Foto: Rafa Neddermeyer/Agência BrasilLuis Lacalle Pou, o presidente do Uruguai, no Itamaraty; ele passou um merecido pito em Lula por causa de Maduro

Lacalle pou, Maduro pá

Lacalle Pou, presidente uruguaio, pode chamar qualquer coisa pelo nome que tenha; nós é que somos pá e podemos dar com um pou em cana
02.06.23

O amigo acordou bem? Tomou um café bom? Está de bom humor porque hoje é sexta-feira? Se sim, eu o convido a meditar comigo a respeito do pito que o jamais assaz louvado senhor nosso presidente levou do pou! Digo, do Pou. O presidente do Uruguai. Ele se chama Pou, Lacalle Pou, e, pela paulada que deu, podia se chamar também Thump, Bang, Zás, Poff. Tudo seguido de exclamações, muitas exclamações, como nos bons gibis de antigamente, em que a porradaria cantava mais alto do que os valores que ora se alevantam.

O caso foi que o senhor nosso presidente, que Deus e a medicina especializada o conservem, recebeu aqui no Brasil, com os maiores rapapés, com as maiores demonstrações de apreço, respeito e acatamento, Nicolás Maduro, o esclarecidíssimo protetor perpétuo da Venezuela e futuro restaurador do Vice-Reinado de Nova Granada. Maduro veio aqui para uma reunião com os líderes dos países da América do Sul e, ao recebê-lo, nosso senhor presidente comunicou, ex cathedra e urbi et orbi, que todas as coisas ruins que as pessoas veem na Venezuela (e depois saem contando por aí) são “narrativas construídas” contra ela. Ora, eu entendo o termo “narrativas”, nesse contexto, nessa narrativa presidencial aí, como “mentiras”. Mas pode ser que eu esteja entendendo errado. O amigo me ajude a aplicar o termo à moda presidencial, e vejamos.

Dizem que a coisa na Venezuela tá feia? Mentiras! Narrativas! A coisa lá tá linda. Dizem que na Venezuela tem pobreza? Narrativas! Lá se usam bolívares como papel de parede. Dizem que na Venezuela tem fome? Narrativas! O venezuelano mais raquítico só sai da cama via guindaste. Dizem que tá todo mundo fugindo da Venezuela porque lá não tem emprego e sobram violência e doenças erradicadas no resto do mundo? Narrativas! Lá falta mão de obra, a paz é de campo santo e tá todo mundo rebentando — de saúde. Dizem que na Venezuela tá cheio de preso político? Narrativas! Tem, sim, uns caras na grade, mas é tudo gente antidemocrática. Dizem que na Venezuela o Judiciário fechou o Congresso? Nar-ra-ti-vas! Lá é igual aqui, pô! Dizem, por fim, que na Venezuela não tem democracia? Pera, que aqui é até caso de abrir parágrafo.

A Venezuela, não custa lembrar, é aquele país que, segundo uma das narrativas do nosso jamais assaz louvado presidente, tem democracia até demais. Pelo que ele diz, você anda pelas ruas de Caracas e de repente cai no chão: escorregou na democracia que jorra de algum cano rachado. Você passeia por Maracaibo e alguma coisa cai na sua cabeça: quando você acorda, no hospital, descobre que foi uma lasca de democracia que desgrudou de um viaduto ou de um prédio pitorescamente havanizado. Você passeia por Iribarren e vê um bando de urubus voando e formando no céu a palavra “democracia”. E ainda cantam como um coro de anjos, esses urubus.

E foi aí que entrou o pou! do presidente Lacalle Pou. Tendo ele mesmo recebido lá no seu Uruguai um número razoável de venezuelanos mais cheios de problemas e necessidades do que de conversa, ele se admirou da fala do presidente brasileiro. E, vejam o topete do Pou, parece até que o criticou. Disse o Pou que é preciso chamar a coisa — a coisa que há lá na Venezuela — pelo nome que tem. E que é preciso parar de conversa fiada quando o assunto é democracia e direitos humanos. Porque essa conversa de “narrativa”, disse ele com outras palavras, lhe parece muito fiada. No que aliás foi secundado pelo presidente do Chile, cidadão mais do que insuspeito de antipatia quer para com Maduro, quer para com o Nossa Santidade.

Bom, ele, Pou — ao menos ele —, pode chamar qualquer coisa pelo nome que tenha. Ele é Pou. Nós aqui é que somos pá e, dependendo do que e de como a gente chamar as coisas, podemos dar com um pou em cana e com os burros n’água. Aliás, haja água pros burros. Ou, como alguns jornalistas que estiveram lá cobrindo o fim do encontro, podemos é levar com um pou no meio das fuças.

Aliás, hostilizar jornalista era, até dezembro, golpismo. Agora, o que será? Tem que chame de amor, esse amor que voltou, brotou e fica, a cada dia, mais maduro.

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  1. Esse analfabeto, despreparado que está desgovernando o País em vez de procurar receber o dinheiro do Povo que mandou para Venezuela está lambendo as botas de um ditador tão frustrado quanto ele o dinheiro

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