Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

‘Simone Tebet pode ser alternativa real’, diz tucano que apoia a senadora do MDB

09.02.22 16:48

O ex-senador tucano José Aníbal, de São Paulo, é uma das vozes dissidentes no PSDB que questionam a candidatura do governador João Doria. Em janeiro, ele declarou apoio público à colega Simone Tebet, do MDB. Nesta terça-feira, 8, participou de um jantar em Brasília com outras lideranças tucanas para discutir o risco de fracasso de Doria e a possibilidade de abandoná-lo. Suplente de José Serra, Aníbal ficou no Senado por cinco meses e deixou o cargo na semana passada, após o retorno do titular.

Agora, pretende se engajar na campanha da parlamentar sul-mato-grossense à Presidência da República. Sua meta é derrotar o presidente Jair Bolsonaro, que ele chama de “tosco e ignorante”. Para o tucano, Tebet é o nome mais forte para representar a terceira via e a descendente candidatura de Doria pode atrapalhar outros quadros competitivos do partido. Confira a entrevista:

Por que o sr. acredita que a senadora Simone Tebet é a melhor candidata, e não seu correligionário?
Tenho estimulado a senadora Simone Tebet a permanecer firme na disputa. Conversei com muita gente que acha que ela pode ser uma figura positivamente disruptiva nesta campanha. Pelo fato de ser mulher, de ser uma pessoa com boa capacidade de ouvir e de processar tudo. A Simone tem uma noção muito precisa sobre diversidade e sobre o pluralismo da sociedade e acho que ela pode contribuir nesse debate da sucessão presidencial. A senadora pode ser uma alternativa real.

Sua posição também é uma retaliação ao governador João Doria, com quem o sr. entrou em atrito durante as prévias?
Não entrei em atrito com o Doria. Eu coordenei as prévias e fiz isso da forma mais isenta possível, abrindo as prévias para que houvesse a demonstração mais fidedigna da vontade do partido. Depois deixei a função de coordenador das prévias e apoiei o Eduardo Leite. Tinha uma grande expectativa de ele que ganharia, por tudo o que ouvi e vi no partido, mas o resultado foi diverso. Eu já tinha uma ideia de que uma eventual vitória do Doria não seria absorvida por setores do partido. Por razões diversas, mas há uma que é comum a todos: ele faz campanha há mais de dois anos, e, no entanto, não se move nas pesquisas, não supera 4%. Tem um grau de rejeição enorme. E rejeição é determinante em uma campanha. No segundo turno de uma eleição, a rejeição é o que define o resultado. A Simone é ótima candidata justamente porque tem baixa rejeição.

O cenário atual indica um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Acredita que um candidato de terceira via poderá se viabilizar nos próximos meses?
Eu não voto em nenhum dos dois, estou empenhado em construir uma alternativa a isso. Tem que dar tempo ao tempo. Fevereiro, março e abril são os meses em que as coisas vão acontecer, vão ser os meses de efervescência. Hoje, as pesquisas mostram que 27% dos eleitores que são favoráveis a um candidato ou outro admitem mudar de ideia.

O PSDB deve reavaliar a candidatura de João Doria?
Não podemos ser surpreendidos, os sinais têm que ser entendidos. Neste mês, com a retomada da atividade parlamentar, a efervescência política aumenta, vamos ver com as coisas ficam. Já ouvi muita gente do partido dizendo que, se continuar assim, é preciso pensar em mudar. Eu ainda não contemplei essa tese. Prefiro que os candidatos se movimentem e balancem a roseira para vermos o que acontece.

