ReproduçãoO casal presidencial deixa o hotel Marriott Grosvenor House, em Londres: poder é contagiante

Lulinha ostentação

Desde que assumiu a Presidência pela primeira vez, em 2003, o petista gosta de luxo, mas a opulência atual embute perigos
18.05.23

Em seu terceiro mandato, Lula não tem se preocupado em aparentar uma vida frugal e espartana, como nos anos de sindicalista e de líder do PT. Já no seu ato de posse, o presidente assinou o documento oficial com uma caneta Montblanc de 7,7 mil reais. Dois sofás elétricos de mais de 60 mil reais foram comprados para o Palácio da Alvorada, além de uma poltrona de 49 mil reais e uma cama de 64 mil. Viagens ao exterior têm sido tão frequentes quanto luxuosas. Em Portugal, ele usou uma gravata comprada por Janja da marca Ermenegildo Zegna, no valor de 1.092 reais. Em Londres, para onde foi para participar da coroação do rei Charles, ele se hospedou no hotel Marriott Grosvenor House em um suíte de 170 metros quadrados, cuja diária gira em torno de 37 mil reais. Para acomodar toda sua comitiva, 57 quartos do hotel foram reservados.

Mas Lula cultiva gostos elitistas há tempos. Ele é assim desde que foi morar, pela primeira vez, no Palácio da Alvorada, em 2003. A diferença daquele momento inicial, há vinte anos, com este atual é que a disseminação das redes sociais, a aprovação menor do governo e a estagnação da economia tornam a situação muito mais perigosa para presidentes que pavoneiam.

No início de seu primeiro mandato, Lula estabeleceu uma mudança forte em relação ao seu passado de sindicalista. Sua metamorfose foi um dos temas de uma entrevista do ministro do STF Maurício José Corrêa deu à revista Veja: “Meu ponto é que o presidente não é mais a mesma pessoa que se apresentou na campanha. A gente vê pela elegância dele em se vestir, pela forma de pentear o cabelo, suas gravatas e seu modo de agir. O poder é algo contagiante. O presidente tem uma origem humilde. É um operário que chegou ao poder. Isso é lindo, mas alguém que tem helicóptero e jato à disposição, que desce onde quiser, tem aquela criadagem toda, até aquelas mulheres bonitas que vão lá visitá-lo, pode mudar de comportamento. Isso tudo encanta”.

É esse o Lula dos últimos vinte anos — excluindo obviamente os 580 dias em que ficou na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Como já faz muito tempo que essa transfiguração do sindicalista ocorreu, vale relembrar um pouco aqueles primeiros anos de mandato do presidente. À época, ele era acusado de viajar demais para o exterior e de deixar o governo nas mãos do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do chefe da Casa Civil, José Dirceu. É uma atitude idêntica à de hoje, ainda que os nomes tenham mudado.

Ao tomar posse pela primeira vez, Lula ordenou a construção de um aviário para emas e patos no Palácio da Alvorada ao custo de 23 mil reais. No Palácio do Planalto, finalizou a construção de um ginásio de esportes de 147 metros quadrados, com sala de fisioterapia, por 62,5 mil reais. A Granja do Torto, que ele usava como residência alternativa, ganhou um banheiro ao lado da sauna e uma reforma na área da churrasqueira. Foram comprados eletrodomésticos para o seu gabinete, como frigobar, máquinas de café, forno elétrico e televisões. O enxoval foi renovado, com a aquisição de roupões de fio egípcio, taças de cristal, toalhas, lençóis e colchões. Quarenta peças de jogo americano foram obtidas por 15 mil reais, em valores da época.

A lista antiga de compras, assim como a de hoje, é extensa. Em 2004, Lula encomendou um novo avião presidencial, um Airbus, batizado de Aerolula. Uma suíte presidencial foi incluída na aeronave, cuja adaptação saiu por 13,5 milhões de dólares. O presidente circulava com ternos do brasileiro Ricardo Almeida, tinha entre seus bens um carro Chevrolet Ômega Fittipaldi, com motor de 3.6 V6 de 292 cv e era flagrado tomando vinhos caros.

Além dos luxos adquiridos com dinheiro público — no caso, do pagador de impostos brasileiro — Lula também financiou seu estilo de vida com dinheiro de origem ilícita. Nesses casos, o presidente buscou esconder ao máximo suas aquisições. Em outubro de 2010, dois meses antes de terminar o seu segundo mandato como presidente, um sítio foi comprado em Atibaia por 1,5 milhão de reais para Lula. O imóvel foi registrado no nome de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, ainda que estivesse sendo usados pelo presidente. Na adega da propriedade, havia vinhos Château Petros de mais de 10 mil reais. A cobertura no triplex do Guarujá ficou no nome da OAS. O imóvel tinha três quartos, suíte, cinco banheiros, varanda gourmet e elevador privativo. Uma loja da marca de cozinhas planejadas Kitchens, no bairro paulistano dos Jardins, forneceu equipamentos e eletrodomésticos para os dois imóveis. Tudo comprado com dinheiro vivo pela empreiteira OAS. A conta só dos eletrodomésticos ficou em 312 mil reais (os dois casos, de Atibaia e do Guarujá, foram anulados com a suspeição do ex-juiz Sergio Moro e não houve retomada).

