é essa abrangência’. Então de certa forma, você também procurou uma abrangência dentro mais ou menos dessa área.
Sim, isso me faz pensar que, se eu não seguisse carreira acadêmica, eu ia querer virar a jornalista.

Seria muito bem-vinda aqui, Sarah Borges.
Eu gosto muito de poder explorar diferentes áreas do conhecimento e traçar suas próprias conexões, que eu acho que é algo que eles permitem que a gente faça lá fora muito mais às vezes do que aqui no Brasil. Então, esse foi um grande fator para eu começar a buscar estar fora. Sem ter nenhuma noção de como era o processo, se era possível, a única coisa que eu sabia das universidades dos Estados Unidos era que elas eram muito caras. Então isso para mim já era um obstáculo. Eu tive a sorte de, primeiro, a minha irmã mais velha comentou: ‘Ah, por que você não olha a universidades fora?’ Então, eu não sei se ela estava falando brincando assim: ‘Ah, já que você está tão frustrada com as opções que têm aqui, no Brasil, por que que você não olha algo fora?’. Mas, eu levei a sério. Comecei a buscar, eu busquei no YouTube, primeiro, como fazer para estudar nos Estados Unidos e eu encontrei histórias. Por isso que eu acho que é tão bacana o trabalho que você está fazendo de trazer gente para compartilhar as histórias, porque foi assim que eu acabei lá. Eu encontrei a história de uma menina que estava em North Western, com bolsa completa, que também é uma universidade muito boa nos Estados Unidos e eu achei aquilo incrível. Nossa, você pode estar numa universidade que te permite estudar o que você quiser e você recebe bolsa para isso. Às vezes, fica até mais barato do que estudar no Brasil e você vive na universidade. Você conhece gente do mundo inteiro. Então, pensei: ‘Nossa, isso é uma oportunidade que eu quero ter’. E, foi assim que eu comecei. E aí, eu encontrei a BRASA, que foi fundamental também na minha trajetória. A BRASA, para quem não conhece, é uma organização de estudantes brasileiros que estudam no exterior. Ela começou nos Estados Unidos, mas hoje eles têm capítulos no mundo inteiro, eu acho que na Europa e na Ásia também. E eles oferecem mentorias gratuitas para quem quer estudar fora. Você tem que passar por um processo seletivo e eu tive a sorte de ter encontrado isso uma semana antes, eu acho, das inscrições encerrarem. Então, eu mandei tudo ali correndo e eu disse para mim mesma: ‘Se eu passar, eu vou tentar. Se eu não passar, eu acho que vai ser muito difícil fazer isso sozinha, se tiver sorte de ser aceita’. E aí, eu eu decidi seguir esse sonho.

Comemorou muito?
Demais, mas só depois da aceitação.

E já era específico de biologia ou era simplesmente o ingresso em Harvard?
Você tem que indicar o curso em que você tem interesse. Mas não é nada que você tem que se comprometer a fazer. Então, eu indiquei que eu tinha interesse em neurociência e também estudos sociais, que no final virou psicologia. Eu acho que eu só não sabia que lá eles davam esse nome. Eu tinha ideia de que psicologia era só terapia, psicologia clínica, como é aqui no Brasil, o que não era exatamente o que eu queria fazer. Então, acabei indicando essas preferências. Mas você pode trocar depois, é realmente muito flexível. Acho que, nesse primeiro momento, eles só querem saber o que mais ou menos você está interessado em fazer na faculdade. 

