Foto: Sumaia Villela/Agência BrasilPenitenciária de Alcaçuz (RN); massacre ocorrido na prisão em 2017 marcou início da dominância do Sindicato do Crime

Sindicato do terror

Facção promoveu onda de crimes no Rio Grande do Norte ao longo da última semana; rivalidade com PCC e seu tamanho explicam violência
17.03.23

O Rio Grande do Norte é palco de uma série de ataques a tiros e incêndios em prédios públicos, comércios e veículos desde a madrugada de terça-feira (14). Os incidentes ocorreram em ao menos 39 cidades, incluindo a capital, Natal. Em um roteiro previsível, o governo federal levou a Força Nacional de Segurança e autorizou a transferência de presos suspeitos de envolvimento. Por trás do terror, no entanto, está uma facção rival do Primeiro Comando da Capital (PCC), prova de que o crime organizado no Brasil vai além dela e do Comando Vermelho (CV).

O Sindicato do Crime assumiu a responsabilidade por todos os ataques, com ao menos dois líderes da facção morrendo em confrontos com a polícia desde o início da violência. A origem do grupo remonta a 2013, em uma dissidência local do PCC que questionava a autoridade da executiva de São Paulo. O crescimento e eventual dominância do Sindicato veio após um massacre em janeiro de 2017 na penitenciária de Alcaçuz: 26 detentos da facção morreram nas mãos do PCC.

Desde então, o grupo passou a dominar o estado: das 32 unidades prisionais do Rio Grande do Norte, 28 estão sob seu controle. O Sindicato também controlava 90% do tráfico de entorpecentes no território potiguar, segundo dados de 2018 do Fórum de Segurança Pública do Rio Grande do Norte.

O Sindicato não opera sozinho no estado nordestino: ele se aliou ao CV em reação à derrota na rebelião de Alcaçuz de 2017 e, hoje, também coopera com a organização criminosa amazonense Família do Norte. Assim como em 2016, o objetivo é impedir que o PCC controle o estado. O caso do Rio Grande do Norte não é uma exceção no cenário do crime organizado no país. Segundo a edição especial do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, apenas quatro unidades da federação são dominadas por uma única entidade sem contestação — São Paulo, Mato Grosso do Sul e Piauí com o PCC e o Mato Grosso com o CV. Ao todo, 53 facções aterrorizam brasileiros em todo o país, e o Sindicato do Crime é quem está sob os holofotes hoje.

Assim como outros grupos, as fontes de renda do Sindicato são o comércio ilegal e a “cebola”, a mensalidade de R$ 200 cobrada de seus integrantes — R$ 50 para quem está preso. Os membros devem seguir uma série de condutas (como a proibição do uso de rivotril) e têm acesso a benefícios (como advogado e assistência a seus familiares se estiverem presos). O número atual de integrantes da facção é estimado em até 5 mil apenas no Rio Grande do Norte — pouco, perto dos 112 mil integrantes que o PCC pode ter em todo o país.

Esta nem é a primeira vez que o Sindicato ganha as manchetes: em 2016, o grupo esteve por trás de 80 atentados a prédios públicos, incluindo delegacias, e veículos — menos de uma semana após a instalação de bloqueadores de sinal de celular em um presídio na região metropolitana de Natal.

Tanto naquela época quanto agora, as razões das ações de terror nas ruas têm origem dentro do sistema prisional: “A condição insalubre dos presídios, com sobrecarga de presos em relação às vagas existentes, facilita naturalmente a distribuição de proteção dentro dos presídios”. explica o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva, que estuda o tema. O secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Francisco Araújo, afirmou que os presos querem regalias como aparelhos de televisão nas cadeias.

Os ataques violentos são mais característicos de facções menores, já que a estratégia não é vista como bom negócio pela cúpula de grupos já consolidados. “Não vale a pena atacar alvos policiais ou fora do interesse criminoso de buscar lucratividade. Isso só atrai a fúria do Estado, criando ainda mais dificuldade para eles”, pondera o estudioso. O PCC aprendeu essa lição após os amplos ataques de 2006 e hoje opera seus negócios de maneira mais sub-reptícia.

José Vicente não acredita, no entanto, que a ação do governo de enviar a Força Nacional de Segurança surta efeitos. Ele lembra que o Rio Grande do Norte tem 8.300 policiais, uma das melhores proporções de policiais/habitantes do país, mas que mais de 650 deles estão em outros órgãos da administração pública, exercendo outras atividades que não a de patrulhar as ruas.

“Não seria mais prático reunir esse pessoal que trabalha em Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas e variados órgãos do estado?”, questiona. “É uma perda de ativo monumental. A Força Nacional pode ajudar a sair do sufoco momentaneamente, mas não é um grande fator de resultado. O melhor a fazer é usar o próprio efetivo do estado como fator de contenção.”

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  1. Chama o Sérgio Moro que ele resolve isso aí rapidinho. Basta isolar os líderes das facções em prisões federais. Simples assim.

  2. O crime organizado no Brasil é um padrão em vários ambientes, na cadeia, em comunidades, em Brasília...Em Brasiíla a violência iguala-se, silenciosa, mas tão ruim para o povo quanto a das facções.

  3. Retrato do que é a esbórnia da segurança pública que faz a população refém dos criminosos. A polícia precisa prender menos e cancelar mais cpfs.

  4. Se os agentes que estão nas ruas são despreparados, imagino os que estão “atuando” em salas refrigeradas, fazendo trabalho burocrático ( mal, quase sempre!)… quem se encontra nessa situação são os que conseguiram mamatas aqui e ali, para escapar do trabalho duro nas ruas. Dificilmente dariam bons policiais.

  5. Essa matéria mostra bem o que é o Brasil. O sofrimento da população enquanto os políticos não tem tempo de governar porque estão muito ocupados roubando.

    1. Verdade José, se roubassem menos e trabalhassem mais a situação estaria menos ruim.

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