Lula teria dinheiro para comprar tudo isso. Apenas com o salário de presidente do PT, de 27 mil reais atuais, ele já se encaixa no estrato da classe A, isso sem contar os dividendos obtidos e guardados dos tempos de presidente. Ele não precisaria receber propinas e vantagens indevidas. Essa foi, portanto, uma opção pessoal, que se mostrou errada. “Já faz muito tempo que Lula é um cidadão de classe média alta e, como tal, poderia muito bem comprar o apartamento triplex do Guarujá, um imóvel de classe média alta. A situação socioeconômica de Lula era e é tão confortável que, além do tríplex, ele teria plenas condições de dar uma entrada e pagar o saldo devedor de um segundo imóvel de classe média alta, no caso o sítio em Atibaia. O problema foi aceitar os imóveis e as respectivas reformas como vantagens indevidas, propina de empreiteiras contratadas pelo governo”, diz o jornalista Ivo Patarra, autor do livro 20 anos de corrupção.

Não há hoje informações de que Lula esteja financiando seus gostos requintados com dinheiro de origem ilícita. E, novamente, ele não precisaria disso para ter um alto padrão de vida. Seu patrimônio acumulado é de 7,4 milhões de reais e em janeiro ele voltou a contar com todos os confortos aos quais os presidentes têm direito. Mas a ostentação nos tempos atuais, ainda que lícita, pode trazer mais problemas que no passado.

A situação de Lula é menos confortável do que há vinte anos. A aprovação do governo está em torno de 39% — bem abaixo dos cerca de 70% do início de seu primeiro mandato. Além disso, a economia deve crescer apenas 1% este ano e o desemprego pode chegar a 9,5%. Tudo isso aumenta a chance de os brasileiros se indignarem com a gastança para manter um presidente exigente nos seus gostos, mas que não consegue melhorar o poder de compra da população. “Lula foi eleito principalmente com uma promessa de elevar o consumo. É por isso que ele tem buscado aprovar um novo carro popular, baratear as viagens de avião e zerar o Serasa. Se essas coisas darem certo para todos, então as cenas de luxo não terão impacto algum”, diz Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas. “Mas, se a economia não decolar em três ou quatro meses, então essas imagens serão um soco no fígado de cada brasileiro.”

Entre seus eleitores mais fiéis e petistas, Lula acaba sendo protegido pela polarização. Atualmente, a população se divide em dois grupos bem definidos, e quem gosta de um candidato nunca aceitaria votar no seu oponente. Com essa barreira estabelecida na sociedade, os políticos ganharam um salvo-conduto. Eles podem cometer barbaridades, como perseguir pessoas com armas na rua ou cuspir na cara do rival, que não perdem eleitores. Mas eles claramente se sentem incomodados quando é o político do outro lado que comete os seus pecados. A ética, assim, foi relativizada e vivemos todos sob um duplo padrão moral: o que vale para o meu candidato não vale para o seu. “Os petistas não estão mais nem aí para o que o Lula faz. Eles estão mais interessados em apontar o dedo para o Bolsonaro”, diz o cientista político Paulo Kramer, professor aposentado da Universidade de Brasília. “Infelizmente, a ideia de uma ética universal foi para o espaço dentro desse clima de radicalização.”

Mas, na população geral, o desfile de mordomias pode dificultar a conquista daqueles que votaram em Lula para evitar uma vitória de Jair Bolsonaro. Muitos desses brasileiros são moderados, e podem escolher um ou outro candidato. Assim, a chance de que eles torçam o nariz para ele ao ver as cenas de opulência é alta.

Esses brasileiros também podem ficar raivosos ao ver as postagens da primeira-dama Janja nas redes sociais. Essas plataformas digitais são o melhor espaço para quem quer ostentar, assim como também são um lugar privilegiado para cultivar o ressentimento. Em meio à polêmica sobre o preço da gravata comprada em Lisboa, Janja publicou uma foto do marido com a frase: “Começando o dia de trabalho aqui em Portugal todo lindo de gravata nova! #quemamacuida”. Janja também tem se empolgado com as viagens oficiais, nas quais tem aparecido mais do que se espera de uma primeira-dama. “Good morning, Londres”, escreveu ela em um vídeo descendo com Lula pelas escadas do avião.

Admitindo que os gastos de Lula atualmente sejam todos legais, ele tem todo o direito de comprar o que quiser e viver como bem entender, gastando o próprio dinheiro. Luxos comprados com dinheiro público, por sua vez, são mais complicados, porque o momento atual é de déficit nas contas públicas e não há recursos disponíveis para investimentos. Além do mais, se Lula não entregar o que prometeu para a população, melhorando o padrão de vida, então é bem provável que uma boa parte dos brasileiros se recuse a financiar tanta pompa e fartura.

