Divulgação"Para cada consulta com um oncologista, o SUS manda pagar 10 reais"

‘Somos nós que bancamos a saúde dos brasileiros’

O presidente da Confederação de Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, Mirocles Véras, diz que não há como pagar o piso da enfermagem e que é preciso mudar o modelo de financiamento da saúde no país
16.09.22

Prefeituras, governos estaduais, hospitais filantrópicos e Santas Casas de todo o Brasil estão preocupados com a maneira como irão pagar o novo piso salarial para enfermeiros e técnicos de saúde, estipulado entre 2.375 reais e 4.750 reais. O projeto que instituiu esses valores, aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, não apontou qual seria a fonte de custeio. Entidades e governos regionais declararam não ter verba para arcar com os custos extras.

Para alívio dos gestores, a medida foi suspensa por uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal, STF, Luís Roberto Barroso, que questionou sua constitucionalidade. O caso foi parar no plenário da Corte, que tem até esta sexta, 16, para concluir sua votação. Até a publicação desta edição, o placar era de 5 a 3 pela suspensão da lei.

Para o administrador Mirocles Véras, presidente da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), é impossível pagar essa conta. “Estamos enfrentando uma crise grave de financiamento, que pode se agravar com essa lei“, diz Véras. Ele afirma que as contrapartidas pagas aos hospitais com base na tabela do Sistema Único de Saúde, o SUS, são insuficientes e que o modelo deveria ser reformulado, considerando que hospitais filantrópicos e Santas Casas representam 70% dos serviços de alta complexidade no país. Aos 58 anos, Véras faz parte da diretoria do Hospital e Maternidade Marques Bastos, em Parnaíba, no Piauí. Ele conversou com Crusoé pelo telefone.

 

Uma lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro fixou em 4.750 reais o piso nacional dos enfermeiros. Foi uma boa ideia?
Acho que não. Em geral, o salário dos enfermeiros e de outros profissionais de saúde é determinado pelo mercado. Se compararmos a situação de São Paulo com a de Fortaleza, veremos que a disparidade é muito grande. A Santa Casa de São Paulo, por exemplo, remunera os enfermeiros com quase esse valor. A de Fortaleza paga cerca de 2 mil. Porém, a lei instituiu um piso único para todo o território nacional. Mesmo para hospitais do interior do estado de São Paulo ficará difícil alcançar esse valor. Outro problema é que a lei não determina de onde virá o recurso para arcar com esse custo extra. Se o piso entrar em vigor, ele provocará um acréscimo na nossa folha de pagamento de 60%, o que equivaleria a um aumento de custo de 6,3 bilhões de reais. Não temos condições de pagar isso.

As Santas Casas e hospitais filantrópicos não poderiam aumentar os recursos para arcar com esses custos salariais?
Nós somos entidades privadas, sem objetivo de lucro. Prestamos serviços para a população por meio dos contratos que temos com os estados e os municípios. Eles nos pagam contrapartidas, seguindo a tabela do Sistema Único de Saúde, o SUS. Nossas entidades pediram aos gestores dos estados e municípios para eles subirem os repasses. Eles responderam que não têm condições de fazer isso, porque também estão buscando fontes de recursos para pagar os próprios profissionais, que atuam no sistema público.

Essas contrapartidas que são pagas seguindo a tabela do SUS cobrem esses serviços?
O valor que recebemos é sempre menor que o custo dos procedimentos. Para cada consulta com um oncologista, o SUS manda pagar 10 reais. É claro que esse valor não cobre o tempo desse profissional. A diária de um leito de UTI custa entre 2.800 reais e 3 mil reais, mas o SUS só paga 600. A diferença somos nós que cobrimos.

DivulgaçãoDivulgação“Mais de 20 mil leitos hospitalares foram eliminados”
Como as Santas Casas conseguem pagar essa diferença?
Nossas instituições geram faturamento de outras formas e, com isso, custeiam parte desse déficit. Somos nós que bancamos a saúde dos brasileiros. Além disso, recebemos doações e verbas de emendas parlamentares. O problema é que temos tido uma dificuldade crescente para equilibrar as contas. Devemos 10 bilhões de reais para a Caixa Econômica Federal.

Na pandemia da Covid, muitos brasileiros ficaram satisfeitos com a vacinação gratuita e fizeram campanha pelo SUS nas redes sociais. O sistema precisa mudar?
Sou um defensor do SUS. A Constituição de 1988 deu a todos os brasileiros o direito à saúde. Mas naturalmente é preciso fazer alguns aprimoramentos. As Santas Casas e hospitais filantrópicos realizam 70% dos serviços de alta complexidade, como cirurgias e tratamentos oncológicos, em todo o Brasil. Os outros 30% se dividem entre o serviço público e o privado. Mas estamos enfrentando uma crise grave de financiamento, que pode se agravar com essa lei. Nos últimos dez anos, mais de quinhentas Santas Casas fecharam, deixando pessoas carentes de várias cidades sem atendimento. Mais de 20 mil leitos hospitalares foram eliminados. Então é preciso melhorar o sistema. Quem quer que ganhe a eleição este ano deverá buscar alguma forma de financiar esse modelo.

