RuyGoiaba

A Copa do Mundo dos imbecis

16.12.22

Então o Brasil conseguiu, mais uma vez, ser eliminado pelo Time Europeu Melhorzinho, o que vem acontecendo com tediosa regularidade em todas as Copas depois de 2002. Deus e o mundo já reclamaram dos sete jogadores no ataque — incluindo um segundo volante se enfiando pela ponta direita — quando o time só precisava segurar o 1 a 0 contra a Croácia por mais quatro minutos, da falta de variação tática no esquema de Tite, da resistência à contratação de um técnico estrangeiro para a seleção etc. E agora os brasileiros temos que decidir quem odiamos menos nessa final entre Argentina e França, que promete ser um jogão (escrevo na quinta, 15, três dias antes da partida).

Concordo com todas as reclamações acima e mais algumas, mas neste texto quero sugerir um outro exercício: e se a Copa do Mundo não fosse de futebol, mas de imbecilidade — um torneio de opiniões exemplarmente idiotas, vencido pela seleção das mais indefensáveis? Ah, meu amigo, aí não haveria quem segurasse o Brasilzão: já teríamos sido hexa há décadas e, provavelmente, entraríamos como favoritos a alguma coisa como o 11º ou 12º título consecutivo (e isso considerando só as opiniões sobre futebol; se incluirmos outras, por exemplo sobre política e economia, conquistaríamos a hegemonia mundial eterna). Quero fazer aqui, portanto, o elogio desses Messis do take errado, Mbappés do not even wrong; enfim, esses craques que chutam com as quatro.

Um dos melhores candidatos brasileiros nesse torneio é um cara que jogou bola de verdade na sua época: Walter Casagrande Jr., que hoje, em sua encarnação como comentarista, resolveu se tornar o que um amigo chama de “ombudsman de boleiro”. Depois que o Brasil foi eliminado pelos croatas, Casagrande escreveu na Folha uma coluna bastante lamentável reprovando os cabelos pintados e as dancinhas dos atacantes da seleção — além do já clássico episódio da carne folheada a ouro. Agora imaginem se as derrotas de Casão (que, aliás, também não venceu nenhuma Copa) na década de 80 fossem ligadas à “democracia corintiana”, ao gosto por rock e ao cabelo comprido que ele ostentava. Já temos um espanhol racista e um ex-volante de cintura dura como Roy Keane para reprovar as dancinhas; não precisamos de um brasileiro fazendo o mesmo.

(Quanto ao tal “bife de ouro”, sim, é de uma cafonice extraordinária. Mas, bem, é dinheiro dos jogadores, que eles têm o direito de gastar como quiserem — e vocês conseguem deixar de ver preconceito de raça e classe nesse tipo de reprovação a pessoas de origem negra e pobre “ostentando”? Eu não consigo, porque muitos outros ricos já pagaram caro por esse ritual ridículo do chef turco Salt Bae sem serem esculhambados, inclusive Lionel Messi, cujo vídeo comendo o filé folheado a ouro é fácil de achar por aí. Mas talvez eu esteja equivocado.)

O take campeão da Copa do Mundo dos imbecis, porém, deve ter sido este reproduzido pela conta do cineasta Kleber Mendonça Filho no Twitter: tínhamos de torcer por Marrocos — que, diga-se, fez uma grande Copa — na semifinal porque, entre outras virtudes, não comeram a carne folheada a ouro, não têm bolsominions no time “e ainda apoiam a causa palestina”. Que lindo! Vamos esquecer que o país criminaliza relações entre pessoas do mesmo sexo, proíbe o acesso de mulheres a determinadas áreas (sem contar o alto índice de assédio) e tem um governo acusado de torturar os ativistas sarauís do Saara Ocidental —que alguns consideram, vejam só, um território ocupado pelos marroquinos.

É natural que, quando nosso país não está envolvido, a gente torça pela zebra, embora uma final Marrocos x Croácia (que disputarão o terceiro lugar) talvez batesse o recorde mundial de chatice. Mas, se você quer muito sinalizar virtude e mostrar que está do lado certo até no futebol, vai acabar não torcendo por ninguém: puxando a capivara dos países, você encontra colonialismo francês, colaboracionismo dos croatas com os nazistas, argentinos chamando brasileiros de “macacos” e puxando cânticos racistas contra jogadores da França etc. —outro amigo, a propósito, diz que esses “hermanos” veem Argentina x França como confronto entre Europa e não-Europa e acham que os europeus são eles.

