Por que os chilenos rejeitaram pela segunda vez um projeto de Constituição
18.12.23 11:18Pela segunda vez, os chilenos rejeitaram um esboço de uma nova Constituição. Em um plebiscito realizado neste domingo, 17, cerca de 55% votaram contra o novo texto e 44%, a favor.
O texto que acaba de ser recusado foi de responsabilidade da direita. Dos 50 membros do Conselho Constitucional, encarregado de elaborar o novo texto, 34 eram de dois partidos de direita, o Republicano e o Chile Seguro.
Alguns dos temas incluídos renderam polêmicas desnecessárias e dividiram o país. O projeto afirmava que “a lei protege a vida de quem está para nascer” e queria que os médicos pudessem alegar uma “objeção de consciência” para não fazer um aborto. Mas 54% dos chilenos apoiam o aborto legal.
Outra proposta era promover a expulsão dos imigrantes ilegais no menor tempo possível, o que também gerou resistência.
No ano passado, em outro plebiscito, os chilenos rejeitaram por 63% a 37% um projeto de Constituição feito por uma assembleia constituinte composta por uma maioria de esquerda e com muitos integrantes independentes, que não representavam os partidos.
Esse primeiro esboço da esquerda trazia ideias como um Estado plurinacional (como na Bolívia), acabar com o Senado (como na Venezuela) e permitir a reeleição para presidente (como no Brasil). Essas medidas fracassaram em todos os países que foram tentadas.
A ideia de que o país precisava de uma nova Constituição surgiu em 2019, quando o então presidente Sebastián Piñera lançou a proposta como uma medida para acalmar os protestos que paralisavam o país.
Embora as manifestações não tivessem um objetivo claro, a exemplo das Jornadas de Junho que ocorreram no Brasil em 2013, 78% dos chilenos concordaram com o presidente e passaram a defender uma nova Constituição.
Ao justificar por que queriam uma Constituição, os chilenos soltavam frases aéreas: “estabelecer um novo acordo com a cidadania“, “sintonizar com os novos tempos“, “gerar mudanças verdadeiras“, “consertar o país” e “garantir direitos sociais mínimos“.
Mas nem o primeiro esboço da esquerda, nem o segundo da direita conseguiram dar forma a esses anseios vagos.
Ao surgir como uma solução em busca de um problema, a nova Constituição não conseguiu formar um consenso entre os chilenos sobre qual problema seria esse.
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