O que aconteceria se as Santas Casas e hospitais filantrópicos fechassem?
Se porventura pararmos de funcionar, seria muito difícil para os hospitais públicos e privados absorverem essa demanda. Além disso, a conta seria muito elevada para os brasileiros, porque os hospitais públicos e os universitários custam de oito vezes a dez vezes mais que os filantrópicos. Basta ver os seus orçamentos para constatar isso.

Por que isso acontece?
Porque somos mais bem administrados. Seria justo que fôssemos mais bem remunerados pelos serviços que prestamos à sociedade.

Por que os políticos aprovaram o piso mesmo sem ter recursos para tal?
Nós participamos ativamente das discussões na Câmara e no Senado. Falamos reiteradamente que não teríamos condições financeiras de pagar um piso muito alto. Deputados e senadores nos garantiram que a lei seria aprovada com a discriminação de uma fonte de recurso. Isso não ocorreu.  

Eles ignoraram as ressalvas porque estamos em ano eleitoral?
Em período eleitoral, os políticos tendem a distribuir facilidades. As votações no Congresso se deram sob a ânsia de atender a reivindicação justa dos enfermeiros, que se sacrificaram bastante na pandemia. Mas não podemos nos esquecer que outras categorias, como os fisioterapeutas e os médicos, também contribuíram para tratar os pacientes com Covid. 

Outros profissionais de saúde foram ignorados?
Há mais de quarenta projetos no Congresso para instituir pisos a diversos profissionais de saúde. Hoje, muitos hospitais estão planejando demissões e adaptações nos serviços para lidar com o problema dessa nova lei, mas o impacto ainda poderá ser muito maior se não houver uma conscientização sobre os recursos disponíveis.

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  1. SAÚDE É UMA DAS “INDÚSTRIAS " MAS RENTÁVEL NO BRASIL É NO MUNDO, COM LUCROS ESTRATOSFÉRICOS, SÓ AQUI NO BRASIL QUE OS EXECUTIVOS DA SAÚDE, PRECISAM MAMAR NAS TETAS GORDA DO GOVERNO. É UMA MISTURA DE INCOMPETÊNCIA COM FALTA VERGONHA NA CARA.

    1. Rentável, só se for para políticos fazerem desvios de verbas, usando as verbas do Ministério da Saude, assim como fazem com o Ministério da Educação. Não seria grande parte dos políticos o cancro que está corroendo o país? As verbas seriam suficientes se não fossem roubadas. Como são capazes de aprovar uma lei, sem designar a fonte dos recursos? Ainda bem que temos um STF, que algumas vezes barram esses desatinos.

  2. Gostaria que os enfermeiros ganhassem mais. São muito importantes. Mas o sistema precisa parar de pé. Esta discussão se faz no âmbito do Ministério da Saúde, com o SUS, Estados, Municípios, Santas Casas, Planos de Saúde, além do Congresso. O sistema precisa de AJUSTES e melhor gestão. Não estamos no zero, vamos avançar com responsabilidade e compromisso com o Brasil, com brasileiros e profissionais da saúde. Sem populismo.

    1. Você precisa se informar, antes de fazer comentários desfocados como esse.

    2. O que ele declarou é verdade. Fui diretor de Santa Casa e sei as dificuldades que as entidades filantrópicas enfrentam para continuarem a atender a população. A defasagem entre os repasses do SUS e os gastos são imensas.

    1. Aí vc entrou em outra seara, que é a dos "privilégios adquiridos". ...

    2. ... é mesmo Renato? só você ignora que é o SUS e verbas públicas que mantém as tais Santas Casas MAS que tal você dizer isto aos sinistros STF estes mesmos que de forma cínica negam algo tão justo a explorados por falsos benfeitores sociais que se pagam e posam de santos com a grana do povo e se autoconcederam um aumentim de "apenas" $7mil mensais no já maior salário público do país? haja cinismo ou seria ignorância? e viva o país dos cegos!!!

  3. De acordo com o administrador,normatizar o salário de um profissional técnico,extremamente qualificado,que representa 80% da mão de obra do serviço de enfermagem, em menos de três salários mínimos,irá colocar em cheque o atendimento hospitalar brasileiro. Sua capacidade administrativa senhor,é altamente questionável.

    1. Enfermeiros e técnicos são quem carrrega os hospitais nas costas. Cadê o reconhecimento?

  4. Gostaria de entender como “entidades privadas não tem objetivo de lucro”? Vivemos no mundo capitalista, o lucro está em toda parte. Se, como disse o entrevistado, “são mais bem administrados”, como devem 10 bilhões de reais para a CEF? Como enfermeira só tenho a lamentar a aprovação dessa Lei sem um meio de recursos. Mais uma vez, o Congresso nos enganou!