Quer dizer a Sarah está mais ligada nessa área de psicologia social. Nós inclusive conversamos lá, em Harvard, sobre o livro que eu já recomendei várias vezes aqui, em O Antagonista, do Jonathan Haidt. É “A Mente Moralista”, que fala por que é que as pessoas se segregam tanto por causa de religião e de política. Enfim, nesse tema mais sensível, mas ele apresenta uma série de estudos que envolve neurociência também e que fala dessa psicologia das massas dos grupos, aliás como uma professora que tem lá, né? A Sarah me indicou e eu fui é acompanhar a obra dela, tem vídeos excelente no YouTube, a Mina Cikara. Ela fala a respeito dessa questão dos grupos, que é objeto presente no meu trabalho, é sobre a adesão a determinados grupos e como as pessoas começam a se comportar diferente, porque se julgam no grupo do bem contra o mal. Então, você tem uma professora em Harvard que aborda essas questões também. O que que você destaca de aulas, de curso, professores que chamaram a sua atenção e tiveram ali alguma linha de interesse que você pode desenvolver mais adiante?
Sim, eu venho fazendo projetos de pesquisa desde o meu primeiro ano e já passei por três laboratórios de Psicologia lá na faculdade. O primeiro que eu me interessei foi o laboratório da professora Mahzarin Banaji. Ela é uma das maiores psicólogas sociais, eu diria. E o foco de estudo dela é implicit bias, ou “viés implícito”. Ela que cunhou esse termo e desenvolveu os experimentos que levaram a gente entender o que que é um viés implícito. E, é basicamente essa ideia de que, sim, temos ver as explícitos, aqueles que a gente reconhece e fala para as outras pessoas que a gente tem, mas também existem viéses implícitos que às vezes nós não percebemos. Mas, por conta de associações que a gente acaba fazendo, o nosso cérebro é uma máquina de previsão, então naturalmente, à medida que a gente vai encontrando exemplos, a gente vai criando associações. E com isso a gente pode fazer esses essas associações automáticas, sem mesmo perceber. E, eu achei aquilo muito interessante. Ela realmente ampliou uma área da Psicologia que não vinha sendo investigada até então e que inclusive busca explicar porque que nós ainda vemos discriminação ou diferença de tratamento para alguns grupos, sendo que, quando você faz uma pesquisa de opinião, as pessoas não falam mais que elas têm qualquer tipo de de preconceito contra esses grupos. Então, explica um pouco dessa divergência do que a gente admite e o que, de fato, acaba acontecendo implicitamente… 

Muitas vezes, ao expressar, a pessoa sabe que aquilo é negativo e ela rejeita mas não quer dizer que ela, nas suas atitudes, não tenha muitas vezes uma conduta ruim, uma conduta que não não seria adequada. Isso tudo é muito interessante. Obviamente, o mercado da comunicação é repleto de sinais de viés, explícito e implícito, mas continue.
É isso mesmo. E eu acho que o legal da pesquisa dela é que ela levou isso para o público. Então, hoje, ela tem um projeto que chama Outsmarting Implicit Bias, que busca divulgar essa pesquisa que ela fez e ajudar pessoas de cargos importantes a não tomarem decisões com base em vieses. Então, ela levou isso para corte judiciais nos Estados Unidos, pessoas que caso elas deixassem incorporar esses vieses…  

Seria ótimo dar umas aulinhas aqui para os tribunais brasileiros. Eu acho que não tem muito jeito não, porque acho que o problema é de outra natureza, mas, se ela puder consertar seria, muito bem-vinda, um recadinho rápido aqui.
Vamos ver se a gente consegue trazer a minha professora. Mas, então, desde então, eu mudei um pouco de caminho. Continuo muito interessada em psicologia social. Fiz alguns projetos relacionados a desinformação, inclusive tentando entender se tem algo que poderemos fazer, algum tipo de treinamento para as pessoas conseguirem identificar fake news antes mesmo de elas aparecerem, seja no feed das redes sociais…

Temas quentíssimos do momento e que são de profundo interesse de O Antagonista e Crusoé. Em breve, Sarah Borges vai estar colaborando com a gente.
Adoraria. Eu acho tem muita coisa que pode ser feita, e muita gente não sabe que tem esse lado da Psicologia que trata desses temas que são tão relevantes atualmente. Então, eu fiz trabalho sobre isso. Fiz trabalho sobre psicologia de mudança climáticas: ‘Por que as pessoas têm tanta resistência em mudar comportamentos que ajudariam a resolver essas grandes questões?’. Assim, eu acho que eu tenho interesse muito grande pela psicologia, eu acho que no geral eu sou muito interessada em saber por que as pessoas se comportam da forma como se comportam, como que os grupos aos quais elas pertencem ou a cultura onde elas estão inseridas afetam o comportamento ou como elas pensam. E isso acabou me levando à psicologia clínica, que no começo eu achava que eu não ia me interessar… 

Você vê como os caminhos muitas vezes são diferentes, mas acabam dando no mesmo lugar.
Enfim, eu saí da Medicina achando que não quero tratar doença. Isso é muito difícil. E agora eu acho que é o que eu mais me interesso dentro da Psicologia, mas, ainda assim, com viés social, de entender como questões sócio-econômicas, como que questões culturais acabam levando ao adoecimento. Há questões de saúde mental. E então fazer essa intercessão entre o que eu penso até agora e o que eu acabei de né encontrar dentro da psicologia clínica.

