ReproduçãoFaixa de Gaza? Não, Rio de Janeiro

Lula achou o que fazer em casa?

Agora é esperar que, convencido do novo erro, de comparar Santa Cruz com Gaza, o presidente ao menos enfrente milícias e tráfico sem a ONU
27.10.23

Na segunda-feira 23 de outubro de 2023, os presidentes do Brasil, Lula da Silva, e da Rússia, Vladimir Putin, concordaram, pelo telefone, em duas prioridades mundiais: a necessidade de que cessem os bombardeios na Faixa de Gaza e a imediata libertação dos reféns”. Beleza. Meritório. Mas, sendo óbvio, há entraves na consecução de tais objetivos. O Brasil assumiu a presidência giratória do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A Rússia invadiu a Ucrânia, por atribuir a suas tropas derrubarem uma ditadura “fascista” que governa bolsões de russos. Podia se perguntar o que faria Lula para convencer o novo aliado de que fascista por fascista Putin também é. Mas ele percebeu? E como conter os ímpetos de ambos em se consagrarem como arautos da paz fazendo a guerra, como rotularam os romanos (si vis pacem para bellum)? Nada justifica a intervenção dele na decisão tomada pelo grupo terrorista Hamas (nem isso o Brasil reconhece) de praticar no inimigo ao lado os mais surpreendentes e condenáveis crimes contra a humanidade.

Este colunista ainda expõe um novo óbice: os dois já têm problemas gravíssimos a resolver em suas alçadas. No caso russo, sua condição de invasor ilegítimo de um país com população da mesma etnia. No brasileiro, a ilusão de se tornar um neo Churchill, que não se sabe se ele sabe quem foi, pode ser considerada uma ilusão patética e tirânica de que teria força e talento diplomático disponíveis para uma ação factível. O sumiço de 21 metralhadoras imprestáveis de um “arsenal de guerra” em Osasco, agravado pelo fato de que o comando só tomou conhecimento um mês depois do desaparecimento, mostra que o nada glorioso Exército nacional seria incapaz de intimidar sequer o antigo derrotado Paraguai, a não ser se fosse numa disputa de truco. A insólita anedota está tendo o desfecho que poderia ser considerado satisfatório se ainda não fosse mais ridículo que parte das metralhadoras inúteis foi abandonada na lama. Como a imagem de quem só em teoria as guardava e garantia. E ainda guarda e guardará?

Tudo isso agora torna a aliança Planalto-Kremlin secundária. No mesmo dia um dos protagonistas da cúpula improvisada ao telefone, o brasileiro, parecia cair na real de que há o que ele acha ser uma guerra na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ex-capital de Império e República e ex-Cidade Maravilhosa. Pois Lula do PT pareceu, enfim, ter tomado conhecimento no nono mês, prazo de uma gestação, de que a crise de segurança pública no Rio não é assunto de responsabilidade de governos locais, mas “do Brasil”, dele. E não do absurdo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, nem do prefeito da capital, Eduardo Paes. 

E aí ainda há mais a contestar. Lula disse que “cenas de ônibus queimados deixaram o Rio parecendo a Faixa de Gaza”. A guerra entre milícia e tráfico pelo domínio da periferia pobre e abandonada por União, Unidade da Federação e Município castiga duramente a população. A morte de “Faustão”, sobrinho do chefe miliciano “Zinho”, pela polícia foi vingada por um ataque em que foram queimados 35 ônibus e um trem. A lei do talião adaptada para mau enredo de escola de samba: a polícia mata o bandido e este se vinga do pobre, que o Estado não ampara e a polícia com frequência elimina. Simples como um teorema de Pitágoras.

Ainda assim, o raciocínio presidencial é indigente, para não dizer demente. Em Gaza, os palestinos, guerrilheiros ou não, armados ou não, crianças, mulheres e idosos também, se submetem a fome, sujeira, ruínas e miséria. Ainda que algumas dessas condições sejam sofridas pelos moradores de Santa Cruz, tê-las como iguais é como ver semelhança entre o maxilar de Lula e as barbas de Maomé. Nossas polícias não têm drones nem mísseis, mas as armas usadas pelos matadores a serviço do crime, como já ocorria nas três gestões petistas anteriores. Igualar a situação no Rio à de Israel X Hamas é comparar Jesus Cristo com Zé Magrelo.

Comemorar o 258º dia do governo Lula com o desembarque da razão em seus gabinetes seria um exagero. E o comprova o noticiário: cogita-se desmembrar o Ministério da Segurança Pública do da Justiça. A dificuldade é que isso desprestigiaria o juiz aposentado Flávio Dino do filé da pasta e a reduziria a cinzas. O que a vítima da sanha desumana de milícias, traficantes e policiais corruptos (misturados) teria a ver com isso? Para tentar reduzir os danos lá foi o sub do Dr. Dino, Ricardo Capelli, jornalista do baixo clero, cuja experiência em combate ao crime se resume a matar pernilongos nas noites secas do Cerrado, para enrolar partes armadas e desarmadas enquanto solução não cai do céu. O ministro José Múcio foi convocado para mandar suas tropas patrulhar fronteiras e dar apoio a operações na metade sob controle (nem tanto) do falido Estado, no asfalto ao nível das belas praias cariocas. Subir o morro? Está louco? Militar não subirá morro. Faltou alguém explicar por que o Exército, tendo recuperado sua sucata do quartel da mesma área de onde o capitão Lamarca fugiu com um caminhão delas para dar munição a matadores de seus antigos colegas não teria capacidade para cumprir o dever de devolver ao desmoralizado Estado brasileiro os rincões que a bandidagem ocupou e comanda sem contestação. Melhor parar por aqui, antes que Lula volte a incomodar Putin em consultas vazias, não é mesmo? E que saudade do Festival de Besteira que Assola o País, do inesquecível e insuperável Stanislaw Ponte Preta!

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

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    1. Ótimo Artigo. Neumanne sendo Neumanne Obrigada MIL...

  1. Meu Deus, como está desmoralizado o Exército Brasileiro!!! De um das mais prestigiadas instituições do país a essa situaçao... Muito triste!

  2. Os regimes como os de Cuba, Rússia, China, Irã, Venezuela, Nicarágua, tão admirados pelos esquerdistas brasileiros estão com os dias contados...

  3. Aguardamos com impaciência o inicio do governo Lula3! Quando a gente poensa que já chegamos ao fundo do poço, novos furos aparecem...

  4. Comparando os tempos do Laláu Ponte Preta com os de hoje, os primeiros poderiam ser os desenhos da Peppa e os de Lula3 com o Inferno de Dante

  5. Coitado do brasileiro... fomos de uma cauda à outra nessa distribuição normal da política brasileira, demos um cavalo-de-pau em muitas coisas que iam bem, mas as promessas de resolver o que ia mal estão longe de ser uma realidade...

  6. Que infelicidade do brasileiro... vai de uma cauda à outra nessa distribuição normal da política brasileira, dá um cavalo de pau em algumas coisas que iam bem, e não resolve, como prometido, uma serie de coisas que estavam muito mal... algumas até pioram. Pobre brasileiro...

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