Por que, para Bolsonaro, Braga Netto é o vice ideal
Desde o início das articulações para a formação da chapa de Jair Bolsonaro à reeleição, não faltaram apelos de integrantes do Centrão e até mesmo de auxiliares do Planalto para que o presidente escolhesse como vice um nome eminentemente político. Para esses interlocutores de Bolsonaro, o companheiro de chapa deveria ser capaz de agregar votos...
Desde o início das articulações para a formação da chapa de Jair Bolsonaro à reeleição, não faltaram apelos de integrantes do Centrão e até mesmo de auxiliares do Planalto para que o presidente escolhesse como vice um nome eminentemente político. Para esses interlocutores de Bolsonaro, o companheiro de chapa deveria ser capaz de agregar votos e ajudar na arrecadação de recursos para a campanha.
As prioridades do presidente, no entanto, parecem ser outras. Ao indicar na segunda-feira, 21, que o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, deverá ser mesmo o escolhido para a vaga, Bolsonaro demonstra que para ele o mais importante é ter um vice que lhe devote inquestionável fidelidade. O primordial é marchar ao lado de uma pessoa sobre a qual não pairem dúvidas de que permanecerá ao seu lado caso sobressaltos políticos coloquem em risco a sua cadeira num eventual segundo mandato.
Em português claro, é confiar o segundo posto na cadeia de comando da República a alguém que funcione efetivamente como um seguro-impeachment -- papel que Bolsonaro havia reservado a Hamilton Mourão quando o escolheu como vice em 2018, mas que, em sua visão, o general não cumpriu por supostamente manter uma postura dúbia sobre o governo. “Tenho que ter um vice que não tenha ambições de assumir minha cadeira ao longo de um mandato”, disse em entrevista nesta semana.
Se Hamilton Mourão sempre alimentou os instintos conspiratórios de Bolsonaro, conhecido por enxergar fantasmas por todos os lados, Braga Netto parece representar o oposto. No entendimento do presidente, o atual titular da Defesa seria incapaz de traí-lo. Transferido em abril do ano passado da chefia da Casa Civil para o comando do Ministério da Defesa com a missão de substituir o general Fernando Azevedo e Silva e de debelar a maior crise militar em décadas – aquela que culminou com a demissão dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica –, Braga Netto jamais hesitou em demonstrar alinhamento aos interesses do presidente.
Seu antecessor havia deixado o cargo sob fogo cruzado, depois de se recusar a se sujeitar aos interesses do Planalto, algo que o novo titular da pasta prontamente o fez. O desfile dos blindados fumacentos em agosto de 2021 foi um exemplo da subordinação sem reservas. Calculada para afrontar simbolicamente o Judiciário e intimidar o Legislativo, que votaria horas depois a PEC do voto impresso, uma pauta bolsonarista criada para lançar dúvidas sobre as eleições, a tanqueata mostrou que o presidente não estava sozinho.
No mês anterior, numa atitude totalmente imprópria para o cargo que ocupa, Braga Netto teria feito chegar ao presidente da Câmara, Arthur Lira, que a realização das eleições de 2022 estaria condicionada à mudança do sistema de votação. “Todo cidadão deseja maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias”, escreveu Braga Netto, em nota, após o jornal O Estado de S.Paulo publicar a informação.
A digital do general também esteve presente na nova tentativa de Bolsonaro, em fevereiro deste ano, de colocar em xeque a higidez das urnas eletrônicas. Ao tentar arrastar os militares para o epicentro de sua conspirata eleitoral, o presidente se valeu de perguntas encaminhadas ao TSE por um militar indicado de Braga Netto para reafirmar a existência de supostas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas -- Bolsonaro insinuou que a demora do TSE para responder os questionamentos era um indicativo de que haveria problemas no sistema de votação.
Nos últimos meses, líderes do Centrão trabalharam nos bastidores para emplacar como vice nomes como os dos ministros Fábio Faria, das Comunicações, e da Agricultura, Tereza Cristina, sob o argumento de que eles poderiam conferir mais peso político à chapa da reeleição. Para além de atrair votos, avaliavam os aliados, eles poderiam acenar a segmentos do eleitorado considerados estratégicos na campanha. Em vão. “O presidente é um cara com posições muito firmes e pessoais. Ele, como militar e conservador que é, preferiu escolher uma pessoa de absoluta confiança dele — e não de confiança do meio político. Fazer o quê?”, lamenta um parlamentar do PL, partido do presidente.