Você já conseguiu vislumbrar um caminho profissional para você, quer dizer como transformar isso numa iniciativa sua?  Porque você falou que gosta de ensinar, gosta de ser pesquisadora. Agora, você já tem um caminho do que fazer realmente com essa profissão?
Sim, com certeza. Eu acho que essa é a pergunta de ouro que eu também estou fazendo agora, indo para o meu último ano de faculdade. Assim, eu gosto muito de pesquisa em si, de desbravar o conhecimento e expandir a fronteira do que a gente conhece dentro dessa área, mas eu acho muito importante também trazer isso para as pessoas, de alguma forma aplicar todo esse conhecimento. Eu acho que, por isso, que me inspiro tanto nessa professora que eu mencionei, que tem esse projeto de divulgação científica. Hoje, eu estou fazendo meu projeto de tese, que seria o TCC aqui, no Brasil, estudando uma cohort de quase 4.000 crianças que foram acompanhadas desde que elas tinham seis anos até já a vida adulta para entender como que esses fatores sociais e, em particular, o que eu vou focar em estigma relacionado à saúde mental afetam a progressão de sintomas mais tarde na vida delas. Então, já estou conseguindo trazer isso de volta para o Brasil. Uma cohort brasileira. E, eu estou usando os recursos que eu tenho na universidade e o apoio do meu professor para traduzir dados em conhecimento. Os dados já estão lá. O que precisamos fazer agora é encontrar correlações, encontrar conexões que expliquem o que a gente está vendo nos dados.

Qual foi a palavra que você usou? “Corte brasileira”? Porque “corte” remete a tribunal, mas não é disso que você está falando.
Não. Bom ponto. Cohort é o termo que eles usam para descrever grupos de estudo. Então, nesse caso, eles selecionaram crianças que estudavam aqui, em São Paulo, e em Porto Alegre para participarem desse estudo. Essas crianças formaram a cohort brasileira, que eles chamam de cohort brasileira de crianças de alto risco, alto risco para desenvolverem algum tipo de transtorno mental. Então, são esses dados que eu vou usar. Estou fazendo umas parcerias com o pessoal da UNIFESP e também com o meu supervisor em Harvard para esses dados. Mas, então, eu gosto muito de pesquisa. Mas, eu já tenho planos para trazer isso para as pessoas e talvez disso tirar uma iniciativa. Eu acho que o interessante da pesquisa é que ela ilumina quais são os fatores de risco e também fatores de resiliência. Então, o que leva uma pessoa a adoecer e o que pode proteger uma pessoa ou evitar o adoecimento. E, uma vez que a gente tem esse conhecimento, a gente pode desenvolver tratamentos ou intervenções que enderecem esses fatores de risco ou de resiliência e medidas preventivas. Eu acho que isso tem aplicações tanto em políticas públicas quanto no setor privado, desenvolvendo realmente novas técnicas de tratamento. E, eu estaria super interessada em de alguma forma… Seja criar um projeto ou então assessorar no desenvolvimento de políticas públicas voltadas à saúde mental ou até mesmo, alguma empresa que visa a desenvolver tratamento.Mas, o que eu gosto mesmo é pesquisa. Então, eu imagino que eu vou seguir fazendo pós-graduação, doutorado. E aí depois disso… 

Agora você já faz mentoria. Explica para a gente como é que funciona essa mentoria. É em relação a quê? A vestibulandos, a gente se preparando para vestibulares e outras provas aqui, no Brasil?
Sim. Eu sou mentora desde que… Bom, como eu comentei para você, desde o ensino fundamental, eu venho ajudando alguns colegas, mas eu virei mentora oficialmente quando eu fui aprovada nos Estados Unidos. E, aí, eu…  Sabendo do quanto foi impactante ser mentorada pela BRASA, eu ingressei na HBASS, que é uma organização de alunos que estudam em Harvard, em todas as escolas, não só na graduação; e eu sou mentora por lá. A gente oferece mentorias gratuitas, existe um processo de aplicação para quem quer nos Estados Unidos…  Mas eu acho que existe uma demanda anterior a essa de pessoas que sonham grande, que têm a capacidade, que são dedicadas na escola a saberem quais são os caminhos que existem e como que eu faço para manejar tudo isso, que foi a posição em que eu senti que eu estava alí no Ensino Médio. Eu era muito dedicada na escola, queria fazer coisas grandes, mas não sabia muito o que eu poderia fazer e que vestibular expressar, onde aplicar. E, além de todo o processo, que tem vários componentes. Então, eu e a minha irmã gêmea, que faz medicina aqui na USP… Ela acabou ficando, nós entramos na mesma turma, eu fui pra Harvard, ela ficou aqui. E, nós criamos um projeto juntas pra ajudar pessoas que querem fazer vestibular aqui no Brasil, os vestibulares mais competitivos, ou então aplicar para fora. Eu ajudo mais na parte a aplicar para fora, ela ajuda mais na parte de ficar aqui, no país.

