Fotos: Gabriela Biló/Folhapress, Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Game of Thrones em Alagoas

A briga entre Arthur Lira e Renan Calheiros reproduz a polarização entre Bolsonaro e Lula e ilustra como, na política nacional, quando tudo muda é para que tudo continue como sempre foi
26.08.22

Famílias poderosas numa disputa implacável pelo trono. Não, não estamos falando de um remake de Game of Thrones, mas da campanha eleitoral em Alagoas, estado que reproduz a polarização entre Lula e Bolsonaro e que ilustra como, na política nacional, lastreada na regional, quando tudo muda é apenas para que tudo continue como sempre foi. De um lado, o lulista Renan Calheiros tenta reeleger o governador Paulo Dantas e emplacar Renan Filho como senador – os três são do MDB. Do outro, o bolsonarista Arthur Lira (PP) defende a candidatura de Rodrigo Cunha (União Brasil) ao governo estadual e o nome de Davi Davino Filho (PP) ao Senado. Integra a nova dinastia bolsonarista o senador Fernando Collor (PBT), outro de antiga linhagem populista, que se lançou governador para fortalecer a oposição ao domínio dos Calheiros.

A mais recente pesquisa do Instituto Paraná reflete uma disputa acirrada, como se previa, com Dantas liderando (25,1%), seguido de perto por Collor (22,6%) e Cunha (18,1%).

No jogo político alagoano, vale tudo. Nas redes sociais, os candidatos de cada lado soltam ofensas e acusações, enquanto nas redes sociais correm vídeos repletos de fake news ou denúncias polêmicas.

Lira, por exemplo, virou mais uma vez alvo da ex-mulher Jullyene Lins, que se aliou a Renan e recorreu ao TRE-AL para tenta cancelar candidatura do ex-marido à reeleição – o presidente da Câmara quer um novo mandato para tentar manter o comando da Casa a partir de 2023. Ela alega que o ex-marido é ficha suja, pois foi condenado pelo Tribunal de Justiça do estado por improbidade, em ação decorrente da Operação Taturana, que investigou esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa de Alagoas. Em 2018, Lira concorreu apoiado numa liminar e o mesmo deve ocorrer agora.

Em outra frente, o MDB alagoano também acionou a Justiça Eleitoral contra Rodrigo Cunha, por propaganda eleitoral antecipada e produção de fake news contra a honra de Renanzinho e Paulo Dantas, chamado de “fantoche” dos Calheiros. As postagens nas redes sociais acabaram derrubadas pelo TRE.

Para completar a artilharia contra Lira, na segunda-feira a Polícia Federal prendeu um de seus principais aliados no estado, o prefeito de Rio Largo Gilberto Gonçalves, acusado de chefiar uma “organização criminosa” que desviou mais de R$ 10 milhões da educação e da saúde. O recurso seria parte do montante superior a R$ 23 milhões em emendas secretas direcionadas pelo presidente da Câmara ao município. Em postagens nas redes e propaganda em outdoor, “GG”, como é conhecido, ostenta a parceria com Lira. Em julho, os dois participaram de um comício na cidade. Depois, o ainda prefeito escreveu no Instagram: “A parceria do deputado Arthur Lira é essencial para o sucesso dessa gestão e Rio Largo segue avançando a passos largos.”

No Twitter, Renan pegou carona na operação policial e ressaltou que a prisão de Gonçalves seria a primeira do orçamento secreto. “É uma advertência às demais cidades e aos métodos de Arthur Lira que, cinicamente, continuou a liberar recursos para o ‘beco da propina’ e outros escândalos”, escreveu o senador lulista, em referência ao flagrante registrado pela PF da entrega de pacotes de dinheiro, em becos e vielas da cidade, a seguranças do ex-prefeito. Lira reagiu e chamou Renan de “figura nefasta” da política brasileira. “Ele não lembra o motivo pelo qual foi obrigado a renunciar à presidência do Senado? O que não faltam são escândalos. Querer fazer proselitismo às custas dos outros diz muito de sua personalidade”, escreveu o presidente da Câmara, sem poupar Renanzinho. “Um pente fino no governo do seu filho vai constatar um rosário de ilicitudes. Creches superfaturadas, repasses de recursos estranhos à Assembleia Legislativa e tem a famosa Operação Edema, que a PF deve colocar para frente.”

Em março, Renan apresentou ao Supremo um mandado de segurança para tentar suspender a execução das emendas secretas, “sob risco irreparável” de interferência nas eleições. “No caso em comento, verifica-se grave risco à legitimidade das eleições, influência direta do poder econômico, flagrante abuso do exercício das funções, dos cargos e dos empregos na administração direta – exatamente o caso presente e os atos coatores praticados pelas autoridades impetradas”, alegou o senador. O pedido, porém, foi arquivado. Ainda em outubro, Renan provocou Lira, chamando o orçamento secreto de “maior escândalo de corrupção desde a Proclamação da República”.

