Ministère de L'Interieur et des outre-merNa França, país que mistura os regimes presidencialista e parlamentarista, as coisas são, e estão, mais complicadas

Eleições: EUA; Reino Unido; França

As normas em três países diferentes determinam a campanha, o resultado e as coalizões possíveis
12.07.24

Na quinta, 27, os candidatos à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano) e Joe Biden (democrata), debateram nos estúdios da CNN, em Atlanta. Ambos querem, é claro, vencer as eleições presidenciais de 5 de novembro. 

A iniciativa de promover o debate foi de Biden. 

Após hesitar um pouco, Trump aceitou. Aceitou porque a Constituição americana é omissa em quase tudo, inclusive a hipótese de um candidato mentir deslavadamente durante (assim como antes e depois) do debate, assacando as mais deslavadas mentiras contra o opositor. 

Segundo pesquisas feitas pela CNN, Donald Trump mentiu mais de 30 vezes, amparado pela liberdade de expressão garantida pela Primeira Emenda da Carta Magna, mesmo que o mentiroso afirme que John Kennedy se suicidou e não foi vítima de um atirador de elite, Lee Harvey Oswald, um ex-fuzileiro naval, como ficou largamente comprovado no relatório Warren, que investigou o assassinato. 

A imprensa, a opinião pública e mesmo os eleitores de ambos os partidos devem estar dando como certa a vitória de Trump, não tanto pela combatividade, voz fraca e semblante doentio de Biden. 

Afinal de contas, com Franklin Delano Roosevelt (hemiplégico por causa de uma poliomielite) sentado em uma cadeira de rodas, e estando os EUA em plena Segunda Guerra Mundial, elegeu-se pela última vez (quinto mandato consecutivo) em 1944, morrendo do coração, na Geórgia, em 12 de abril de 1945, apenas 18 dias antes do suicídio de Adolf Hitler, no bunker da chancelaria do Reich, em Berlim. 

Nenhum americano se preocupou com os seguidos tombos de Gerald Ford (38º presidente do país) em escadas de aviões, contando piadas a respeito, mas jamais ligando os fatos à uma possível incapacidade de governar o país. 

Agora, se o eleitor está vendo em Biden uma senilidade debilitante que o prejudique na condução do Estado e no posto de comandante-em-chefe das Forças Armadas é outra história. 

Imagino Joe Biden desistindo na última hora, em plena convenção democrata, e cedendo o lugar para a vice-presidente Kamala Harris, única pessoa que, por lei, pode herdar as centenas de milhões de dólares doados por eleitores à candidatura Biden. 

Donald Trump pode ser um vigarista, mas bobo é que não é. 

Falar mal e assacar falsidades contra Biden (um pretenso doente) está começando a pegar mal. 

Ele (Trump) deve estar morrendo de medo de ver os democratas mudarem seu candidato. 

Uma coisa é malhar um adversário. Outra, detonar um inimigo desconhecido. E, portanto, sem passado, sem nome e sem resumo da carreira política. 

O desfecho dessa novela não demorará a ser conhecido. 

* * *  

Na semana passada, os trabalhistas (Labour Party) do Reino Unido venceram as eleições por maioria esmagadora. 

Mais do que esmagadora: Landslide victory, como costuma se dizer nos países de língua inglesa. 

Eles, trabalhistas, obtiveram 411 dos 650 assentos da Câmara dos Comuns, o que significa que têm maioria absoluta e não precisarão fazer coalizões com nenhum dos demais 14 partidos para poder governar. 

No Reino Unido, o voto é distrital. 

Os eleitores votam no representante de seu partido em seu distrito eleitoral, já sabendo em quem ele irá votar. 

Desta vez, o ungido por seus pares trabalhistas foi Keir Starmer, que sucedeu Rishi Sunak, descendente de indianos que liderava os conservadores (tories), que estavam no governo havia 14 anos. 

Tão logo o último voto foi apurado, Sunak entregou o cargo ao rei Charles III, audiência logo seguida por outra, a de Starmer, a quem Sua Majestade pediu para formar um governo, sem que desse nenhum palpite nessa escolha. 

Pura questão protocolar. 

 * * * 

Na França, país que mistura os regimes presidencialista e parlamentarista, as coisas são, e estão, mais complicadas. 

Usando seus poderes constitucionais, o presidente Emmanuel Macron, insatisfeito com o resultado das eleições do Parlamento Europeu, nas quais venceu a direita (leia reportagem “Extremo Engano” nesta edição da Crusoé), resolveu testar a França. Dissolveu o Parlamento, cuja legislatura só terminaria no final do ano. 

No primeiro turno, a direita nacionalista, de Marine Le Pen, quase fez maioria. Nessa hipótese teria de haver uma “cohabitation”, o que só aconteceu três vezes, desde a Constituição, pelo presidente Charles de Gaulle, da 5ª República, em 4 de outubro de 1958. 

Voltando ao pleito deste ano, no segundo turno as coisas se inverteram. A esquerda obteve 182 assentos na Assembleia Nacional, a coalizão liderada por Macron, 168, e a direita radical, 143. 

Basta agora Emmanuel Macron fazer uma aliança com a esquerda para que eles se livrem de Le Pen. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, os comunistas apoiaram a Resistência e vice-versa. Mesmo porque a União Soviética, governada por Joseph Stálin, se uniu aos aliados, após ter sido atacada pelas divisões de Adolf Hitler, na Operação Barbarossa. 

Após o conflito, por diversas vezes os comunistas venceram eleições francesas em 1º turno, mas sempre perdiam no segundo. 

Mais tarde, esse papel de cavalo com pouco fôlego passou a ser interpretado pelos Le Pen, primeiro Jean-Marie, depois sua filha Marine. 

 

Ivan Sant’Anna é escritor e investidor

[email protected]

 

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