Eduardo Matysiak/Futura Press/FolhapressPaulo Pimenta: perguntas escolhidas a dedo para promover autoridades

Checagem chapa-branca

Com portal para analisar fake news, Secom se apropria da credibilidade do jornalismo para fazer propaganda do governo Lula
13.04.23

As fake news, notícias falsas fabricadas com o intuito de enganar o leitor, têm sido combatidas no país com relativo sucesso por diversas agências de checagem nos últimos anos, sendo que Crusoé faz parte desse movimento, por meio do projeto Comprova. No final de março, contudo, os brasileiros foram apresentados a um novo tipo de ação, quando a Secretaria de Comunicação Social, a Secom, anunciou a criação da primeira agência oficial de checagem de fatos, a Brasil Contra Fake.

Até a quarta-feira, 12, o portal contava com exatas 60 publicações. Crusoé fez uma análise do material e conversou com especialistas no assunto. A conclusão é de que a Secom, sob o comando do ministro-chefe Paulo Pimenta, está fazendo algo inédito no Brasil e perigoso ao se aproveitar da credibilidade do jornalismo e da estética das agências de checagem para favorecer o governo. Das 60 notícias publicadas pela Secom, 43 promovem a gestão atual ou as políticas públicas.

O portal publica notas com títulos se apropriando de formas consagradas no fact-checking, como “é falso que…” ou “presidente não disse que…”. A Secom chega até a republicar conteúdo de agências de checagem, em alguns casos sem atribui-lo ao veículo correto.

Cinco textos buscam conferir se declarações atribuídas a Lula ou a outras autoridades são verdadeiras ou não. No final, todas buscam negar frases desfavoráveis ao governo, como “é falso que Lula mandou idosos andarem a pé por causa de preço de combustíveis”. A prática levanta algumas questões sobre os critérios usados para selecionar as fakes news que serão verificadas. Em uma agência de checagem normal, escolhe-se investigar aquelas notícias falsas que estão se viralizando rapidamente nas redes sociais. No caso da Brasil Contra Fake, o critério parece ser atacar notícias que incomodam o poder. Além disso, evita-se claramente selecionar informações que podem pegar mal para as autoridades governistas. Não há qualquer possibilidade, por exemplo, de que o portal oficial estampe um título como: “É real que Lula chamou o plano do PCC de uma armação de senador Sergio Moro?” Ou, ainda, “É falso que o presidente disse que gostaria de f… Moro?

Outros textos são mera propaganda, como se tivessem saído diretamente de um press-release redigido por um assessor de imprensa lotado em uma repartição pública. É o caso da nota “Controladoria-Geral da União continua sua missão no combate à corrupção”. Também nesse caso, não há qualquer explicação de qual foi o critério objetivo para selecionar essa nota. Ou, pelo menos, tal critério não aparece publicado no portal. 

Não há qualquer transparência, portanto, em relação à metodologia empregada. Mas esse é um princípio básico de qualquer agência de checagem, pois é isso que permite um controle externo por parte dos leitores. Eles precisam entender como o trabalho está sendo feito para poder apontar erros, que podem resultar em correções posteriores. “Quem checa o checador é o leitor”, diz Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Comprova, que envolve mais de 30 veículos jornalísticos brasileiros.

Às vezes, o Brasil Contra Fake parece até mesmo distorcer as informações, com o objetivo de esconder um fato e falar bem do governo. Na nota “Cidades atendidas pelo Eixo Norte da Integração do Rio São Francisco não estão desabastecidas”, o ponto de partida é uma peça de desinformação segundo a qual Lula teria ordenado o fechamento de bombas da transposição que abastecem parte do Ceará. O presidente não deu essa ordem —fato—, mas, em vez de atacar a desinformação, o Brasil Contra Fake busca destacar a situação de abastecimento na região. A nota cita declarações de autoridades apenas para fins de propaganda, como “este governo tem sido diligente, conforme determinação do presidente Lula”. No texto, há ainda um parágrafo inteiro que se vangloria de uma obra hídrica que nem foi entregue ainda.

