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Uma defesa meio antagonista de Taylor Swift

Taylor Swift (que entre outros epítetos é a primeira bilionária da indústria cultural, dona da carreira mais vigiada do século XXI e uma artista com gente em Harvard estudando sua obra) voltou à estrada nesta semana, com um show em Paris da sua The Eras Tour (mais um epíteto: autora da maior turnê musical de...

Crusoé
5 minutos de leitura 11.05.2024 16:10 comentários 1
Um artista, que assim mereça ou acredite merecer tal título, não deve se importar exclusivamente com a recepção do público

Taylor Swift (que entre outros epítetos é a primeira bilionária da indústria cultural, dona da carreira mais vigiada do século XXI e uma artista com gente em Harvard estudando sua obra) voltou à estrada nesta semana, com um show em Paris da sua The Eras Tour (mais um epíteto: autora da maior turnê musical de todos os tempos). Em relação aos shows que vimos no Brasil — e que motivaram até uma análise desta revista — há uma nova era: The Tortured Poets Department,  a última obra da cantora .

O mais ouvido da história em uma estreia (mais de 100 milhões de vezes), colocando 14 músicas entre as 14 mais ouvidas das paradas...os números superlativos são positivos à cantora. Mas há outros números superlativos mais difíceis: o disco tem 65 minutos de duração e até parece demais com o seu anterior, Midnights (2022), com faixas quase que fotocopiadas umas das outras. Praticamente ma música de loja de departamento para shopping de luxo. 

Com as críticas negativas se avolumando sobre a prolixidade da cantora (que ficaram fatalmente comprovadas em 31 faixas), o The New York Times sugeriu que a cantora tivesse um editor. A Folha de S. Paulo disse que a cantora errou a mão. Aí então a chave virou e eu (que não gosto da cantora, nem faço parte do público-alvo desta espécie de Xuxa romântica da Pensilvânia) resolvi dedicar esse espaço sobre música a defender uma cantora que, com tantos fãs tão fiéis e incondicionais, praticamente não precisa de defesa. 

Tudo o que a tornou famosa está ali: as letras melosas e altamente densas sobre algum relacionamento malsucedido da cantora (neste caso, são dois homens; Dear John, de um álbum anterior, é sobre um terceiro, All Too Well é sobre um quarto...); o verso arrebatador ligando dois refrões em uma ponte, quase que um segredo industrial seu, está lá. Nada parece muito fora do lugar. Taylor está onde sempre esteve, quem não está (mais) é o ouvinte, que passou a se acostumar com obras cada vez mais reduzidas e imediatas e parece ter pedido a paciência na metade do disco.

Não é e nunca poderá ser culpa do artista. Um artista, que assim mereça ou acredite merecer tal título, não deve se importar exclusivamente com a recepção do público e sim com sua única joia, perfeita reprodução de seus sentimentos em relação ao mundo.

David Bowie disse ao apresentador Dick Cavett que não queria ser entendido. Prince chamou a imprensa musical de “interesseira”e disse que “as gravadoras precisam respeitar a arte primeiro, e deixar que isso seja a gênese das decisões tomadas”. Ambos morreram há oito anos, mas permanecem totens influentes a tantos outros artistas justamente por esta rebeldia. 

Alguns artistas mantêm viva essa chama. A cantora St. Vincent tem o costume demonstrado por ambos de mudar completamente de persona de álbum para álbum. Em 2019, seu disco Masseduction a pôs em um tecnopop com roupas de látex e uma sexualidade inegável; seu disco seguinte, Daddy’s Home (2022), foi um mergulho no funk americano dos anos 1970 com direito a uma peruca loira tipo Hebe Camargo; há duas semanas, uma nova fase em All Born Screaming, onde ela aparece extremamente crua, apostando em um rock que lembra as bandas de garagem dos nos 2000. Este, mais recente, nada tem de espetacular – exceto pelos solos de guitarra e por ela jamais ter perguntado a mim (ou a qualquer fã, ou a algoritmos nesse ou naquele site) que tendências ela deveria seguir. 

Taylor parece seguir o mesmo caminho, e vive com seu The Tortured... um momento e inflexão na carreira. No seu auge, ela tem tantos olhos sobre si que mesmo uma obra sua não consegue tapar as crítica. Um olhar sobre o passado mostra que foi exatamente o que viveu Stevie Wonder nos anos 1970. 

Assim como ela, Wonder ganhou três Grammys em um intervalo muito curto de tempo, sendo o último deles (Songs in the Key of Life) talvez o retrato definitivo da música americana no século XX.  Com todos os olhos do mundo sobre si (sem nenhum trocadilho), o cantor viajou para a África, voltou testando instrumentos inéditos em estúdio e, depois de três anos, se saiu com Journey Through the Secret Life of Plants, um trilha sonora estranhíssima para a época, extravagante em suas composições orquestrais e que vai de um pop acelerado a então recém-nascida música ambiente. Até uma marcha fúnebre aparece nesse jardim. 

Não que a crítica tenha desaprovado a obra, mas a visão à época era que as músicas seriam “prolixas” e Stevie Wonder havia sido “ambicioso demais” e “vago”. Não era o que o público queria. Aos 29 anos, ele havia passado pelo ápice da sua carreira e desde então (e lá se vão 45 anos) o cantor mais influente da música americana vive de lotar estádios administrando os louros escritos quando ele ainda tinha 25 anos ou menos.

A loirinha, vale dizer, faz 35 esse ano. 

* 

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Comentários (1)

Marcia Elizabeth Brunetti

2024-05-11 19:18:40

Gostei dessa descrição: Xuxa romântica da Pensilvânia. Kkkk. Mas acho que a Xuxa até se eternizou. Essa Taylor Swift sequer consigo identificar quem é quando escuto o rádio do carro. Como já está rica ela poderia encerrar sua carreira pelo mundo e se dedicar somente a Pensilvânia.


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