Foto: Wikimedia Commons/Ank KumarCredit Suisse: Se o banco quebrar o que é que sobra da Suíça? Os relógios-cuco?

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo com dois ovos em cima

Nem na Suíça dá mais pra gente guardar dinheiro; é por essas e outras que o melhor é ser pobre, ganhar pouco e depender de programas sociais
17.03.23

Enquanto hiperidoso, heterossexual, não binário, aposentado, branco desbotado e pobre incurável, sou umas das maiores minorias do mundo. Mesmo assim, os justiceiros identitários não fazem nada para melhorar as minhas precárias condições de vida. Se não fosse O Antagonista, que me manda toda semana uma cesta com víveres de terceira necessidade, eu estaria na rua da Amargura …que, aliás, é onde fica estacionado o meu Dodge Dart 73, enferrujado.

A semana começou mal com a morte do Antonio Pedro, um dos maiores anões do mundo, companheiro de inesquecíveis noitadas com a presença das mulheres mais comestíveis daqueles anos dourados. Formávamos uma turma da fuzarca: Antonio Pedro, o Hugo Carvana, o Jaguar, o Ziraldo (que nunca broxou) e eu (que brochava sempre). Juntos consumíamos todas as bebidas (líquidas ou não) do Antonio’s e depois partíamos embriagados para Búzios, onde a Brigitte Bardot tinha combinado de nos dar o fora.

Para piorar essa semana tenebrosa, o sistema financeiro internacional começou a derreter no Vale do Silicone com a falência de um banco que financiava startups. Startup é uma espécie de stand-up em início de carreira: em 200, só uma dá certo. Pois enquanto o banco murchava feito um par de peitos justamente no Vale do Silicone, em Nova York, do outro lado dos EUA, quebrava um outro banco que só operava com criptomoedas, o que deixou seus criptoclientes cripto-otários na criptomiséria.

O tsunami de destruição monetário-financeira desconhece limites e seguiu adiante com a queda de ações do Credit Suisse. Caraca! Nem na Suíça dá mais pra gente guardar dinheiro… é por essas e outras que o melhor é ser pobre, ganhar pouco e depender de programas sociais. A terra da limonada suíça era um dos poucos lugares aonde nenhuma crise chegava. Por isso, a helvética Suíça é o lugar escolhido pelos milionários para viver, no conforto aconchegante de seus cofres secretos. Na Suíça reina a paz, a segurança é total e não acontece nada, para não perturbar o descanso e o bronzeamento artificial dos ricos endinheirados.

Se o Credit Suisse quebrar, o que é que sobra da Suíça? Os relógios-cuco? Ninguém mais usa relógio-cuco, muito menos no pulso, é muito incômodo. Os canivetes? Para que canivete se os escoteiros estão preferindo um tênis Nike em troca de seus favores sexuais? Sobram os chocolates e as vacas leiteiras, mas um país não pode viver apenas de chocolate e de vacas tetudas. A verdade é que, se o Credit Suisse falir, vai todo mundo se fondue.

Mas nem tudo é desgraça: tem também as tragédias humanas e as calamidades públicas. No Rio Grande do Norte, facções criminosas começaram a tocar o terror e exigem que o ex-presidento Jair Bozonaro devolva as joias que ganhou da Arábia Saudita numa doação para uma ONG, no caso o PCC. Acontece que Bozonaro prefere doar para a milícia, que também tem um trabalho de inclusão social.

Agamenon Mendes Pedreira é um falso brilhante.

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  1. Como sempre morro de inveja de quem escreve bem, notadamente escritas como as do colunista Agamenon Mendes Pereira. Ele, Agamenon, já nasceu elogiado, portanto não precisa de elogios. Eu que já ultrapassei a barreira dos 80 anos peco pela inveja, aliás, eu penso que invejar pessoas desse naipe não é pecado mas é simplesmente admirar o que é bem feito. Falei.

    1. Mário , não tenho palavras. Quer dizer , tenho. Quatro : muito , muito , muito obrigado. Abraço afetuoso. MM

    2. Mario , não tenho palavras . Quer dizer , tenho. Quatro: muito, muito, muito obrigado! Abraço afetuoso MM

    3. Se já ultrapassou a barreira dos 80 não parece não. Suas palavras aqui soaram como de um homem em plena atividade (lá pelos 30-40 anos). É muito de vanguarda só por gostar das brincadeiras do Agamenon.

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