Deixo aqui uma sugestão que talvez seja revolucionária: em vez de torcer pelo país mais bonzinho, mais oprimido ou mais comprometido com as causas certas, que tal torcer pelo que joga melhor? Ou, pelo menos, parar de encher o saco problematizando a torcida alheia. A não ser que a pessoa queira mesmo erguer a taça dos cretinos, enfrentando a competição acirrada dos petistas felizes porque Neymar perdeu e dos bolsominions felizes porque Tite perdeu. Já que ser burro não dói, a Premier League da burrice seguirá sendo a mais disputada do mundo.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Queria dar o prêmio desta semana a todos aqueles que acreditaram na conversa do “Lula moderado” (“ah, elef não querem o Mercadante? Poif vão ter que engolir o Bigode no BNDEF!”), mas acho que ele será válido por muitas e muitas semanas. Fico, então, com uma história que passou meio despercebida no noticiário: vocês se lembram de todas aquelas expressões para as quais inventaram uma falsa etimologia racista, como “esclarecer”, “criado-mudo” e “feito nas coxas”? Pois o glorioso TSE — tão empenhado em combater notícias falsas — acaba de divulgar uma cartilha de “expressões racistas” que devem ser evitadas, endossando essas fake news. Só não sugiro trocar o E de “Eleitoral” por “da Esculhambação” porque, sei lá, vai que me colocam em algum inquérito.

Foto: Adriano Machado/CrusoeFoto: Adriano Machado/CrusoeO TSE é mesmo bem brasileiro: é proibido divulgar fake news, mas se quiser pode

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500
    1. Tribunal Superior Eleitoral= Tribunal Superior da Esculhambação. MS

  1. A política é um estrume que deve ser guardado na sua caixinha. Convém prevenir que ela vá emporcalhar o esporte, a arte, a fé, etc

  2. Gostaria de endossar suas brilhantes observações quanto à imbecilidade brasileira. Eu torci pela Argentina pq achava que tinha o melhor futebol e a despeito de alguns idiotas nos chamarem de macacos. Simples assim!

  3. Nem acompanhei a formação dessa seleção, mas o pouco que vi, percebi que as "estrelas" estavam mais preocupadas com seus cortes de cabelo (um pior que o outro, diga-se de passagem) e coreografias (coisa mais boboca nunca vi) do que se portarem como um time de profissionais focados em vencer o campeonato.

  4. Acabou a era do grande futebol nos países subdesenvolvidos. Talvez a Argentina ganhe, e vou torcer por ela e pelo Messi, mas o eixo dos grandes times e excelentes jogadores está na Europa e vai demorar p/ sair de lá. Todos os grandes jogadores são contratados pelos times europeus, muito mais organizados, administrados com competência e financiados por fortunas até do Catar!

  5. A turma está viajando na maionese. Achar que termos que foram sempre usados, sem nenhum significado racista, e repentinamente passam a ter é, no mínimo, um exagero. Quanto a Copa, o meu palpite é que o Brasil perdeu por excesso de água oxigenada.

  6. Gosto de futebol, mas há muito deixei de torcer pela seleção brasileira. Sempre torço pela Itália ou Alemanha, que são tetra e podem nos alcançar. Desta vez não deu. Enquanto prevalecer em nosso futebol a cultura da malandragem e enganação, não há educação que resolva nosso atraso civilizatório …

  7. Enquanto a CBF vender a marca Seleção Brasileira para atender interesses de seus próprios dirigentes jamais haverá um hexa. O comentarista citado não merece consideração. Quanto aos bur-ros encantados e ao gado acéfalo estão mais para a Goiabice da Semana.

  8. Essa do STF é fichinha, pois descobriram que a Bíblia é racista quando fala que o sangue do Cordeiro limpa o pecado e torna a alma branca como a neve.

    1. E a "fossa negra"...................aonde vai toda a merda??? E quando a coisa "fica preta"??

  9. A próxima COPA a ser enfrentada pelo Brasil será o enfrentamento Inteligência X Burrice. Primeiramente, os brasileiros , preferencialmente, da gema, necessitam listar , debater e concluir os significados de Inteligência e burrice, é claro, para o povo brasileiro. A partir daí, podemos alcançar o vencedor , que, não necessariamente, deverá ser almejado que seja a " inteligência". Precisamos tomar cuidado e atentos, à coluna que absorverá a ação " FAKE NEWS". Isto sim, ...

    1. ... provavelmente, será a grande FORÇA para que o vencedor receba a taça de ouro.

  10. Quando eu vi o Brasil entrar em campo de capacete branco, deu logo a entender que a inteligência emocional estava baixa, juntando-se a isso, dancinhas ridículas, gestos infantis iguais aos do príncipe Louis de 4 anos, e jogadores manipuladores colocando os jovens craques nos bolsos, deu p ver que o clima era pouco profissional.

  11. Argentinos, os europeus que vieram de barco, enquanto nós viemos da selva, segundo declarou o atual presidente “progressista” deles…

    1. Como se diz por aí, argentino é o italiano que fala espanhol e se acha inglês.

  12. Olhando agora a estrovenga do TSE, em relação ao criado-mudo, inseriram a explicação correta para a origem do termo (tradução do termo equivalente em inglês), mas tiveram a pachorra de encerrar dizendo que independentemente da origem, hoje é um termo racista e pronto. Realmente inacreditável. Ao menos não adotaram as insanas "notas de escurecimento" que estão inventando agora.

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