Gage Skidmore Via Flickr

Tudo encaminhado no partido Republicano

Vitória em New Hampshire consolida nomeação de Trump às eleições de novembro e seu domínio sobre o partido 
26.01.24

Donald Trump continua invicto nas primárias do Partido Republicano e se encaminha para ser o candidato da sigla às eleições presidenciais de novembro. Nesta terça-feira, 23 de janeiro, ele venceu as primárias de New Hampshire, segundo evento do calendário. A vitória não foi tão esmagadora como a vista no caucus de Iowa, na semana passada, quando venceu por 30 pontos percentuais. Desta vez, a vantagem foi de onze pontos percentuais. Mas o cenário era mais desfavorável.

Desde a antevéspera do pleito, a oposição ao ex-presidente se concentra em uma única candidatura, a de Nikki Haley. Além disso, New Hampshire é um estado muito mais moderado e secular que Iowa. Mesmo assim, Trump conseguiu mobilizar a sua base e vencer com solidez. É uma questão de tempo até não sobrar mais nenhum rival. Os republicanos, sempre que estiveram na oposição, levaram às eleições presidenciais um pré-candidato que ganhasse em Iowa e New Hampshire.

Última adversária de Trump, Haley representa a ala tradicional republicana. A ex-governadora da Carolina do Sul tem a campanha mais custosa destas primárias, considerados os gastos das Super PACs, entidades fiscais usadas por empresas para burlar os limites legais de financiamento direto às campanhas. Nos 10 primeiros dias de janeiro, Haley gastou 62,9 milhões de dólares em propaganda, dos quais mais de 50 milhões vieram das Super PACs. Nesse período, Trump gastou, no total, 39,5 milhões. “Há muitos republicanos tradicionais, com recursos consideráveis, que realmente detestam Trump e estão dispostos a fazer o que for preciso para desalojá-lo”, diz Geoffrey Layman, da Universidade Notre-Dame. A elite republicana abraçou Haley, porque ela prioriza pautas tradicionais (vulgo políticas econômicas liberais) e é sóbria em costumes, algo que também a torna popular entre moderados e independentes. Haley teve três vezes mais votos que Trump nessa fatia do eleitorado em New Hampshire.

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Ironicamente, o que faz Trump um candidato aparentemente imbatível dentro do partido é apresentar-se como o completo oposto do republicanismo tradicional. “Trump é o defensor dos homens brancos de classe trabalhadora que, sem diploma universitário, sentem raiva por ver seu padrão de vida estagnar ou decair”, diz Stephen Macedo, da Universidade Princeton. Análises sobre a base do ex-presidente não se cansam de falar sobre a aversão à globalização e à “diversidade” — mais recentemente, a cultura woke, que resume a política a questões identitárias, deu um novo nome ao inimigo do trumpismo na pauta de costumes. Algo menos percebido é como a globalização e a diversidade remetem a uma fraqueza eleitoral do republicanismo tradicional: a moderação na política migratória. Nenhum candidato não trumpista consegue apresentar uma alternativa atrativa ao discurso radical do ex-presidente sobre imigração, que é considerada o segundo tema mais importante para o eleitorado republicano, atrás apenas da economia.

Trump não inventou o populismo, nem descobriu um eleitorado novo. Ele soube mobilizar uma base conservadora antiliberal (“liberal” no sentido americano, onde a palavra está associada à esquerda) que outros políticos já haviam engajado ao longo do século 20, como o ex-presidente Richard Nixon. Nas décadas de 60 e 70, Nixon usava os hippies e a contracultura como bodes expiatórios para fins políticos. Também para agrado desses eleitores, e à diferença do perfil tradicional republicano, Nixon nunca execrou o assistencialismo. Pelo contrário, tentou implementar uma renda básica universal. Esses americanos não se incomodam com a intervenção do Estado na economia, se for para ajudar quem eles consideram como parte do “povo”. Hoje, Trump é o maior defensor do assistencialismo dentro do Partido Republicano. No sábado anterior à votação em New Hampshire, 20 de janeiro, o ex-presidente atacou (com mentiras) o programa de governo de Haley em dois pontos. Foram justamente política migratória e assistencialismo.

Desde o início das pesquisas sobre as primárias republicanas, Trump lidera as intenções de voto com folga. Hoje, ele tem vantagem nacional de 50 a 60 pontos percentuais dentro do partido. Trump mantém essa liderança a despeito dos avanços das ações criminais que enfrenta pela invasão ao Capitólio e pela tentativa de fraude eleitoral na Geórgia, dentre outras. No eleitorado republicano, pelo menos, Trump consolidou uma base fiel, avessa a qualquer escrutínio da imagem do ex-presidente. “Ele gerou tanta lealdade que outros líderes do partido, mesmo seus adversários nas primárias, hesitam em criticá-lo”, diz Layman. Como fez o outro principal adversário de Trump, o governador da Flórida, Ron DeSantis, na antevéspera de New Hampshire e dias após falar que continuaria na corrida, Haley jogará a toalha.

O dia D para a campanha de Haley é 24 de fevereiro, quando ocorrem as primárias na Carolina do Sul, estado natal e berço político da candidata. “É improvável que Haley permaneça na corrida por muito tempo. Ela poderia permanecer para ver os resultados da Carolina do Sul, mas pode desistir antes disso para evitar essa derrota em casa”, afirma Morgan Marietta, da Universidade de Austin no Texas. As pesquisas no estado apontam vantagem de Trump por pelo menos 25 pontos sobre Haley.

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  1. Muito bem Carlos, da mesma maneira fico perplexo que os brasileiros tb não conseguem ver melhor do que Bolsonaro e Lula. é lamentável que somos sempre liderados pelos indoutos

    1. Apoiadissimo! Estamos presos nesse ciclo perverso que se retroalimenta.

  2. FIco perplexo ao ver que os eleitores americanos não conseguem ver algo melhor do que Trump e Biden para liderá-los. Quanto ao Trump, a sua campanha aborda exatamente os mesmos pontos da campanha de ? Ora, se ele não os conseguiu resolver nos seus 4 anos na presidência, por quê seria diferente agora? É insano acreditar nele! Assim como é inacreditável tanta gente se sentir seduzida por um cidadão que, claramente, tentou subverter os resultados da eleição pelo menos na Georgia.

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