RuyGoiaba

As pesquisas acertaram; você é que errou, eleitor

07.10.22

Caro eleitor, cara eleitora: as pesquisas não erraram. Elas não erram nunca, ouviu bem? Foi você que votou nos candidatos errados de propósito, só para sacanear instituições veneráveis como o Datafolha e o ex-Ibope, hoje Ipec (e algumas que ainda não têm tempo de serviço para pleitear a infalibilidade, como a Quaest). Tem mais: vocês são todos burros e não sabem como pesquisa funciona, não existe esse negócio de “acerto” e “erro” — e não estou brincando: O Globo escreveu quase literalmente isso em um editorial recente. “Não é prognóstico”, “capta o movimento”, “é um retrato do momento” etc. etc.

Recapitulando para vocês que estavam passeando por Marte na semana passada e não ficaram sabendo: a diferença de 14 pontos entre Lula e Jair Bolsonaro apontada por institutos de pesquisa na véspera da eleição (1º de outubro) se tornou de apenas 5 pontos assim que as urnas foram apuradas — desvio inédito, até onde me lembro, desde que comecei a acompanhar pesquisas por razões profissionais (mais ou menos de perto, dependendo da época), nos anos 90.

Houve mais: na disputa pelo Senado em São Paulo, o 45 x 31 a favor de Márcio França virou 50 x 36 para o astronauta bolsonarista Marcos Pontes. Tarcísio de Freitas terminou em primeiro lugar, a uma distância de Fernando Haddad que nenhuma pesquisa previra (“captou o movimento”, OK, anotado). No Rio, Cláudio Castro ganhou no primeiro turno, coisa também não prevista pelos principais levantamentos. No Paraná, Sergio Moro obteve a vaga de senador enquanto o líder das pesquisas, Alvaro Dias, ficou em terceiro. No Rio Grande do Sul, o 36 x 27 a favor de Eduardo Leite, em votos totais, se converteu em um 38 x 27 a favor de Onyx Lorenzoni. Na Bahia, o 47 x 37 para ACM Neto se transformou num 49 x 41 a favor do petista Jerônimo Rodrigues. Enfim, os exemplos são inúmeros.

Conversei com amigos que, diferentemente de mim, são especialistas no assunto e eles apontaram uma série de possíveis razões para os erros: bases de dados defasadas (sabe-se que o Brasil não faz Censo há 12 anos, e há senões na utilização da Pnad), erros de estratificação, problemas metodológicos dos levantamentos presenciais vis-à-vis os feitos por telefone ou internet e até “voto envergonhado” ou boicote de bolsonaristas a algumas empresas mais visadas — o que talvez explique a constante subestimação do eleitorado de Jair Bolsonaro e seus aliados, mas não o que aconteceu na eleição baiana, por exemplo. São possibilidades que, como pessoa que usa pesquisas eleitorais em seu trabalho, eu gostaria de ver os institutos tradicionais examinarem, inclusive porque nem todos erraram: alguns menos “veneráveis” ficaram mais perto do resultado final.

Em vez disso, os institutos e seus aliados preferiram tratar os eleitores brasileiros como idiotas, alegando coisas como “foi voto útil, que migrou dos eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet para Bolsonaro na última hora”. Fazendo as contas, isso significa que, dos simpatizantes de Ciro e Tebet, teriam migrado literalmente da noite para o dia 10,6 milhões de votos para o presidente — e nenhum para Lula, que era quem fazia a campanha mais acirrada pelo “voto útil”. Houve até colunista notória por gritar no Twitter dizendo que, como Lula ficou em primeiro, Bolsonaro em segundo, Tebet em terceiro etc., as pesquisas foram NA MOSCA, assim mesmo, com maiúsculas — o que só faz sentido se o seu conceito de “na mosca” for aquele pênalti que o Elano bateu quase para fora do estádio. Há ainda a defesa “pesquisa de Schrödinger”: não é prognóstico, exceto quando os institutos acertam, que aí vira “cravamos o resultado”. Também, quem manda encomendar pesquisa para tentar prever resultado de eleição? O certo é fazê-las só para brincar com números que tenham alguma vaga conexão com a realidade.

A esta altura, é bom dizer que não acredito em má-fé dos pesquisadores: sou um seguidor fiel da máxima “não atribua à malícia o que pode ser explicado pela incompetência”. Além disso, pela cara de tacho dos petistas ao lado de Lula no seu primeiro discurso pós-votação, é fácil constatar que eles também foram tapeados: esperavam a vitória mais folgada que as pesquisas apontavam, talvez até liquidando a fatura no primeiro turno. Da mesma forma, acho de uma estupidez absoluta o projeto alardeado por Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara, que prevê “multa e cadeia” para quem errar as pesquisas: se fôssemos prender todo mundo que erra, não haveria um único brasileiro do lado de fora das grades neste momento, ou em qualquer momento no futuro.

