Lula como sol do “Teletubbies”Lula como o sol do "Teletubbies": há culto à personalidade que aguente? - Foto: Reprodução/Twitter Paulo Pimenta

Nenhum aforismo explica o Brasil

Razão tem o aforista que disse que esse negócio de civilização (e noção) acima dos 22 graus de temperatura fica bem dificultado.
05.10.23

Eu e você, amigo ou amiga que me lê, fazemos parte daquela esfera estratosférica, porque rarefeita, chamada de “público leitor brasileiro”. Sim, we few, we happy few. Nem tão happy, vá, mas few decerto, e cada vez mais few. Por isso sei que a memória do amigo, da amiga, responderá de pronto que “sim” se eu lhe perguntar se conhece e gosta de livros de aforismos, como aquela série do Melhor do Mau Humor, do Ruy Castro, ou os de La Rochefoucauld, Lichtenberg, Nicolás Gómez Dávila, Karl Kraus e outros. Sua memória respondeu que sim? Eu sabia, ó meu semelhante, ó meu irmão.

Lembremos alguns aforismos: “A sorte está lançada” (Júlio César); “Vaidades das vaidades, tudo é vaidade” (Eclesiastes); “Sigam-me os que forem brasileiros” (Duque de Caxias); “Não entro em clube que me aceite como sócio” (Patrícia, perdão, Groucho Marx); “Tira a mão daí, André Luís!” (Anônima); “Nunca antes na história desse (sic) país” (o jamais assaz louvado); “Abandonai toda a esperança, vós que aqui entrais” (Pedro Álvares Cabral, digo, Dante); “Fragilidade, teu nome é segurança jurídica” (acho que me embananei aqui); “No Maracanã se vaia até minuto de silêncio” (Nelson Rodrigues); “A história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa” (Patrícia, perdão, Karl Marx). Todo o mundo gosta de uma frase de efeito, vamos admitir.

É pois o aforismo uma arte de gente esperta e de cultores muito refinados. Da mesma extração vem também o brocardo, que é o aforismo jurídico, aquele lá usado pelos advogados, delegados e outros “operadores do direito”, geralmente de origem anônima: “A fumaça do bom direito”, “A lei é dura, mas é lei”, “Na dúvida, a favor do réu”, e o hoje tão em voga “Dá-me as narrativas que te darei o direito”.

Ora, o amigo talvez se lembre também de que, uns dias antes que o Marechal Deodoro da Fonseca – praticando o primeiro de muitos atos heróicos ante oposição nenhuma da história brasileira – proclamasse nossa peculiar República, o governo de D. Pedro II tinha dado um bailão na Ilha Fiscal para comemorar, entre outras coisas, a peculiar solidez da Democracia, digo, da Monarquia. A farra foi esplêndida e o regabofe, luxuriante, tantos foram os champanhes, os black labels com rédibúl, os coquetéis de camarão, os cajuzinhos e as paçoquinhas. A mídia da época veio com tudo, os jornais não falavam de outra coisa. Quem não estava deslumbrante estava chiquéééérrimo, e não houve figurão que tenha dado o cano. O auge foi quando, se não estou me enganando de festa, Sarah Bernhardt cantou alguma coisa do Ary Barroso, e o Conde d’Eu subiu no palco para secundar a apoteose. No fim da folia, que custou um dinheirão, a turma da limpeza recolheu anéis, brincos, sapatos delicados, uma ou outra peça de roupa íntima, lenços usados, carteiras, caixinhas, meias, vergonhas. Deodoro, quando soube, disse, em alto e bom alagoês: ôxe, chega!, criando aquele que os especialistas consideram o primeiro aforismo e também o primeiro brocardo republicano brasileiro.

O resto é história, repetida segundo o aforismo de Patrícia, perdão, Karl Marx.

* * *

O Brasil é um país quente, e aliás cada dia mais quente, e um dos efeitos do sol excessivo na cabeça é criar nas cucas o gosto por palavras especiosas como evidenciar e apoteose. O Brasil adora uma apoteose, embora às vezes pareça confundi-la com apocalipse. Mas nós gostamos tanto de apoteoses que deve até haver crianças batizadas assim: Apoteose de Oliveira, Apoteose de Souza, Apoteose Medeiros. E quase todas hão de sambar com muita graça, com muito donaire. Porque sambar é, evidentemente, uma coisa muito apoteótica.

Outro mal do sol excessivo é que ele não ajuda muito no culto à personalidade. Veja o amigo que dia desses alguém, querendo mostrar que o jamais assaz louvado senhor presidente é, como aquele rapaz lá da Coréia, o solzão que alumia nossas vidas e nos aquece o bem-querer, o retratou antes como um solzinho sorridente. Ora, a intenção, conquanto remanesça pura, teve resultado material que não favoreceu nada a imagem imaculada do imaculado, que terminou muito parecido com um Telettubie.

Fofo. Mas, ora, de duas, uma: o grande líder ou é fofo, ou é grande. O calor da emoção e do sol mexeram demais com a cuca do artista. Razão tem pois o aforista que disse que esse negócio de civilização (e noção) acima dos 22 graus fica bem dificultado.

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  1. CALA A BOCA LULADRALHA IGNÓBIL!!!!!! RECOLHA-SE À SUA INSIGNIFICÂNCIA!!!!!! FECHAR ESSA MALDITA FOSSA DE GRUNHIR ESTUPIDEZ E INSANIDADES É O MELHOR QUE NÓS BRASILEIROS PODEMOS FAZER PELA PAZ!!!!!! CALA ESSA MALDITA BOCA, LULADRALHA BOÇAL IGNORANTE!!!!!!!

    1. O PAÍS MAIS RICO DO MUNDO EM DIVERSIFICADAS FONTES DE TODA ORDEM DE ENERGIAS LIMPAS, EXTORQUINDO O POVO DESSA MANEIRA PRA ESSA LADRALHA TODA PODER SURRUPIAR PROPINAS!!!!! VÁ TRABALHAR, INÚTIL NOCIVO, E FECHA ESSA MALDITA BOCA!!!!!!

    2. LIMITE-SE A NÃO ROUBAR O ERÁRIO E OS BENS DA UNIÃO E A ""TRABALHAR"" - EMBORA A SUA FALTA DO HÁBITO - FAZENDO O SERVIÇO PARA O QUAL É REGIAMENTE REMUNERADO, TOMANDO MEDIDAS EDIFICANTES PARA O NOSSO POVO COMO POR EXEMPLO ""BAIXAR O PREÇO DA CONTA DE LUZ RESIDENCIAL"" A MAIS CARA DO MUNDO!!!!!!

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