ReproduçãoPutin supervisiona exercícios militares: ataque nuclear poderia afastá-lo da China, maior parceiro comercial

As maletas atômicas

Putin pode desferir um ataque nuclear facilmente, de onde estiver, assim como Biden. Mas enquanto o americano é racional, o russo já mostrou ser imprevisível
18.11.22

Com tropas russas abandonando cidades invadidas na Ucrânia, multiplicaram-se as ameaças do Kremlin de usar armas nucleares, assim como as tentativas ocidentais de demover o presidente Vladimir Putin dessa ideia. A queda de dois mísseis na Polônia nesta terça, 15, elevaram o risco atômico, porque poderia empurrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, para dentro da guerra e escalar o conflito.

A notícia de que os mísseis teriam sido lançados do território ucraniano reduziu as tensões. Nesta quinta, 17, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que “nenhuma autoridade russa está considerando o uso de armas nucleares“.

Muito da esperança de que Putin não inicie um ataque nuclear está em que ele seja um ator racional, que calcula as consequências de seus atos. A China, principal parceiro econômico da Rússia, já andou dizendo que não toleraria o uso de armas nucleares. Considerando que a economia russa deve encolher até 9% este ano, arrumar problema com Pequim poderia ser devastador para o Kremlin. Mas, se Putin decidir apertar o botão, não há muito o que o impeça.

O procedimento que ele poderia acionar para deflagrar um ataque dependeria do tipo de arma a ser utilizada. Para atingir o território da Ucrânia, o mais provável seria usar as táticas, que são projetadas para alvos localizados a curta distância, no máximo a 2 mil quilômetros. A base militar de Kursk, que poderia ser usada com esse fim, fica a apenas 517 quilômetros de Kiev, a capital ucraniana. Putin dependeria, nesse caso, do 12º Diretório das Forças Armadas, órgão responsável pela logística e execução do disparo de armas táticas. O processo pode levar horas ou, até mesmo, dias. Não há consenso entre especialistas se o 12º Diretório poderia se opor a uma eventual ordem de Putin.

O segundo cenário, menos provável, envolveria as armas estratégicas, com alcance superior a 1,4 mil quilômetros. Putin poderia ordenar esse ataque a partir de uma maleta que é carregada por assessores e está perto dele a todo momento, chamada cheget. O ministro da Defesa e o chefe das Forças Armadas também têm uma cheget, mas não é necessário o aval de nenhum deles para concretizar um ataque com armas estratégicas.

ReproduçãoReproduçãoA cheget: carregada por assessores, está sempre perto de Putin
A baixa probabilidade do uso de armas estratégicas, pelo menos em um primeiro ataque, se dá pelo fato de elas terem a maior potência destrutiva, de 500 a 800 quilo-toneladas de TNT. São capazes de destruir cidades inteiras. Um ataque com esse arsenal não daria margem de negociação, visto que a destruição total do alvo ocorreria em poucos minutos, e a resposta de outras potência poderia ser incontornável.

Já as armas nucleares táticas à disposição da Rússia têm potência destrutiva de até poucas centenas de quilo-toneladas de TNT. Ainda assim, são muito mais destrutivas que as bombas que atingiram Hiroshima e Nagasaki, em 1945, com potência entre 12 e 20 quilo-toneladas.

Segundo o site de simulação de ataque nuclear NukeMap, do cientista Alex Wellerstein, do Instituto de Tecnologia Stevens, de Nova Jersey, estima-se que um ataque com uma bomba nuclear de 100 quilo-toneladas no bairro da Sé, no centro de São Paulo, resultaria em 420 mil mortos e mais de 1,5 milhão de feridos apenas na explosão.

Há ainda a radiação, que representa, em geral, 17% dos efeitos de uma arma nuclear, seja tática ou estratégica. Desse montante, dois terços se dispersam como resíduos após a explosão, chamados de cinza nuclear ou, em inglês, fallout.

Além disso, a radiação é acompanhada da emissão de um pulso eletromagnético, conhecido pela sigla EMP, no momento da explosão, que atinge e pode inutilizar dispositivos eletrônicos.

