ReproduçãoAlberto Núñez Feijóo, do direitista Partido Popular, PP: à frente nas pesquisas

Civilidade espanhola

Rejeição ao separatismo coloca a direita como favorita na eleição deste domingo
20.07.23

Em coletiva em Bruxelas nesta semana, o presidente Lula teceu comentários sobre as eleições gerais antecipadas na Espanha, marcadas para este domingo, 23. “A disputa não se dará entre o PSOE e o Vox. Ela se dará entre o PSOE e o PP, o que demonstra que ainda existe civilidade na discussão política”, disse Lula em uma coletiva de imprensa na quarta, 20. A despeito das besteiras que o petista disse na última viagem, como agradecer a África por 350 anos de escravidão, Lula desta vez disse algo sensato. Apesar de alguns partidos radicais à direita ou à esquerda, são os dois grandes e tradicionais, o Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE, e o Partido Popular, PP, que estão dominando o debate. A julgar pelas pesquisas, o poder deve sair dos primeiros, da esquerda, para os últimos, de direita, em uma eleição pautada  principalmente pelo fantasma do separatismo, e não tanto pelas agendas  dos partidos Podemos ou Vox.

Nas pesquisas eleitorais, o PSOE, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, está atrás com 28%, enquanto o PP, liderado por Alberto Núñez Feijóo, aparece na dianteira com 34%. O levantamento indica que, para assumir o governo nacional, a centro-direita terá de formar uma coalizão com a direita radical do Vox, com 13% das intenções de voto. O Vox, contudo, não destila o mesmo ódio a estrangeiros ou aversão à democracia que outros grupos de direita populista. Fundado por dissidentes do PP, o Vox cresceu ao longo da década passada na onda do medo do separatismo catalão fragmentar a Espanha de vez. Sua principal bandeira é a centralização política e a revogação de autonomias regionais. O Vox se fundamenta em um nacionalismo radical em prol de uma identidade única espanhola. É notório pelo saudosismo franquista, mas não propõe um retorno à ditadura. Além disso, seguindo a tradição da sociedade espanhola, o Vox tende a ser mais tolerante em relação à imigração e à União Europeia. Deverá se subordinar ao moderado PP, que governou a Espanha antes da coalizão atual, em que o PSOE conseguiu conter o radical Podemos. “A maioria dos eleitores do PP não endossa as políticas da direita radical”, afirma Jesus Palomar Baget, da Universidade de Barcelona.

No lado rival, o PSOE de Sánchez teve a imagem arranhada pela conivência com separatistas catalães e bascos. O primeiro-ministro assumiu o poder em 2018, menos de um ano após o referendo da Catalunha. Para acalmar os ânimos, ele concedeu indulto a nove separatistas, dentre eles o número 2 da rebelião, e desidratou a lei de sedição. Em relação aos bascos, Sánchez incluiu em sua base de apoio o Bildu, partido herdeiro do ETA, extinto grupo terrorista basco responsável por 850 mortes. Sánchez montou uma inédita geringonça com a esquerda radical, o que não funcionou muito bem e nem foi bem aceito. “A falta de experiência de Sánchez com uma coalizão acabou comprometendo o seu governo”, diz Pedro Riera Sagrera, da Universidade Carlos III de Madrid.

A alternância da esquerda para a direita deve ter um impacto limitado no Brasil. No início do mês, a Espanha assumiu a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, instituição responsável por coordenar as políticas nacionais no bloco. O Conselho também finaliza tratados, como o acordo com o Mercosul. Por ora, a liderança nas negociações cabe à Comissão Europeia, outra instituição da UE. O Conselho pode revisar as diretrizes das negociações, mas o Vox não deve ser capaz de minar o acordo por conta própria. O PP, que comandaria a eventual coalizão, é a favor do acordo, enquanto o Vox não trata o tema como prioritário desde 2020, quando protocolou um pedido contra a então configuração do texto. No final, nenhum governo espanhol deve perder a oportunidade de selar o acordo UE-Mercosul, em negociação desde a década de 1990. Além dos laços histórico-culturais, a Espanha é um dos países do bloco que mais exporta para a região.

A volta do PP ao poder, mesmo em uma provável coalizão com o Vox, não deverá ser uma má notícia ao Brasil, caso se confirme nas urnas. E Lula surpreendentemente parece ter razão desta vez. “Na União Europeia, sabemos que há várias correntes de direita, mas ainda mantêm-se vários partidos importantes, partidos seculares, que são partidos conservadores que fazem a política da forma mais razoável possível. É o caso da Espanha”, disse o presidente brasileiro.

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  1. A vontade do eleitorado é tendencialmente pendular. O PSOE, verdadeiro partido socialista, diferentemente de outros partidos europeus desse nome que atuam mais à centro-esquerda do que declaradamente à esquerda, guinou ainda mais a esquerda para conseguir chegar ao poder. O seu governo foi péssimo, castigando muito particularmente o tecido empresarial. A guinada à direita é inevitável. Só sobrou para o PSOE agitar o fantasma Vox para tentar mobilizar um eleitorado a votar contra o PP.

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