Qual é o nome dela?
Sofia Borges. Ela inclusive foi aceita para um programa em Harvard também. Então, a gente vai estar juntas ano que vem. Ela vai estar na faculdade de saúde pública.

Ela é igualzinha a você.
Olha, eles falam que o médico errou, porque a gente não é univitelina, mas a gente é muito parecida. Então, só vendo para dizer. Eu acho que a gente é diferente, mas todo mundo fala que nós somos muito parecidas.

Além de tudo isso que a Sarah fez, ela também, dentro dessa intercâmbio que é você ganhar uma bolsa estudar em Harvard, ela conseguiu outro intercâmbio, ainda para estudar em Oxford no Reino Unido. Conta para a gente como é que foi essa experiência.
Eu acabei de voltar, inclusive. Cheguei tem duas semanas. Foi uma experiência incrível. Eu acho que essa foi uma das razões também porque eu decidi aplicar para fora. Lá, eles têm várias oportunidades de você ir para outros países e eu, sabendo do tanto que eu já tinha aprendido estando ali em outro país, eu pensei: ‘Ah, poxa, eu tenho que abraçar essa oportunidade’. Então, eu acabei aplicando. Você tem que fazer um outro processo seletivo específico para a universidade de Oxford e passei por esse processo seletivo no ano anterior. Fui aceita para fazer um semestre lá. Então, passei desde janeiro até junho estudando lá, como aluna comum. Então, eu morava em um dos colégios, jantava, almoçava com os alunos de lá, e fazia os tutoriais, que são as aulas, como eles chamam as aulas de lá. E, foi uma experiência incrível. Eu acabei explorando algumas áreas diferentes também porque lá, como o aluno visitante, eu tinha muita flexibilidade. Eu fiz aula de psicologia clínica, fiz matemática e algumas aulas de sociologia também.

E como é que a computação entra nessa história toda? É um interesse por se manter antenada, moderna, ou tem algum link secreto com a área de psicologia social?
Tem um link secreto. Muita gente me faz essa pergunta porque eles acham que são dois opostos. Eu acho que faz sentido mesmo. Como o meu interesse é em pesquisa e desenvolver técnicas avançadas de você processar dados e transformar esses dados em respostas concretas, a computação tem muito a ajudar. Então, os projetos de pesquisa que eu venho fazendo na faculdade fazem uso de base de dados gigantes, e a gente usa de programação, de análises estatísticas, para processar esses dados. Então, tem, sim, uma conexão entre os dois. 

Agora conta um pouco da sua rotina lá em Harvard. Você joga vôlei, não é isso?
Jogo vôlei, sim.

Você não tem um horário tão pesado de aulas, né? Acho que me parece…a minha impressão de quem ouviu vocês quando esteve lá é de que existe uma cobrança de resultado, mas é, ao mesmo tempo, eles te dão a liberdade para trilhar o seu caminho e entregar aquilo da maneira como você achar que vale, né?
Sim, eu acho que lá a gente tem muito mais tempo fora da sala de aula. Então esse foi inclusive um dos fatores mais difíceis de transição, porque eu estava acostumada no ensino médio a ficar o dia inteiro na escola e quando comecei a faculdade eu vi que eu ia ter muito tempo livre, mas eu acho que é um pouco enganador porque na verdade não é tempo livre, né? É tempo que você tem que usar fazendo as leituras para a próxima aula, estudando para provas ou fazendo as tarefas que tem toda semana. Então é muito mais tempo de autoestudo assim, self-learning, do que isso tudo dentro da sala de aula, mas óbvio que dentro desse tempo livre você não está só estudando, né? Eu acho que é o mais comum é mesmo que você faça várias atividades extracurriculares, se envolva com projetos fora da da sala de aula, fora até mesmo do seu curso e eu também abro acesas oportunidades. A Brazil Conference é um exemplo. Eu venho trabalhando na BC desde do meu primeiro ano em diferentes iniciativas e eu acho que você aprende muito também por meio desses projetos. É como você está falando: se desenvolver holisticamente. Uma coisa você aprender só o conteúdo ali dentro da sala de aula e  outra coisa é você aplicar, desenvolver comunicação, como se relacionar com outras pessoas…e eu acho que para isso você tem que fazer esses projetos fora da sala de aula. Então é algo que eu encorajo até quem tá no ensino médio: quem tá pensando em aplicar, é um fator que eles buscam na hora de aceitar os estudantes — que é algo bem diferente daqui do Brasil, em que eles levavam em consideração somente as provas. Então acaba que os estudantes que chegam lá também já estão acostumados a desenvolver projetos, participar de organizações e eu venho participando de algumas iniciativas desde que eu comecei. Mas também gosto muito de esporte, faço vôlei, jogava vôlei lá em Goiânia e entrei para um grupo de trilha. Essa foi nova porque…