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500
  1. Bela reportagem. O comportamento dele mostra também o cinismo desse bandido que, além de esbanjar o dinheiro público, crítica a classe média por comprar as quinquilharias direto da China. Presidente cínico, imprensa bajuladora, dá nisso. Nojo.

  2. Luladrão sempre foi o pelego do ABC. Cachaceiro e corrupto. Foi preso e conheceu Esbanja nas visitas íntimas. Se encantaram um pelo outro e agora gastam no cartão corporativo. O burguês e a phuta

  3. O maior farsante da história política do país. Há muita diferença entre seu discurso e a realidade que vive. Inacreditávle que tenha recuperado o poder. O pior cego é o que não quer ver. Só assim, a gente pode entender essa vergonha de quem votou nele, na última eleição. É necess´rio um contorcionismo nemtal, acreditar em sua inocência.

  4. Só faltam duas coisinhas . o homem colocar uma prótese no cérebro é claro .. mandar construir uma BIG banheira de espuma no Taj Mahal digo Alvorada o que nos faz lamentar a morte da grande RitaLee que certamente na inauguração adoraria cantar "que tal nós dois numa banheira de espuma" ... fica a sugestão.

  5. O Descondenado e a Primeira Cuidadora são exemplos típicos da esquerda caviar que fdaz da miséria do povo o sustento de seus luxos e privilégios. Raça à toa.

  6. Tempos sombrios, desinformações, corrupção, ética falsa, comprometimento da moral, e todas as mazelas dos seres chamado políticos/sistema. Sou de outro planeta, ou melhor de uma realidade paralela. Não dá pra raciocinar com o que está por ai. Por mais que eu tente minha "expansão", me sinto fora do quadrado. Pros que ficam, como este governo, dá ânsia para melhorar o entorno, mesmo que seja no micro universo das ações. Gostaria de viver daqui a uns 300 anos. Onde as pessoas fossem mais amigas.

  7. Ele podia se desequilibrar descendo a escada do avião! Tropeçando no próprio ego. Batendo a cabeça e sei lá... enfim, nem lula nem bozo, o país precisa de alguém muito melhor do que esses dois escroques.

  8. Angela Merkel governou a Alemanha 16 anos morando de aluguel no msm apto onde morava antes de tornar-se a mulher + poderosa do mundo. Seu únicos luxos,1 carro c/ motorista e 1 segurança em cada um dos aptos do seu pequeno prédio. Os proprietários e inquilinos, certamente em troca de bom pagamento,mudaram-se todosde lá. Qdo seu marido, raramente, a acompanhava nas viagens, ia em avião comercial, raramente no avião do governo. Essa é a diferença entre 2 doutores e o analfabeto funcional pé-rapado.

  9. Outro problema é a hipocrisia - a esquerda caviar. Falam mal dos ricos que ganham o próprio dinheiro, geram empregos, criam ou produzem coisas úteis a todos. A menos que esses ricos sejam “progressistas” - aí podem gastar dinheiro, inclusive ilícito, a vontade. Muita gente hoje em dia tem ética “ as vezes”.

  10. Lula é o típico "quem nunca comeu melado quando come se lambuza". E ele vai acabar todo lambuzado. Aí a gente solta as abelhas.

  11. Sabe esse povinho que acreditou no 'amor' e na picanha? `Pois bem, só ele deveria pagar o luxo desse vagabundo, que só engana os mais idiotas.

    1. Pois é meu caro minha finada avó ensinava que amor que fica é movido a picanha e nada mal um 6* tipo Golden Tulip no Taj Mahal digo Alvorada pro Shah Jahan do patropi amaciar sua Muntaz Mahal prá compensar os duros recentes tempos ... ai ai o amôôô ééé liiiiiiiindro !!!

  12. Só um reparo: a população se divide em dois grupos ... Não é verdade, tem uma terceira parte que não é adoradora de psicopatas corruptos, sejam de matiz se digam.

  13. Não se pode esperar que um milionário baixe seu nível de vida por virar presidente. Seus eleitores deveriam ter pensado nisso quando NÃO elegeram o sindicalista, mas o magnata.

  14. Parafraseando Paulo Freire eu encaixo o Lula: " ‘Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor’. Oarabéns ao jornalista Duda PELA EXCELENTE MATÉRIA

  15. Estamos vivendo numa época pior que do tempo do rei Luís XV. 5% extremo luxo - 25% classe media baixa. 70% miserável. GUILHOTINA URGENTE AOS 5%

    1. Se Lula foi operário foi por pouco tempo. Ele perdeu o dedo em 1964 aos 19 anos. Em 1968 se sindicalizou. Em 1972 já era sindicalista. Quando foi eleito ele era sindicalista, ou ex sindicalista.

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