Mas, em vez de admitir limpamente que houve problemas e dizer “vamos investigar o que houve e corrigir” — como fez Andrei Roman, CEO da Atlas, uma das empresas de pesquisa que ficaram menos distantes dos resultados —, os institutos tradicionais preferem negar o óbvio e morrer abraçados com o erro, para não “dar munição ao inimigo”. Municiar o inimigo, no entanto, é precisamente o que eles estão fazendo com esse negacionismo: é levantar uma bola redondinha para a turminha conspiracionista (“essas pesquisas são todas compradas!”) cortar. A sociedade precisa de pesquisas confiáveis; fica difícil quando os institutos se empenham desse jeito em atirar no próprio pé.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Estou curtindo cada vez mais ver o debate de ideias entre Lula e Jair Bolsonaro: mal começou a campanha para o segundo turno e um lado já espalhou que o petista é “satanista” (se não for o Cramulhão himself), enquanto o outro rebateu com um vídeo de Bolsonaro numa loja maçônica em 2017 (“no tocante a essa cuestão aí, não tenho nada contra maçom, talquei?”). O melhor é ver as agências de checagem despendendo tempo e recursos para assegurar que a imagem do presidente ao lado do demônio Baphomet é, quem diria?, montagem — quase tão boa quanto aquela vez em que um time de checadores desmentiu que o papa quisesse REVOGAR A BÍBLIA. Oficialmente, a trilha sonora da eleição passa a ser aquela marchinha “será que ele é bossa nova/ será que ele é Baphomet?”.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisMaçonaro na bolsonaria: como diria Gil, “a maçonaria já me deu régua e compasso”

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  1. Goiaba, olha, essa cridulidade esta fazendo muita gente votar lula.drão, achando que ele de fato é um democrata. Só se estivermos falando da marca de sapato. Lula.drão é um vândalo e vai derreter o país à la Argentina, dançando samba no alemão junto com o pcc, ao invés de tango... Sujeito sem pé e sem cabeça, malandro agulha: quem sabe de lula.drão é Celso Daniel e Toninho do pt.

  2. Goiaba, você é um "crédulo" kkk. Notou que todos os erros grotescos das pesquisas que eram para ser do tipo " 3% para mais ou para menos com 95% de confiança ", foram favoráveis à esquerda ? Eu diria que é um indício de fraude mesmo.

  3. Acho que pesquisas são úteis para identificar opiniões e tendências em muitas atividades, porém as considero nocivas no período eleitoral. Estimulam o famigerado voto útil e prestam assim um desservisso à democracia. Outros resultados em passado recente que nenhum instituto previu: derrota da Dilma para o senado por Minas e a vitória do Witzel para o governo do Rio de Janeiro.

  4. Em 2018 foi a mesma coisa. O Bolsonaro perderia para qualquer um no segundo turno. Na verdade, parece mais uma sórdida tentativa de influenciar o resultado das eleições, desanimando os eleitores de um dos candidatos por acharem que não adianta nada irem votar.

  5. Monica Bergamo da FSP: Datafolha - tem pesquisa sexta! Instituto previu Lula em primeiro, perto de ganhar no 1t, NA MOSCA! Bolsonaro em segundo, NA MOSCA! Simone oscilando pra cima e passando Ciro, que caía: NA MOSCA. Pesquisa é retrato e revela tendências, eleição é movimento!

  6. Pesquisas a parte, pois se movimentam cfe for a concorrência. Mas o anel de Giges entrou como uma luva no dedo do Barros que, oportunista, se aproveita p amordaçá-las...é o teste, se colar, a próxima mordaça é na imprensa. Mas não " entendo nada de política ", muito menos de pesquisa".

  7. Parabéns pelo texto. A aplicação de uma amostragem, de qualquer evento, visa indicar uma tendência razoável; admite-se uma margem de erro porém, é diferente de uma apuração com erro.

  8. As pesquisas derrubaram Ciro, Simone e D’Avila! Elas incentivaram o eleitor a acreditar que a Terceira Via não tinha estofo! Muita gente debandou para os dois candidatos líderes nas pesquisas - incontestavelmente favoritos de acordo com os números divulgados semanalmente - por não querer desperdiçar o voto! Isso não é democracia. É arremedo!

  9. O nome correto é pesquisa de indução de voto, IPEC e Data folha usam a mesma malandragem das pirâmides financeiras, toda semana aumentam um pouco a vantagem do escolhido e reduzem a do inimigo, dá muito certo com o pessoal menos esclarecido que gosta de votar no vencedor. Notem como funciona superbem na Bahia. Deveriam estar todos na cadeia por fraude. PS , a minha opinião é independente, bem tenho título de eleitor

  10. Quer saber? Independentemente de os institutos de pesquisa terem acertado ou errado, creio que as pesquisas só serviram pra prejudicar o Brasil, pois provocaram aquela corrida desenfreada de anti-petistas e anti-bolsonaristas que abortou o primeiro turno e nos deixou sem opções decentes e qualificadas pro segundo turno. Sem as pesquisas, cada eleitor votaria em quem preferisse, ao invés de tapar o nariz pra votar no Bolsopetismo por puro terrorismo de ambas as partes...

