Para o Irã, só interessa o caos na Síria
A chance de que a minoria alauíta volte a dominar o poder, como fizeram Hafez e Bashar Assad, é mínima
O Irã é o país que mais perdeu com a derrubada do ditador sírio Bashar Assad no domingo, 8.
Enquanto a Rússia ainda pode tentar um acordo com o próximo governo, qualquer que seja ele, essa possibilidade não existe para o Irã.
A teocracia xiita comandada por Ali Khamenei (na foto, com Bashar Assad) foi um dos principais aliados da ditadura de Hafez e Bashar Assad, que se sustentava principalmente na minoria alauíta do país.
Os alauítas são muçulmanos que seguem uma linha mais esotérica, próxima do xiismo.
Mas apenas 15% da população é alauíta.
A chance de os alauítas voltarem a dominar o poder político, econômico e militar na Síria por várias décadas é mínima.
Sendo assim, a queda de Assad acabou com o único governo nacional muçulmano que era aliado do Irã no Oriente Médio.
É um passado sem volta.
Partido Baath
O Irã, portanto, poderá tentar semear o caos na Síria com milícias compradas, da mesma forma que fez no Iraque após a entrada das forças americanas, em 2003.
Naquele momento, a queda de Saddam Hussein, sunita, ainda fortaleceu a posição iraniana, uma vez que a maioria da população iraquiana é xiita.
Mas há uma diferença importante nos dois casos.
Quando americanos e aliados entraram no Iraque, o partido Baath — nacionalista, secular e ligado ao ditador Saddam Hussein — foi banido e seus membros perderam seus postos.
A desintegração social abriu um espaço para que os grupos apoiados pelo Irã pudessem atuar.
Na Síria, por outro lado, o partido Baath foi mantido e os funcionários públicos seguiram em suas funções.
Dívida com o Irã
O problema para o Irã é que a mudança na Síria enfraqueceu ainda mais a teocracia.
A Síria comprava petróleo do Irã a prestação.
Com a mudança de governo em Damasco, não há qualquer razão para o novo país honrar a dívida com os iranianos que apoiavam o antigo regime.
A invasão da Embaixada do Irã em Damasco no domingo, 8, serve como um aviso.
Para piorar, o Irã se prepara para uma mudança de líder supremo, uma vez que Khamenei está com 85 anos.
Sem armas para o Hezbollah
O Irã também terá muito mais dificuldade de suprir o grupo terrorista libanês Hezbollah com armas, uma vez que a Síria era o principal caminho para as munições.
O retorno de Donald Trump para a Casa Branca, em 20 de janeiro, deve aumentar ainda mais a pressão contra o Irã, talvez com novas sanções.
E o Irã sabe que, se finalizar sua primeira bomba nuclear, será imediatamente alvejado por Israel.
Netanyahu
Nesta terça, 10, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou na rede X que "se o novo regime na Síria permitir que o Irã se restabeleça, ou permitir a transferência de armas para o Hezbollah, responderemos fortemente e cobraremos dele um preço elevado".
A chance de um novo governo sírio se tornar capacho do Irã é muito baixa.
O risco maior é o Irã fazer todo o possível para que um novo governo não seja formado em Damasco.
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