A escolha de Braga Netto como candidato a vice preocupa o Exército e setores do Judiciário. Integrantes da caserna consideram inevitável que as Forças Armadas sejam arrastadas para o debate eleitoral e discutem, agora, como reduzir os danos. No Supremo Tribunal Federal, ministros veem a escolha de Braga Netto com “reserva”. Os magistrados temem a capacidade dele de mobilizar militares para questionar uma eventual derrota de Bolsonaro nas urnas. A se considerar o histórico do general, esse não é, dizem eles, um receio infundado.
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Comentários (10)
Charles Rutman
2022-03-24 22:01:19Este milico como vice do outro ex milico, mostra que devemos votar em qquer outro candidato do centro .
Rodolfo
2022-03-24 17:13:43Resposta: porquê é outro general obediente e incompetentemente. Não conseguiu avançar no combate a criminalidade no estado do RJ quando houve a intervenção imagina como VP de um país.
Pedro
2022-03-24 16:57:39Capacidade de Braga Neto mobilizar militares? ZERO. É General sem tropa. Não tem apoio nem simpatia dos atuais Oficiais Generais, menos ainda dos escalões médios. Não percam seu precioso tempo com essas ilações. Braga Neto possui um perfil arrogante que não é mais tolerados nas forças. Há tempos os arrogantes foram substituídos pelos profissionais que entendem e defendem a democracia. O resto é lorota!
Hierania
2022-03-24 16:53:15Bolsonaro quer dar um golpe de Estado.
Odete6
2022-03-24 16:30:02O BRASIL precisa ter - POR LEI - projeto multidisciplinar de ESTADO PARA LONGO PRAZO, e não meramente projeto de governo. Isso evitaria que, ainda que marginais boçais ocupem a Presidência - como luladralha e bolsodralha - o país nalfrague, pois o ocupante da função seria um mero executor do 'projeto basilar de Estado'. No caso de um PRESIDENTE DECENTE E INTELIGENTE, como o DR. SÉRGIO FERNANDO MORO, este sempre poderá propor e edificar aperfeiçoamentos muito além do 'projeto matriz abrangente' p
Ferreira
2022-03-24 15:41:44Agüentar 4 anos de qualquer governo já é uma horrorosa falta de escolha. Mandatos nunca deveriam ultrapassar 3 anos! Permanecer mais 4 anos em chafurdação no atoleiro bostorento das fraldas não trocadas é um pesadelo! Juntar-se à tal igreja universal é gostar de aspirar metano ou coisas piores.
Odete6
2022-03-24 14:17:47....Hummm... não sei não.... 😆😆😆😆😆😆..... não é possível que um general da nova geração seja tão bobão.... isso cheira a estratégia..... "O preço da Liberdade é a eterna vigilância".... e o chefe é muiiiito, mas muiiiiiitooo burrão..... 😆😆😆😆😆😆..... 🙏🙏🙏🙏🙏.....
Amyr GF
2022-03-24 11:03:23errado Braga Neto é o candidato ideal a presidente pior ter mais conhecimento, ser sereno, firme e corajoso .. e talvez seja.
Jose
2022-03-24 09:55:33Todo presidente com tendência ditatorial necessita de alguém que execute suas ordens sem questionar. Isto significa que ainda nutre seu desejo de de usar as Forças para dar um golpe de estado, fechando o Congresso e STF. Então, para o JB, o BN é a pessoa certa para a vaga, pois tramita com desenvoltura em todos os quartéis!!
NeutronLento
2022-03-24 09:40:45Não tem jeito, ser fiel a Bolsonaro ou a Lula é trair a Pátria. Para o ex ministro Moro isso ficou bem claro em abril de 2020 - ou o presidente ou o país. No caso de um general escolher uma pessoa, especialmente um "mau militar", ao invés da Pátria, que jurou defender, é surpreendente. O inescrupuloso Lula não surpreendente ao escolher o Alckmin, igualmente, sem escrúpulos. Esses só devem fidelidade a si próprios.