Assim que o portal governista foi anunciado, a iniciativa virou alvo de críticas de políticos e na imprensa. Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa, um dos maiores veículos de checagem do país, descreveu o Brasil Contra Fake como uma tentativa de “igualar propaganda governamental ao instrumento que foi criado justamente para vigiá-la”. Nenhum governo deve comandar uma agência de fact-checking, porque isso fere um dos pilares da checagem: o apartidarismo. “Um conteúdo nunca pode ser tratado como checagem se há objetivo partidário ou fonte interessada por trás da publicação”, diz Lüdtke. Afinal, um governo seria capaz de atestar a veracidade de uma notícia crítica ou desmentir uma inverdade benéfica? “Acho quase impossível que uma agência controlada pelo governo alcance esse nível de transparência”, afirma o editor-chefe do Comprova.

Iniciativas parecidas à do Brasil Contra Fake existem no México, comandado pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, ou AMLO, um populista de esquerda. Lá, o governo criou os projetos Infodemia Mx e Quién es Quién. Segundo relatório da organização não governamental Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística, essas iniciativas “muitas vezes desinformam ou manipulam os fatos em favor do governo e do partido oficial” e “tendem a atacar jornalistas e mídia críticos e oponentes com mais frequência”. No Infodemia Mx, equivalente ao Brasil Contra Fake, uma nota distorcia fatos para alegar que uma candidata do partido oficial não “ostentava delitos eleitorais”. Na realidade, ela foi condenada, mas isentada de pena. O Quién es Quién, por sua vez, é um quadro em transmissão ao vivo do presidente no qual ele cita e ataca jornalistas críticos do governo. Uma jornalista, Denise Dresser, passou a ser alvo de agressões depois de ser atacada por AMLO.

O Brasil estaria no mesmo caminho do México? Como se trata especulação sobre o futuro, essa não seria uma questão para ser analisada por uma agência de checagem. Aliás, após intensa crítica da sociedade, Paulo Pimenta tentou se salvar dizendo que “esse site do governo não é uma agência de checagem“. Com resultados tão desastrosos, o melhor então seria que o Brasil Contra Fake fosse fechado o quanto antes.

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  1. Acredito que, como o CONAR na área da propaganda, o que funcionaria seria a própria sociedade criar, por meio de uma mídia séria, um "conselho de checagem".

  2. O PT é o criador da fake News. Como agora irá combate-la. Claro, criando fake news como sempre fez. Desinformar é o que melhor eles fazem.

  3. Como o PT vive do passado e de retrocessos, essa agência ser semelhante à do México não é mera coincidência. Ótimo trabalho da Crusoé!

  4. SECOM está fazendo o que sempre fez: propaganda governamental. Tendo em conta que não foi criada para isso, seria melhor extinguir essa porcaria pra prevenir que a atividade se perpetue.

    1. Ninguém fez o L mais que o Bozonaro. É um farsante vagabundo. Quem não percebe e ainda venera esse ser repugnante é mais imb3cil do que os que veneram o lula e sua quadrilha criminosa.

    2. Como se o B ( de 💩 ) nao fosse outro disseminador de mentiras e absurdos! Que fique inelegivel, que seja preso. Pelo menos algum descanso deste ser abjeto! O responsavel pela pessima conducao da pandemia! Pela volta do lulopetismo e pelo fim da lavajato. Jamais esqueceremos!

  5. Nenhum ser humano que tenha alguma decência é a favor de "feiquinius" mas também não pode ser contra a liberdade de imprensa e de opinião puníveis por lei que esta justiSSa inoperante não cumpre e assim é inaceitável que não vejam que este desgoverno quer silenciar a voz dura e livre do povo para implantar seu regime totalitário clepto-comunazista em claro curso .. rabos vão arder e a nação chorará sangue.

  6. Afirmar que as agências de checagem são apartidarias é uma piada, aliás sumiram desde que o grande líder foi eleito, esse tipo de serviço nem deveria existir em um país que preza pela liberdade de expressão, quem define o que é verdade? O Alexandre de Moraes? O Paulo pimenta?

    1. O bom senso. Fato é fato, não tem como ser relativizado.

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