Em se tratando da utilização de apenas uma ou de poucas armas nucleares táticas, os danos causados são absolutamente devastadores nas áreas atingidas por causa principalmente do fallout e do EMP”, diz o engenheiro nuclear Luís Antônio Albiac Terremoto, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, o Ipen.

KremlinCerimônia em que a cheget foi transferida de Medvedev para Putin, em 2012
Os impactos de uma arma nuclear tática se limitam a um raio de cerca de centenas de quilômetros da explosão. Portanto, o Brasil não seria atingido pela radiação. “Em um cenário de escalada nuclear, envolvendo grande número de armas nucleares táticas ou estratégicas, os impactos seriam em escala mundial, notadamente em decorrência do fallout”, acredita Albiac. Ele lembra que ainda haveria dispersão de material radioativo na atmosfera a partir dos incêndios decorrentes das explosões.

O processo para um ataque nuclear por parte de Washington é mais simples que aquele do Kremlin. Independentemente do tipo de arma a ser utilizada, tática ou estratégica, o processo é o mesmo e envolve dois objetos: a football e o biscuit.

A football é uma maleta, assim como a cheget, que está sempre por perto de Biden. Nenhuma outra autoridade americana possui uma maleta equivalente. Para iniciar um ataque, ele só precisaria ditar à autoridade militar responsável pelo disparo uma senha, que está impressa no biscuit, um cartão que o presidente sempre carrega consigo.

Biden não precisa do aval de ninguém para desferir um ataque nuclear. A diferença é que o americano é um ator muito mais racional e não tem qualquer motivo para apertar o botão nuclear. Putin, esse sim, é muito mais imprevisível — e demonstrou isso ao iniciar uma guerra em fevereiro sem qualquer justificativa plausível e sem prever a resistência ucraniana. O destino do mundo está guardado nas maletas desses dois senhores.

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  1. NÃO é verdade que Putin invadiu a Ucrânia sem justificativa plausível. Por acaso a Federação Russa tem de aceitar o cerco americano através da OTAN passivamente? Só um chefe de Estado pusilânime aceitaria isso.

    1. Putin esmagou a revolta na Chechenia, com a destruição da capital Grozny e toda sua população, invadiu a Geórgia 🇬🇪 , a Crimeia, que é parte da Ucrânia, e, agora, o restante do território da Ucrânia 🇺🇦. Devemos esperar algo de bom desse ditadorzinho?

    2. Valter, estive viajando por lá, tempos atrás, e pude constatar sua colocação “”” OTAN CERCANDO A RUSSIA “”” mas o desejo do Puttin é, além da proteção de seu território, restabelecer a antiga URSS. A Ucrânia, menina dos olhos de Moscou, sempre se mostrou rebelde, piscando o olho para a OTAN. Guerra não é o ideal, mas as vezes inevitável

    3. O notório criminoso de guerra invadiu a Geórgia com a mesma lorota de separatismo de duas regiões. Invasão conhecida guerra dos cinco dias. A Georgia nem está das fronteiras da OTAN. O arroubo pela invasão é pelo delírio de domínio de território dos tempos medievais.

  2. Aos que duvidam de Putin aconselho o livro “ O homem sem rosto-a improvável ascensão de Putin ao poder”. Desde 2000 ele preconiza o uso de armas atômicas em conflitos regionais. Apocalipse a vista !!

    1. Ele pode estar disposto a usar armas atômicas, porém já está também sem apoio da China, porque a contaminação, como se sabe fica na atmosfera.

  3. O genocida, notório criminoso de guerra está procurando uma saída para a derrota da guerra. Impopularidade da maioria dos alistáveis, moral das tropas para motim, péssima logística e a precária linha hierárquica com o "vranyo", "bullshit", lorota e mentiras.

    1. A corrupção é enorme na Brasília, digo, Russia que é bem possível dessa maleta atômica dar chabu. A qualidade do material bélico é péssima. Logística péssima, subsistência a base de ração shitfood vencida. Enfermaria nenhuma. Fardamento de inverno é de fim de primavera. É pra acabar.

  4. Si vis pacem, parabellum! Essa expressão latina nos dá a dimensão do espírito bélico de um guerreiro. Ou seja, SE QUERES A PAZ PREPARA-TE PARA A GUERRA. Pois é!

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