Trilha?
Trilha. Para quem conhece Goiânia, é totalmente plano 

Mas em Goiânia. Não lá em Boston?
Lá em Boston. 

Lá em Boston? Tem trilhas pra fazer?
Tem muitas trilhas.

Esse é um programa muito carioca, eu faço bastante trilha, cachoeira. 
Então tem que trazer os cariocas. Acho que eles iam gostar— é que só é bem frio, né? Acho que essa é a grande diferença. Mas vamos é quase todo o semestre, tem sempre trilhas e a ideia é levar os alunos para experiências na floresta. Então a gente geralmente dirige até New Hampshire, que é o estado vizinho e lá tem muitas montanhas. Então é muito legal. A gente tira geralmente um dia ali no final de semana para fazer isso — porque é realmente difícil dado a rotina de estudos — mas é um é um tempo assim de descontração e também de conhecer outras pessoas. Foi super legal assim também aproveitar esse outro lado da da Universidade que eu não tinha experienciado até então.

E duas questões aqui agora, encaminhando para o final. Primeiro: só para os jovens terem uma noção, você ganha uma bolsa e você ganha um quarto lá na na faculdade, num prédio, no qual você fica durante toda a sua graduação?
Sim. lá no College é diferente de pós-graduação. Então é quando eu falo ‘College’ é graduação, para estudantes que foram lá fazer faculdade. Para quem tem bolsa, você recebe…basicamente todos os custos são cobertos pela universidade. Então desde a alimentação, passagem aérea, o quarto como você falou, as taxas da universidade… tudo é coberto pela Bolsa.

Bandejão é bom?
Bandejão…Olha isso é controverso [risos]. Bem controverso. Olha, eu acho que é ótimo, você tem várias opções, têm salada. Eu acho que é importante ter várias opções. Mas é menos saudável, eu diria, que no Brasil…então a comida daqui continua sendo melhor. Mas o quarto é diferente do primeiro ano para os demais. No primeiro ano todos os alunos do primeiro ano moram no yard, que é o jardim. Inclusive a gente passou por lá durante o tour. Eles moram em prédios e a ideia é começar a criar uma comunidade de alunos do primeiro ano e começar a formar essas primeiras amizades. E todo mundo almoça e janta no mesmo refeitório, que é reservado para os alunos do primeiro ano. E aí, uma vez que você passa pro segundo ano, você é designado para uma casa…Então, para os fãs de Harry Potter: eu nunca tinha assistido antes de chegar lá, então não sabia muito bem, mas é bem parecido. Então você tem as diferentes casas e você é designado uma casa para morar durante os próximos três anos, a graduação lá tem quatro anos. Aí você fica morando num dormitório dentro dessa casa, que na verdade são grandes prédios, cada uma tem 400 alunos. E a ideia é formar uma como uma subcomunidade dentro da universidade. E aí cada casa tem sua biblioteca, tem seu refeitório. A minha courtland  que eu falo que é a melhor — mas muita gente vai falar que não é—  então tem uma disputa ali também entre as casas… mas é um ambiente muito legal, você acaba conhecendo vários outros alunos.

