Lula Marques/ Agência BrasilRui Costa em audiência no Senado: muitos amigos na Bahia, poucos na ilha da fantasia de Brasília

Dilma de calças

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, não tem carisma nem tato para fazer articulações em Brasília ou destravar obras pelo país. Além disso, também lhe falta verba
23.06.23

Era março quando o presidente Lula (PT), durante evento no Palácio do Planalto para anunciar um pacote de bondades, fez elogios ao ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. “Eu encontrei um cara para a Casa Civil que falei: ‘É a minha Dilma de calças”‘. O jeito “xerifão” de Costa — como descreveram nomes da política baiana — e seu perfil altamente técnico, voltado para os detalhes de cada projeto que passa por sua mesa, parecem agradar ao presidente, assim como Lula também se deixou encantar por Dilma Rousseff, que comandou a Casa Civil entre 2005 e 2010.

Acontece que muita coisa mudou entre os tempos de Dilma e Costa. Quando a gerentona ocupou a Casa Civil, não havia grandes embates entre o governo e o Congresso e ela pôde exercer o cargo mesmo sem nenhum talento para o contato com os parlamentares. Neste terceiro mandato, Lula tem o desafio de dialogar com uma frente ampla e disforme, que conta com a participação de vários partidos e em que o PT é minoritário. Para articular com esses múltiplos interlocutores, o presidente escolheu dois nomes. O médico Alexandre Padilha foi para a Secretaria de Relações Institucionais e Rui Costa, para a Casa Civil. Ambos têm sido criticados por não desempenharem a contento suas funções, mas é sobre o xerifão que recaem as críticas mais pesadas. O episódio mais recente, uma fala desastrosa acusando Brasília de ser uma “ilha da fantasia”, desagradou a todos, tanto da direita quanto da esquerda, e obrigou Costa a se retratar.

Rui Costa ficou conhecido como um tocador de obras quando ocupou o governo da Bahia, entre 2015 e 2022. Recebeu o apelido de “Rui Correria”. Ele  levou para a capital do país a mesma forma de trabalho que marcou sua gestão, mas ela parece não se adequar bem aos ares de Brasília. “Rui tem um estilo de não ficar fazendo muita firula, é mais gestor. Eu fui líder de governo por quatro anos na Assembleia Legislativa da Bahia. Ele trabalhava muito. Não é diferente aqui”, diz o deputado federal Zé Neto, do PT da Bahia.

Costa ascendeu à política pelas mãos do atual líder do governo no Senado, Jaques Wagner. Na primeira gestão de Jaques Wagner, Costa foi designado chefe de Relações Institucionais. Ficou conhecido por pular etapas. Evitava contato com os deputados federais. Ia direto aos prefeitos para angariar apoio. Em um estado com 417 prefeituras, Jaques Wagner terminou o primeiro mandato com 88% de apoio, conforme números internos do governo, na época. Satisfeito, ele indicou Costa para sucedê-lo, ao fim do segundo mandato. O nome estava longe de ser uma unanimidade dentro do PT, mas a resistência foi silenciada. Ainda hoje, aliás, os vínculos fortes de Rui Costa no partido se restringem ao senador Jaques Wagner e ao deputado Zé Neto. Ele também é próximo de outro senador baiano, Otto Alencar, do PSD.

Em 2014, assessores de imagem diziam que faltava carisma a Rui Costa. Ele  passou por uma cirurgia para não depender tanto de óculos e assim ter um ar mais leve. Também fez acompanhamento com fonoaudióloga para aprender a falar mais pausado e evitar trocas de R por L, com as quais, às vezes, escorregava. Bem apadrinhado, Costa ganhou nas urnas. Enquanto Jaques Wagner era querido por ser o “rei da arte da política”, Rui tornou-se “respeitado”. Entre os políticos baianos, conquistou a fama de ser pragmático e pouco ideológico, muito focado em obras e de pouco diálogo. Praticamente não mantinha agenda com deputados estaduais. Quando as conversas ocorriam, eram rápidas, com pouca troca de olhares. Na maior parte do tempo, ele fazia anotações enquanto os deputados falavam. Como governador, Rui manteve o hábito de negociar diretamente com os prefeitos, assim como fazia quando cuidava das Relações Institucionais.

Atualmente, como ministro-chefe da Casa Civil, também faltam a Rui Costa  carisma e disposição para o diálogo. Ele se encontra com poucos deputados, prefere manter agenda com ministros. Quando viaja ou marca reuniões, quase sempre se encontra com os conterrâneos da Bahia, entre eles muitos prefeitos. Com as críticas se acumulando no Congresso, ele passou a agendar reuniões com líderes de frentes parlamentares. Teve encontro com a Frente do Empreendedorismo e está em articulação nas próximas semanas com a Frente de Comércio e Serviço e a Frente da Agropecuária. Seus aliados acreditam que ele está no meio de uma curva de aprendizado, que em algum momento pode  render frutos. Caso contrário, Costa corre o risco de ter sua atuação na Casa Civil abreviada a contragosto.

Há um obstáculo que Rui Costa não é capaz de pular sozinho. Da mesma forma que Dilma ficou conhecida como a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, o novo ministro deveria responder pela volta do PAC. Para dar conta da função, Rui Costa trouxe para Brasília, como nome de confiança, Marcus Cavalcanti, secretário de infraestrutura durante sua gestão no governo da Bahia e designou-o para a Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Diferentemente de Dilma, no entanto, o orçamento escasso mantém uma trava sobre o substituto do PAC. O plano de investimentos em infraestrutura deveria ter sido anunciado em maio. A verba estimada era de cerca de 500 milhões de reais por ano, mas o recurso foi considerado insuficiente. O governo ainda tenta encontrar uma nova fonte de financiamento, via parcerias privadas. Mas tudo anda muito devagar.

Como as verbas não saem, Rui Costa tem tido dificuldade de fazer novos amigos. Ele ainda poderia distribuir cargos na máquina estatal, mas por ordens superiores têm travado esse processo, para que Lula possa ter bala na agulha na hora de negociar votações específicas. Rui Costa, assim, está muito parecido com uma Dilma de calças, mas com os bolsos vazios.

 

 

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  1. Fundamentalmente, faltam a Rui Costa inteligência e caráter. Caráter não é exigência para cargo nenhum no Brasil. Muito menos inteligência. Dilma é um exemplo de que a total falta de inteligência pode levar um imbecil muito longe, no Brasil e no exterior.

  2. É esse nada somado com aquela nada que resulta em exata e absolutamente nada, ou seja, zero à ""esquerda"" que é a terceira característica mais típica da petralhaladralha. A primeira é a ""ladroeira vocacionada"", claro, a segunda é a ""nocividade"" lógico, e, a terceira é essa: o ""zero à ""esquerdalha"""", óbvio.

  3. Rui Costa é um m*erda mas não está errado quanto a Brasília. A ofensa das virgens é só mostra da sua desfaçatez. A indicação de um político com o perfil dele pra casa civil só mostra a pouca apetência do PT pra negociar e sua vocação pra atropelar os demais poderes.

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