Reprodução

“Temos o agricultor mais perseguido do mundo”, diz Aldo Rebelo

O relator do Código Florestal afirma que os produtores rurais não podem ser julgados pelas suas opiniões, mas pelos alimentos que colocam na mesa do povo brasileiro
23.06.23

Relator do Código Florestal, Aldo Rebelo, do PDT, é um dos raros políticos de esquerda que criticam abertamente os principais mantras do movimento ambientalista e as políticas do governo Lula.

Rebelo, que já foi responsável pela articulação política no governo Lula e ministro de Defesa de Dilma Rousseff, é contra a ideia de que o meio ambiente deve permanecer intocado, como um santuário. “Quanto mais você desenvolve, mais você protege e mais você preserva”, disse ele ao Crusoé Entrevista.

Para ele, o desenvolvimento de regiões como a Amazônia é fundamental para melhorar a qualidade de vida da população, o que por sua vez gera consequências positivas para a natureza. “O atraso, a falta de saneamento básico, de recursos para a educação e para a saúde é que provocam a destruição do meio ambiente”, diz ele.

Deputado federal pelo estado de São Paulo por seis mandatos, ele critica o laudo do Ibama que suspendeu a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas. “Uma pesquisa da Universidade Federal foi manipulada e a referência que havia a corais que existiam há 20 mil anos foi dada como se eles existissem hoje. Isso foi transformado pelo Ibama, a partir de uma publicação do Greenpeace, em um argumento para proibir essa pesquisa na foz do rio Amazonas. Há muita manipulação sobre isso. Infelizmente, nós temos uma autarquia (Ibama) que pode decidir tudo, sem passar pelo Congresso”, diz Rebelo. Ele defende que os parlamentares, e não os técnicos do Ibama,  deveriam decidir se os projetos que geram divisas ao país devem ou não seguir adiante.

Rebelo afirma que as ações de ONGs que impedem o desenvolvimento econômico da região amazônica contribuem para o narcotráfico. “Qual é a ligação entre esses dois poderes (ONGs e narcotráfico)? Quando um imobiliza a atividade econômica, libera mão de obra jovem para o outro poder, que é o narcotráfico. É essa a realidade que há na Amazônia”, diz.

O político defende que o Cadastro Ambiental Rural, o CAR, cuja função é avaliar se os proprietários estão cumprindo a legislação ambiental, fique sob a tutela do Ministério da Agricultura. “Se o CAR ficar no Ministério do Meio Ambiente, ele estará sob risco de manipulação. Isso está sendo utilizado para perseguir a agricultura e os agricultores. Nós temos o agricultor mais perseguido do mundo”, diz Rebelo. “Principalmente os pequenos. Eu vi agora no Mato Grosso, milhares de assentados em reforma agrária, que não têm o título da terra, não têm regularização. Eles foram abandonados pelo Estado. São tratados como criminosos. Têm as suas propriedades embargadas. São os pequenos agricultores que têm uma terra muito restrita e precisam usar um pouco mais dela para sobreviver”, diz.

Rebelo também critica os discursos que acusam os agricultores de invadir  reservas indígenas e de colocar “veneno” nos alimentos, quando esses produtores são os que fornecem os alimentos para a população. “Quem garante a democracia da mesa, da alimentação, é o produtor rural. Mas infelizmente o governo desconhece essa realidade. Em vez de julgar o produtor rural pelo que ele faz, quer julgar pelo que ele pensa. Mas isso não é atribuição do Estado. Não se pode olhar para o agricultor e julgá-lo porque ele é conservador, porque não concorda com isso ou aquilo. Não. É preciso julgá-lo pelo que ele faz, pelo interesse nacional, que é prover segurança alimentar”, diz.

O político alagoano ainda comentou a articulação política no governo Lula, que está a cargo de Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, e Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil. “Esses coordenadores estão tentando consertar a sombra de uma vara torta. Não tem como essa agenda política ter sucesso na Câmara dos Deputados. Essa agenda identitária, ambientalista e de ressentimento que o governo adota não vai ter sucesso”, diz. “Se o presidente Lula adotasse uma agenda da retomada do crescimento, de pacificação do país, de unir o país em vez de dividir, eu garanto que esses dois coordenadores dariam conta de resolver.”

Rebelo pontua que Lula antes viajava menos para se dedicar à costura de boas relações com o Congresso. “Pode consultar a agenda. As viagens eram raras. Ele hoje está voltado para uma agenda internacional, que acha que vai resolver os problemas da Amazônia”, diz. “Ele tem que governar o Brasil a partir de dentro, e não a partir de fora.”

Assista à entrevista abaixo:

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. O Brasil precisa de indústrias de alta tecnologia em todos os campos, medicina, microeletrônica, espacial, elétrica, mecânica, saneamento, alimentação, automobilísica e de transporte elétricos, aeronáutica, educação, cultura, entretenimento, turismo, computação, etc. etc. etc...e o Lula faz o quê? Quer buscar isso na Rússia, nas ditaduras comunistas,? Está perdendo um tempo enorme com ditadores e chupins incompetentes. Una-se aos países democráticos e ricos, acorda Lula, trabalhe + e - viagens !

  2. Confesso que estou surpreso com a lucidez que Aldo Rebelo tem mostrado! Finalmente alguém de dentro do sistema da esquerda mostra clareza e objetividade!!

    1. Rebelo desde da época do Lula que se destacava dos demais petistas por atos de decência. E agora afastado do Governo mostra com conhecimento de causa os defeitos da administração

  3. Aldo Rebelo tem surpreendido muito. E positivamente. Parece ser um dos poucos esquerdistas sinceros neste país.

Mais notícias
Assine agora
TOPO