E a Brazil Conference, como é que foi essa experiência de organizar? Você organizou, principalmente aquela parte dos cientistas brasileiros, né?
Sim foi uma experiência fantástica—eu diria assim que uma das minhas melhores experiência na universidade até agora foi ter liderado o programa lá do Matheus e, no ano anterior, eu ajudei a conceber o programa ao lado do Gabriel e de todo um time ali, que que pensou em como valorizar a pesquisa nacional, né? Acho que, olhando para trás, e até incrível pensar que a gente faz essa conferência em Harvard e no MIT para celebrar a academia, a ciência, trazer essas conexões…Mas ainda não tinha um programa para os pensadores brasileiros. Então a ideia que ela surgiu foi muito natural no que deveria acontecer. Justamente o intuito era valorizar esses pesquisadores que, mesmo diante dessas dificuldades, mesmo às vezes sem o reconhecimento ou até mesmo com ataque de alguns setores, continuam fazendo pesquisa de qualidade e pesquisa de altíssimo nível, acima das universidades de fora mesmo, mas que não é reconhecido então o papel do programa é reconhecer e incentivar pessoas que querem fazer pesquisa e—

Quais áreas? Tecnologia?
Todas as áreas. Ano passado, nesse ano na verdade, nós tínhamos pesquisadores de várias áreas diferentes, desde bioquímica, tinha nas Ciências Sociais psicologia, tínhamos pesquisadores que trabalhavam com fome…então são várias áreas, todas as áreas que são abraçadas pela Capes aqui no Brasil e pelo CNPQ, e a ideia é trazer diversidade. Então a gente sabe que não existe pesquisa só em ‘ciência’, não existe pesquisa só né…tipicamente as pessoas pensam física, biologia, matemática, mas existe pesquisa em várias áreas e a ideia é celebrar todas essas áreas dentro do programa então era uma das nossas vertentes, trazer essa diversidade essa representatividade para conseguir inspirar pessoas que têm interesses diferentes.

E você vai estar na organização no ano que vem, sob a presidência de Matheus Farias?
Então [risos], o Matheus quer me trazer pra conferência. Mas eu tenho muitas outras responsabilidades agora no meu último ano, então acho que vai ser difícil pelo menos tomar um papel de liderança. Só de ouvir a gente já ficou assim, ‘como que dá conta disso tudo né?’ Talvez seja melhor dar uma passadinha lá como visitante, como quem conhece todo mundo deixar os outros organizarem dessa vez, focar nos estudos.

De alguma coisa tem que abrir mão.
Tem. Infelizmente não tem como fazer tudo. Eu já tentei, mas não tem, então acho que o jeito vai ser… eu gostaria gostaria de continuar ajudando de alguma forma, mas com certeza não com papel de liderança tão ativo quanto eu tive esse ano passado. 

E Sara, só um recado final para jovens brasileiros que pensam em se qualificar no exterior. Quer dizer: vale a pena? Tá valendo muito a pena toda essa sua experiência? Você sente a bagagem que você está construindo? O que que você diria?
Com certeza. Eu acho que existem trajetórias e trajetórias, pode ser que não seja o caminho certo para você, mas eu diria que, dado o que eu falei e dadas as outras histórias que vocês conhecem, se vocês se interessam pela flexibilidade, pela oportunidade de conhecer pessoas do mundo inteiro, pelas oportunidades de estudar em outros países, eu acho que vale a pena tentar. Existem programas de apoio, existem pessoas que estão dispostas a auxiliar durante o processo, então mesmo que no final você descubra que você quer é ficar no país—o que eu acho que existem muito opções muito boas no Brasil também. Acho que a gente não pode, né desconsiderar isso, mas eu acho que pra quem gerou essa pulga atrás da orelha, que ‘talvez seja pra mim’, eu acho que vale a pena tentar e buscar principalmente essas fontes de apoio que foram tão importantes para mim. Eu acho que são muito importantes no geral para quem aplica. Então encorajo. Se precisarem de mim, eu também como eu disse eu sou mentora, então fico à disposição pra ajudar quem tem interesse.

Muito obrigado pela sua participação aqui n’OAntagonista, nessa temporada em São Paulo. Daqui a pouco volta de novo para lá.
Obrigada, foi um prazer. 

Quanto tempo falta para você terminar Harvard?
Falta um ano, eu termino em maio.

E tem planos de ficar nos Estados Unidos, Oxford ou Brasil depois?
Olha…acho que eu vou continuar ou nos Estados Unidos ou na Inglaterra, Eu acho que eu vou continuar estudando que é tem muita coisa ainda para aprender, mas amo muito o Brasil, estou sempre envolvida com essa iniciativas que de alguma forma tentam trazer algo de volta para o país. Então, quem sabe minha família toda tá aqui eu acho que eu tenho grandes motivos para voltar.

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