  11. Quem precisa de pesquisa pra definir seu voto, não passa de um maria-vai-com-as-outras. Por mim podiam eliminar essa babaquice e botar esse pessoal pra fazer alguma coisa útil ...

  12. Corretíssimo, nada a acrescentar sobre o que foi falado. Apenas lembrar aos candidatos que queremos plano de governo, verdade, ausência de cara- de- pau, que não esqueçam o que passou, mostrando que se arrependeram. E que pelo amor de Deus e ao povo brasileiro, quando mostrarem as mortes pela triste covid, mostrem quantas pessoas morreram pelo dinheiro roubado à saúde, à educação e à segurança.

    1. Boa Alba !! Seria importante também quantificar o estrago causado pela roubalheira, quem sabe poderia até ultrapassar a triste covid.

  13. A (in?)verdade é que houve uma grande conspiração petista para votarem no Bozopata e aumentar os ganhos nas apostas do "mercado" não regulamentado de apostas, baseado nas máximas sobre perdas e ganhos imortalizadas pela Dilma naquela inesquecível fala sobre o assunto...de maneira que os adeptos do 🐸 e do 🤡 irmanados nesta eleição entre o péssimo e seu reflexo serão depois apresentados ao significado oculto das sutilezas escancaradas do amor pelo poder, pela grana fácil e pela fama gloriosa...

  14. Confiram que nesta etapa das eleições os contratados institutos de pesquisa, datafalha, ipec (falecido ibope) e outros, vão tentar dar a volta por cima, informando dados de pesquisas mais próximos do real. Tarde demais. Com a revelação dos “erros” das últimas pesquisas estão irremediavelmente desmoralizados. Aguardem e verão.

    1. Mas Álvaro, a meu ver, esses "erros" dos institutos de pesquisas revelaram para eles, institutos, e para os incautos de plantão que o povo brasileiro já não é tão, digamos assim, tapeável como fora outrora. Agora, apesar dos erros grosseiros, concordo com o Goiaba: são frutos da incompetência, logo, os institutos não podem ser extintos de maneira despótica como querem alguns políticos imbecilizados. Não há necessidade dessa caça às bruxas. O mal por si se destrói. Grande abraço!

  15. Realmente! A pesquisa politica e que tais é uma verdadeira piada. Você só errou na largura de meu sorriso quando citou a última palavra da frase: “ não atribua aa ma’licia o que pode ser explicado pela incompetência”. Conhecendo esses bastidores criptopoliticos para colorir o sorriso amarelo de muitos com a realidade escondida eu trocaria essa palavra por “má-fé”, “erro do planejamento conchavado”, simplesmente, usando a fidalguia bolsonariana, “…e daí, pqp!”, etc, etc e tal…

    1. Tive que pesquisar na Internet pra descobrir quem é a "colunista notória". Também chamada de "colunista do Lula na Foia"

    2. Com certeza ele se referia à “colunista notória“ que tuitou que as pesquisas “acertaram na mosca”

    3. Boa pergunta, José! Eu também fiquei sem entender se, de repente, o Goiaba mudou de "quitanda" e ainda não contou pra gente, kkkk!

  16. IPEC/IBOPE já erram há muito tempo. Lembram das pesquisas da candidatur de Dilma ao Senado? Ainda assim, grandes órgãos de imprensa os chamam de padrão ouro kkkk A Globonews até contratou um ex-executivo do Datafolha, pra falar bobagens tipo "tendência de crescimento dentro da margem de erro".

  17. Brilhante análise como sempre. O mais ridículo de tudo foi ver O Globo publicar dois dias depois do fracasso das pesquisas...uma nova pesquisa para o segundo turno e justo do IPEC, o que mais errou. P.S. Gostei de saber que o colunista entende de mecânica quântica. Subiu mais ainda no meu conceito.

  18. Cheiroso Ruy (goiaba quando está bem madurinha,cheira pra caramba!)quando irás lançar tua "grife gourmet" PASTA DE RUY GOIABA COM QUEIJO DE CÚALHO ?

    1. Piada pronta...a Globo divulgar pesquisa do IPEC 2 dias depois do primeiro turno...kkkk isso tá melhor que o Casseta e Planeta!!!

    2. hoje eu não sei, mas quando eu tinha 10 anos "transviado" era algo como beber até de madrugada (2:00h), usar cabelos comprido (franja maior que o padrão da época), fazer "racha" nas ruas principais da cidade, vestir calças jeans entre outros detalhes. N marchinha carnavalesca não sei o que significa pois não fui eu que compus. Mas é do tempo.

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