    1. das atuais e a respeitabilidade das antigas Santas Casas (tomadas por grupos médicos somados a grupos da “elite” social” que, com a implantação do SUS e a sua dinheirama, deixaram de ser santas) surgem os poderosíssimo grupos privados de Sau’de que usa como escudo essa, ainda, respeitabilidade e financiando a mídia reverbera, no caso do piso da enfermagem, o discurso do caos do furo do orçamento e do desemprego. Como se preocupassem terrivelmente com isto. Nossos supremacistas se condoeram..

    2. Prezada Kedman, este pronunciamento é eivado de obscurantismo e mentiras. Há interesse das instituições pilantro’picas manter-se em deficit porque interessa aos grupos que as dominam. Esses deficits são utilizados acenando-se com fechamento de leitos SUS (no vulgo luloptista, greve). Como oferecem o maior número de leitos, a mídia e parlamentares da bancada pressionam os poderes executivos- municipal, estadual e federal- e estes sob chantagem, cedem. Usando a carona da pilantragem

    3. Suas perguntas são as que me fiz ao ler a entrevista! Não sou da área da Saúde mas os argumentos usados pelo entrevistado me parecem rasteiros e duvidosos. Pelo jeito não haverá mudança alguma.

  5. As santas casas há muito tempo deixaram de ser Santas, foram adonadas por entidades travestidas de filantrópicas (ou pilantro’picas?) essa marca, foi realmente humanitária antes do potim SUS que enriquece muita gente. São mantidas por mantenedoras laranjas marionetes de grupos de médicos e classes sociais destacadas que exploram a sua história, para ordenhar dinheiro público e doação de benfeitores ainda crédulos ou que querem adquirir um lugar no céu... Gestões desastrosas com uso politico

    1. Concordo plenamente. Recentemente, assistir um vídeo (que está relacionado ao fechamento do setor pediátrico do Hosp.São Lucas em BH - para implantação de cirurgia estética ), onde um parlamentar discursava, sobre um pagamento de salário de R$ 30.000,00 para EX Provedor da Santa Casa de BH. Isso é exatamente o que você disse.

    2. escancarado e os escolhidos formam as bancadas das pilantropicas (ex-anjos da salvação representadas por enfermeiras de batina). Quer melhor escudo para sensibilizar e se endinheirar com o orçamento público e com leis ou derrubada de leis, como esta? Não é mesmo Gigantes da saude privados?

  6. o JORNAZISMO cúmplice da mentira a enganar um povo humilde rosna seu cinismo maniqueísta omotindo cinicamente a verdade só repassando o que os donos lhes enfiam rabo acima ..... mas VAMOS A FATOS ... Investimento na Saúde ..... 2018 - 108bi ... 2019 - 114bi ... 2020 -150 bi ... 2021 - 161 bi .... portanto o atual governo investiu reais 25% a mais em saúde .... confram os dados antes de destilar tanta bosta para manipular infelizes sob mentiras de uma escória cínica, mentirosa e criminosa.

  7. Bolsonaro é o pior PR da história do Brasil. É melhor prevenir do que remediar. O PR é um ativista anti-vacina, deixando o país vulnerável a futuras epidemias. É mais barato remediar doenças crônicas, do que tratá-las nos hospitais. Cortaram a verba do Farmácia Popular, mantendo intacto o orçamento secreto. E caso o brasileiro precise de atendimento nos hospitais, o piso eleitoreiro da enfermagem pode comprometer o seu acolhimento. Sim❤️ne 15.

    1. Deixa de cinismo Paulo quem como você idólatra de um ladrão tem moral para criticar preferência de alguém? Se gosta da VERDADE como diz confira os dados VERDADEIROS que coloquei pois não sou idiota sendo ameaçado mentir ... deixa de auto-enganação o espelho implacável mostra aos indignos e fracos o que são pois são cruéis reflexos do real.

    2. Colega, por que não deixa às ofensas de lado, e aponta no quê eu falto com a verdade? Pela raiva que externa, eu não me disponho a entrar na caverna escura bolsonarista, onde você só enxerga sombras, para tentar tirá-lo. Fique aí dentro, mas procure respeitar às pessoas aqui fora. Sim🇧🇷ne 15.

    3. .. os imbecís na verdade mamantes capachos de ladrões fingem se autoenganar para manipular idiotas ignorantes a acreditar em suas mentiras canalhices e criminosas informações ... veja a verdade na postagem por mim feita sobre o assunto e confiram ... chupa a verdade idiota mentiroso.

  8. Como um Pr Sociopata Genocida carregando nos ombros as 700mil mortes de brasileiros, por sua irresponsabilidade e incompetência, sentado “confortavelmente” no colo do Centrão, vai se incomodar com a saúde da população que não tem comida na mesa muito menos Plano de Saúde???

  9. Não sou enfermeiro e nem pertenço a categoria de profissional da Saúde.... mas vejo que o salários dos profissionais da Saúde estão bem aquém do que a categoria recebe e merece!

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