Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência BrasilO ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (esq), com o o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates

Como o governo pode quebrar a Petrobras (de novo)

Até onde o governo vai forçar a mão sobre a petroleira para fazer dela um instrumento eleitoreiro?
18.05.23

Nesta semana, Lula conseguiu “abrasileirar” a política de preços da Petrobras. De acordo com comunicado da estatal, a estratégia usará referências de mercado como “o custo alternativo do cliente” e “o valor marginal” para a petroleira. E pronto. O comunicado não entra em detalhes e indica um grau de transparência sobre as definições bastante aquém do desejável para acionistas e brasileiros em geral.

Quase que concomitantemente, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, anunciou uma nova redução no preço da gasolina e do diesel. A ideia é a de sempre: confundir a plateia e induzir a conclusões erradas. A redução divulgada agora atendia à fórmula demonizada pelo governo — o PPI (Preço de Paridade de Importação), que indicava que a gestão atual passou os últimos 30 dias, aproximadamente, cobrando mais caro pelo combustível do que ele era comercializado internacionalmente.

O que preocupa agora, no entanto, é até onde o governo quer forçar a mão sobre a petroleira para fazer dela um instrumento eleitoreiro. Baixar o preço da gasolina e do diesel é, por óbvio, bom para boa parte da população e tem efeitos benéficos sobre a inflação em um país com prevalência do modal rodoviário. O problema é manter o equilíbrio entre combustível a preços mais modestos e saúde financeira da estatal. Caso o governo se apaixone pelas “maravilhas” do controle de preços, poderá afundar novamente a petroleira em um atoleiro. O prejuízo será pago com dinheiro dos contribuintes (de novo).

É importante distinguir aqui dois momentos da Petrobras sob gestão petista. Durante os dois primeiros mandatos de Lula (mais especificamente entre 2005 e 2010), o presidente da estatal foi Sérgio Gabrielli, que soube dosar a sanha pela interferência política na estatal e os resultados. À época, Gabrielli manteve a empresa gerando lucro e distribuindo dividendos. A empresa estava com as contas em dia, recebera o selo de grau de investimento e podia aumentar o endividamento para ajudar o país. Mesmo nesse período, era possível ver a semente do que causaria problemas à empresa no futuro. Em 2007, comemorou-se a aquisição da refinaria americana de Pasadena, que custaria mais de US$ 1 bilhão e viraria um dos piores negócios da história da petroleira alguns anos depois.

Mesmo assim, as contas pareciam ir bem. O preço do petróleo subia e garantia fôlego financeiro à empresa. No período seguinte, Dilma Rousseff entregou a estatal para Graça Foster. Foi o terceiro mandato consecutivo do PT e não houve mais nenhum constrangimento em utilizar a petroleira para tentar controlar a realidade. A Petrobras assumiu uma fórmula de preço própria e descontada em relação ao exterior e passou a aumentar o endividamento sob promessas de crescimento e um futuro promissor. No plano estratégico para os anos 2013 a 2030, lançaram-se as premissas do sucesso da Petrobras, com o petróleo custando mais de US$ 100 o barril durante alguns anos e estabilizando-se em US$ 95. A estatal aumentaria a capacidade de produção para 4 milhões de barris por dia até 2020 (atualmente, são produzidos 2,8 milhões de barris por dia) e investiria para que a capacidade de refino pudesse atender a toda a demanda nacional. A realidade se impôs; o preço do petróleo caiu para US$ 48 o barril. O investimento em refino se perdeu entre incompetências e desvios e a Petrobras chegou a ser conhecida como a empresa mais endividada do mundo. Além disso, passou a registrar crescentes prejuízos. O ciclo só foi interrompido com o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Tomando como premissa básica que o governo agora pretende interferir na Petrobras para cumprir o compromisso de campanha de deixar o combustível mais barato (porque ninguém come em dólar como diriam alguns membros do PT durante a campanha eleitoral) e para controlar a inflação (como já disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a Petrobras poderá baixar os preços para compensar a reoneração da gasolina e do diesel em julho), é preciso atentar aos possíveis momentos em que a política desmontará a petroleira lentamente, como visto anteriormente. Em breve, a Petrobras apresentará um novo Plano Estratégico — por isso, Crusoé preparou uma lista de pontos a serem observados, que indicariam qual caminho a maior estatal brasileira está trilhando:

1 – Será que novamente haverá promessas de crescimento da produção no futuro que custearão o aumento dos investimentos?

2 – Usarão premissas de preço de petróleo adequadas ao histórico da commodity ou simplesmente tentarão adivinhar o preço do combustível no futuro longínquo, quando tudo estará ótimo?

3 – Serão apresentadas soluções inovadoras e milagrosas sem respaldo na realidade para novas vertentes de negócios extremamente benéficos para o meio ambiente e para o povo brasileiro?

4 – A empresa comercializará combustíveis com preços prejudiciais à própria saúde financeira para alimentar esperanças que tornarão os prejuízos ainda maiores no futuro?

Com o PT novamente na gestão da maior estatal brasileira, é preciso prestar toda atenção possível.

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  1. Ele Lula agora não quer só quebrar a Petrobras quer fazer como Maduro fez na Venezuela quer quebrar o Brasil . E opior é é que nós brasileiros não temos onde nos refugiarmos

    1. Ora maria saber você sabe mas pode ter medo até de pensar e não lhe tiro a razão ... abraço, rs.

  2. Já no segundo mandato de Lula o preço da ação da Petrobrás já estava caindo muito, estabilizou num patamar mais baixo, caiu a geração de dividendos. O fundo do poço foi em janeiro de 2015, com uma ação valendo meros R$ 4,15. Foram quase 10 anos sem acionistas receberem juros (só voltou no governo Temer), ou seja, lucro zero ou ínfimo.

  3. Nada a ver matéria tola para idiotas MAS vamos a FATOS ... no auge da crise e a gasolina chegou a $6,80 em média o barril do petróleo custava $128dólares e 30% era ICMS ... hoje o barril do brent custa $75dólares ou -40% ... o dólar era $5,20 e hoje $4,98 e assim o preço médio hoje deveria ser $4,00 em vez de $5,10 projetados ... haja blefe e manipulação no rabicó de idiotas desinformados que pelo visto adoram entubação reversa desde que feita por quem quebrou a BR e se deixarem quebra de novo.

  4. É o destino do PT arrasar a Petrobras, se não pela corrupção, pela má gestão. E pensar que poderia ter sido privatizada (já que os prejuízos futuros serão socializados, certamente). Obrigado Bolsonaro e Paulo Guedes!

  5. O acionista brasileiro e os pagadores de impostos são lesados e não há consequências. O investidor americano consegue reaver seus prejuízos, também às custas dos nossos impostos.

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