CarlosGraieb

Meu filho está preocupado com a bomba atômica

23.09.22

O meu filho mais novo está preocupado com a bomba atômica. Veio me perguntar se Vladimir Putin vai explodir um pedaço da Ucrânia, ou a Ucrânia inteira, ou a Europa, ou… você sabe onde isso vai dar.

Eu lhe disse com firmeza que a tal explosão não vai acontecer. Não exatamente nesses termos, afirmei que a razão, ou pelo menos o instinto de sobrevivência, no final vão falar mais alto e impedir que Putin e sua camarilha disparem os mísseis. Meu filho perguntou se é verdade que existem bombas atômicas suficientes para destruir o mundo várias vezes. Respondi que sim, e que isso é uma coisa ótima, porque assim todo mundo sabe que se a guerra começar, já era, não sobra nada nem ninguém. Existe até uma sigla para isso, “destruição mútua assegurada“, expliquei. Em inglês, as iniciais das três palavras formam MAD. Louco, ha ha.

Obviamente, não tenho como comprovar minha teoria sobre Putin, só espero que ela esteja certa. Talvez o líder russo seja um sujeito tão deformado que prefere incendiar o mundo a passar pela humilhação de uma derrota na Ucrânia. Há gente assim. Mas a conversa, como aconteceu, parece ter surtido algum efeito em meu filho, que  voltou para o álbum de figurinhas da Copa. Sei, no entanto, que angústias desse tipo não desaparecem tão facilmente.

Eu tinha mais ou menos a idade de meus filhos quando um filme chamado O Dia Seguinte passou na televisão. Naquela época, década de 1980, o fenômeno mais cataclísmico no interior de São Paulo eram as queimadas de canaviais, que cobriam cidades inteiras de cinzas pretas, que chegavam flutuando pelo ar na estação seca.

Houve tanta propaganda do filme que todo mundo parou para assisti-lo. Eu só lembro com clareza de duas cenas. Uma delas, que pode ser uma lembrança falsa, tem um cavalo branco desintegrado pelo fogo em pleno galope, quando as bombas começam a cair nos Estados Unidos. A outra cena mostra americanos mutilados e com chagas causadas pela radiação numa longa procissão em direção a Washington, para tentar reconstruir o país (essa história de americanos se unirem por causas comuns ainda existia naquela época).

O Dia Seguinte me deixou aflito por um bom tempo. Até que passou. Imagino que algo parecido possa acontecer com meu filho.

Quando nasceu meu outro filho, o mais velho, comecei a pensar que o fim do universo, em 15 ou 20 bilhões de anos, era uma ofensa pessoal. Afinal, quem são as estrelas e as galáxias para interromper as gerações e gerações de nossa família, dos descendentes de meus filhos? Hoje, estou reconciliado com o universo. Vinte bilhões de anos não é assim tão ruim.

Aniquilação causada pelos homens é outra coisa. Cada geração deveria ser obrigada a lidar apenas com uma ameaça existencial por vez. Aqueles que nasceram nos últimos 20 anos terão de conviver, provavelmente por toda a vida, com o fantasma do colapso ambiental. Por isso, é impossível perdoar Putin por trazer também o espectro da guerra nuclear, essa relíquia do século XX, para o século XXI. E é impossível perdoar aqueles, como Lula e Jair Bolsonaro, que ainda usam palavras brandas ou ambíguas para se referir ao desatino russo, que só piora.

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  1. Preocupação não resolve nada, mas acho que realmente é o caso de se preocupar porque ninguém tem dúvidas de que o Putin é louco o suficiente para isso

  2. Não gosto nem de imaginar a possibilidade (nada impossível) de Putin ser um maníaco aloprado, à la Hitler, e que o seu entorno não consiga brecá-lo caso se decida por uma insanidade suicida que acarrete numa sequência de eventos de efeito dominó que resultem na extinção da nossa civilização e espécie. Hipótese realmente apavorante e sinistra. Vamos torcer para estarmos totalmente equivocados e nos preocupar desnecessariamente. Tomara, Deus!

  3. Para presidente meu voto é nulo. Não há diferença entre Bozó e Luladrão. O resto é conivente com o atual sistema em que não há candidaturas independentes de partidos (expulsaram o Moro que já tinha 10% de intenções sem se candidatar). Isto aqui não é democracia, é ditadura de oligarquias partidárias. Pesidencialismo é messiânismo, culto à personalidade, semi ditadura. Verdadeiras democracias são parlamentaristas, onde toda a estrutura do estado é mais democrática. Vide os exemplos no mundo.

    1. A bomba do Brasil é a eleição do Presidente: Bolsonaro fala para os assalariados (70% do povo) que os benefícios recentes foram dados com base sólida e não conforme os que a oposição pretende dar que será com base em inflação (dinheiro fabricado).Vem com uma mão e é tirado com a outra: a carestia todos já conhecem e pior, além de sumir em pouco tempo levará junto o benefício do dinheiro oferecido. Dinheiro só com base financeira sólida como agora. Pensem para não votar errado.

  4. Sou bem mais velha que você. Não tenho filhos e minha família já está bem pequena, em breve se apagará, mas mesmo assim tenho as mesmas angustias do seu filho, e sua. E não votarei nem em Lula nem em BOZO porque, em nome do poder, são inconsequentes.

  5. Somos da mesma geração, e lá atrás compartilhamos da mesma angústia, o medo de uma ecatombe. Por anos achei que isso era coisa do passado, até que....

  6. Excelente e oportuno texto que nos faz refletir sobre como o ser humano é ainda tão involuído. A ascensão de líderes como Trump, Putin, Lula e Bolsonaro provam isso.

  7. Tb vi o filme e,se ainda me lembro bem,a primeira cena é o ator principal entrando c/seu carro pela vitrine d uma agência de automóveis.Lá ele discute sobre um carro novo,sobre preço,c/alguém q ñ existe.Ele falava sozinho p/ ñ enlouquecer e p/ ñ esquecer como se fala.Uma cena meio engraçada q me marcou,mas o resto do filme era bastante impressionante.Hoje,diante dos Putins da vida,ñ gosto+ desse tipo d filme. Acho q Putin seria bem capaz d explodir o mundo naquela d "vou,mas levo o mundo junto"

  8. Infelizmente as pessoas sensatas, sinceras e sensíveis, estão em vias de extinção. Belíssimo texto, muita verdade que só aumenta nossa angústia com o porvir.

  9. Movimentos recentes de posicionamento de submarinos nucleares ao redor do globo , vizinhança hostil , embargos e planos desde o fim da segunda guerra indicam que que Putin " Truca sem o Zap no Pé ". Seu filho pode ficar sossegado; não verá o fim da aventura humana na terra...

  10. Me lembro desse filme, e a guerra friaera realmente o maior drama da nossa geração, junto com a AIDS quando surgiu. Cada época com seus medos.

  11. 1/2- A arte está morta. Jason Allen. Meu filho, no mundo globalizado, os países são interdependentes. A Rússia precisa vender suas commodities para a Europa. A China não vai querer que o dólar valha menos que o papel no qual foi impresso. A criança me olha nos olhos e volta sua atenção para o Pequeno Príncipe. Valores humanos. Eu penso nas crianças ucranianas. Uma arte estúpida e inválida não tem coração. É uma inteligência artificial, dissimulada.

    1. 2/2- Eu sou contra os artistas petistas. Eu sou humano e quero uma arte que defenda os valores humanos. Quem ama vota Sim❤️ne 15.

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