O PSDB enfrentou um fiasco em 2018, quando o então candidato tucano, Geraldo Alckmin, teve apenas 4% dos votos. Que efeitos a repetição desse resultado teria no partido?
Os candidatos a governador, senador e deputado do partido estão atentos a isso. Eles sabem o que representa uma candidatura estagnada e buscam alternativas. As pessoas estão preocupadas com suas eleições. Tão difícil e tão desafiadora quanto eleição presidencial é a eleição para deputados e senadores. A gente vê os exemplos da Alemanha, do Chile, dois governos recém-constituídos, ambos fazendo composições amplas. O presidente eleito do Chile (Gabriel Boric) nomeou ministro da Fazenda o atual presidente do Banco Central do governo que ele derrotou. Então, ou você define pontos que são chaves e trabalha em torno deles na construção de uma maioria, ou a coisa não avança. Mas não adianta essa maioria que o Bolsonaro teve, que foi uma maioria monetizada, completamente balofa.

O sr. acredita que a chapa do ex-presidente Lula com o ex-governador Geraldo Alckmin como vice vai sair do papel?
Pelo que vi até agora, acho que tem possibilidade de sair do papel, sim. Essa chapa causou muita surpresa e recebeu os mais diversos tipos de avaliação. Isso tem que ser construído em cima de uma plataforma para tirar o país do buraco em que estamos e colocar o Brasil em uma perspectiva de crescimento, de combate a privilégios e desigualdades, como benefícios e incentivos fiscais, salários exorbitantes. Mês passado, um desembargador de Minas Gerais recebeu mais de 500 mil reais. Isso é um absurdo, é ilegal e imoral. A Constituição fixa um teto, como o sujeito ganha isso em um mês? Tem que abordar a questão dos privilégios, senão, qualquer melhoria, qualquer reforma, vai ser absorvida por essa máquina infernal de lobby de corporações. Tem que ter uma mudança forte no aparelho do estado brasileiro.

Se o programa de Lula contemplar tudo isso, o sr. cogitaria apoiá-lo?
Não vou cogitar essa possibilidade, porque não é o que está me motivando neste momento. O que me motiva é construir uma nova esperança para os brasileiros, que não seja esse cenário entre Lula e Bolsonaro.

O senador tucano Tasso Jereissati também defende a candidatura da colega Simone Tebet, mas declarou que a chapa de Lula e Alckmin pode ajudar a superar a ‘desunião’ no país. Isso não passa ao eleitor uma imagem de que há tucanos apoiando Lula?
Eu penso como o Tasso, mas mantenho que minha posição é buscar um terceiro caminho.

Lula insiste na candidatura de Fernando Haddad em São Paulo. Com a saída de Alckmin da disputa e o eventual apoio dele ao petista, não há um risco real de o PSDB perder a hegemonia em São Paulo?
Tenho muitas dúvidas se o PSDB conseguirá (manter-se no governo). Vejo muita resistência no partido à forma como foi colocada essa candidatura do Rodrigo Garcia (atual vice-governador, que disputará a sucessão de Doria). Mas ele tem tempo para conversar com o partido e tentar se firmar. O Geraldo tem muitos aderentes dentro do PSDB. Certamente, a saída dele vai impactar a candidatura do Rodrigo, até porque o Geraldo não vai apoiá-lo. Tudo indica que ele vai apoiar o Haddad.

Depois de prévias com tantas brigas públicas, qual é o futuro do PSDB?
O PSDB passou por vários estresses e continua um pouco estressado. Vamos ver como o partido se porta, que resultados obterá nas eleições e a contribuição que vai dar para que o Brasil saia do buraco em que está. Isso vai ser muito marcante. O PSDB tem que ser um partido capaz de fazer composições de interesse público, que permitam o Brasil voltar a crescer.

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  1. Não seria melhor unificar todos os esforços em um só candidato da terceira via? Com o Bozo fora do segundo turno, está é a hora da terceira via competir de fato contra o Bozolulismo!

  2. Simone Tebet com Mouro me agrada mais que com Doria. A rejeição ao Doria em grande parte é pela postura arrogante!! Porquê até ele é ativo trabalhador e tem visão de mundo e postura!! Mas…

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