O grupo de Lira não deixou barato e apresentou ao TRE uma série de acusações contra o governador Paulo Dantas, solicitando o cancelamento de seu registro de candidatura. Uma das ações envolve Dantas e seu secretário de Comunicação, Joaldo Reide Barros Cavalcante, acusados de promover uma estratégia de “espetacularização de solenidades”, na entrega de obras do governo. Outra trata de propaganda antecipada, pela veiculação nas redes sociais de conteúdos inverídicos ou gravemente descontextualizados” que atingem a “integridade do processo eleitoral. Numa terceira ação, a coligação lirista denuncia o uso de “influenciadores digitais” para promover um programa de governo e, uma quarta, ataca Dantas por usar suas redes sociais pessoais para a promoção de programas oficiais.

Com o início da campanha n TV, a partir da quinta-feira 25, o nível da campanha deve baixar ainda mais, com o consequente aumento do número de ações na Justiça Eleitoral. Por enquanto, Collor tem jogado parado com o objetivo de levar a disputa para o segundo turno, compondo com Cunha — que, por questões estratégicas, se mantém neutro na eleição nacional no primeiro turno. Nesse sentido, Lira manobrou para que o PL integrasse a chapa do senador do PTB, que vende a imagem de candidato do presidente da República, inclusive com jingle em que reforça o slogan “Collor governador, Bolsonaro presidente”. Na segunda rodada eleitoral, estarão todos juntos no palanque com Jair Bolsonaro contra Lula e os Calheiros. É um roteiro surrado, com resultado previsível para o eleitor alagoano, não importa o vencedor. No Game of Thrones alagoano, não importa quem seja a família política vencedora, a roda do sistema sempre continuará esmagando os cidadãos. 

(Colaborou Deborah Hana Cardoso)

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  1. Alagoas é um mini Brasil. Tanto lá como cá, a briga é entre bandidos. O povo ralé que não sabe dissociar e ficam disputando essa laia.

  2. Lira e Renan trocando acusações é a realização do meme dos 2 homens-aranhas em que um está apontando para o outro. Misericórdia. O bom de GoT é que cabeças rolam a vontade. Se, entre Renan, Renanzinho, Lira e Collor, rolarem umas cabeças, seja pela justiça, seja pela vontade do eleitor, o Brasil já sairá ganhando. PS: E o coronelismo no Brasil segue de boa saúde, graças a Deus.

  3. Que pena para o povo alagoano em ter que conviver com essa política suja e candidatos interessados só nas benevolência e em perpetuar suas clãs políticas.

  4. Que se degladiem! Quem sabe assim não são expelidos de vez da política nacional. No fim do dia só muda o número da conta bancária.

  5. O pior é que quando estes trastes se aposentam ou morrem deixam os descendentes na política já preparados pra continuarem mamando nas tetas do estado brasileiro e já preparando os outros filhos, netos, esposas pra assumirem quando eles também se forem. Então será sempre tudo do mesmo folhetim político da piada pronta abençoada pelos eleitores. Triste fim o nosso. Brasil Pais do futuro não existe e nem existirá com estes ratos que habitam os poderes e o povo u se f….

  6. O estado do Alagoas é desses estados que deveriam ser anexados à outros mais desenvolvidos para que pudesse finalmente deslanchar! O alagoano não tem futuro, pois está a mercê de políticos corruptos, que nada fazem pelo povo, a não ser repetir as famigeradas velhas práticas de atraso, roubalheira e nepotismo!

    1. Que tal conhecer a política imunda do Rio de Janeiro? Os cariocas estão entregues aos milicianos. A família Boldonaro faz parte dessa organização

  7. Suruba é suruba como disse, o tambem o corrupto, Romero Jucá que fazem do Brasil um ninho de LARAPIOS com sede no dinheiro público

  8. Alagoas consegue ter os maiores bandidos da política, nesse país de políticos corruptos. E o alagoano se mantém passivo ou indiferente!!

  9. Nao é de hoje que Alagoas é um estado bandoleiro haja vista as matancas políticas de Exu no seculo passado com familias rivais se degladiando.

    1. Exu situa-se em Pernambuco. Tem Exu em Alagoas também?

    1. Eu diria que é o "fim" do Brasil, ganhe Bolsonaro ou Lula. ZEMA 2026!!!

  10. Pobre Alagoas. O pior é que sobra para o Brasil. Tenho pena também do Cláudio Dantas, com tantos Dantas enrolados (Paulo Dantas, Bruno Dantas...).

  11. Esta é a foto da política brasileira, famílias tentando se manter no poder. A população que ganhe as milhas, ainda estamos no século 19?

  12. O pior mas o pior mesmo, é que deve existir algum candidato, com boas propostas, SEM ACUSAÇÕES, mas o qual o indiferente eleitor prefere não votar. O GOT Alagoas reflete o país. Por esse e outros motivos é que corremos o risco de virar uma Argentina, no sentido de que não há solução.

  13. A politização interessa ais contendores, que são farinha do mesmo saco. Bem que Alagoas poderia melhorar o padrão de seus políticos. A praia é ótima, mas os políticos são o padrão médio nacional, sofríveis

    1. PALAVRAS USADAS PELO pamonha General Heleno (não merece ser chamado de General), depois quando o Bozo comprou e se vendeu ao centrão, o véio Heleno disse que era apenas uma brincadeirinha. fdp.

    1. Alagoas produz alguma coisa decente na política nacional?

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