RuyGoiaba

Não diga ‘coronavoucher’: diga Robson

03.04.20

E, de repente, a 20ª edição do BBB — repito, a vigésima, quando todo mundo já deveria estar de saco cheio da fórmula lá pela quinta — bombou a ponto de o último paredão para escolher quem sai da casa ter 1,5 bilhão de votos, mais que uma Índia inteira. A explicação óbvia do fenômeno é a quarentena, que está fazendo gente isolada em casa discutir acaloradamente sobre gente isolada em outra casa, só que com transmissão no horário nobre da Globo.

Sempre achei chato discurso do tipo “desligue o BBB e vá ler um livro”, em geral feito por gente que lê uns livros horrorosos. Mas também sempre achei o BBB uma chatice. A única coisa que me interessava vagamente no reality show era identificar as gostosas que depois se despiriam na Playboy, naqueles longínquos tempos em que a Playboy existia. Hoje, nem isso. Mesmo assim, sei de tudo sobre o programa — quem são Prior, Thelma, Babu etc. — porque é impossível entrar nas redes sem submergir num tsunami de posts sobre os quarentenados globais. (OK, é melhor que ler notícias sobre morte iminente. Mas nem tanto.)

Na verdade, vivemos a situação ideal para fazer pela primeira vez um BBB REVERSO: os participantes da casa ficam assistindo, em tempo real, a todos os brasileiros que estão confinados dentro das próprias casas e decidem quem é que sai para receber os abraços do coronavírus lá fora. Em vez de três pessoas, os paredões para decidir quem sai passam a ter 30 milhões. Um lance “ditadura chinesa” mesmo, só que sem gente comendo morcego (espero, mas não garanto). E nada de prêmio de 1,5 milhão de reais: ficar vivo já é seu prêmio. Que tal?

Sim, é uma ideia cretina, mas a culpa não é minha: é do isolamento, que enlouquece as pessoas. Antes uma ideia imbecil inofensiva do que fugir nu da quarentena e matar uma idosa a dentadas, como um sujeito fez na Índia dias atrás e amigos parecem a ponto de fazer. Não cheguei a esse ponto – ainda.

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Falando em ideias cretinas que as pessoas têm durante a quarentena, outro dia uma economista do Twitter — se alguém comprar a figura pelo que ela vale e vender pelo que ela pensa que vale, supera o Jeff Bezos na lista da Forbes — estava muito ocupada defendendo insistentemente que as pessoas não chamassem o auxílio financeiro do governo de “coronavoucher”, e sim de “renda básica emergencial”. Palavra de honra: nem os monges da própria Bizâncio se embrenhariam numa “discussão técnica” TÃO bizantina num momento em que muitas pessoas, sem poderem trabalhar, precisam desesperadamente do dinheiro que até agora não se sabe ao certo quando o governo pagará.

Quem precisa desse vale para comprar comida não vai deixar de comprá-la só porque, oh meu Deus, o nome do auxílio está tecnicamente errado. Não pode chamar de “coronavoucher”? Chama de Robson, Flayslane, Enzo Gabriel, Rosecreide Aparecida, Flicts, qualquer coisa. O importante é que chegue.

Pague logo o Robson, Paulo Guedes.

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A GOIABICE DA SEMANA

Está cada vez mais difícil escolher algo para a seção e mesmo achar graça nos possíveis candidatos, mas a entrevista de Jair Bolsonaro àquele sub-Datena que é Sikêra Júnior rendeu ao menos uma imagem final memorável: o agradecimento do apresentador e de sua equipe ao presidente, com um chinês na ponta esquerda e um cara com cabeça de burro na ponta direita. Nada poderia ser mais simbólico do momento atual neste Bananão: estamos muito ferrados.

Reprodução/Rede TVRetrato do Brasil: chineses à esquerda, burros à direita e avacalhação de todo lado
 

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