O xadrez 4D da renúncia de Carla Zambelli
Bolsonaristas afirmam que essa foi uma estratégia para evitar sua extradição ou uma maneira de manter direitos políticos
A deputada federal Carla Zambelli (foto) renunciou ao seu cargo em uma carta enviada à Câmara dos Deputados no domingo, 14.
Logo em seguida, os bolsonaristas saíram afoitos nas redes sociais para enaltecer a decisão da deputada.
"A renúncia da deputada Carla Zambelli tem um objetivo claro. Estratégia jurídica para reforçar sua defesa na Itália contra a sua extradição ao Brasil bem como sua soltura imediata nesse país", afirmou Sóstenes Cavalcante, presidente do PL na Câmara dos Deputados.
Aventou-se ainda que, sem o cargo de deputada, Zambelli poderia tentar convencer a Justiça italiana de que não tem mais relação com o Brasil e, portanto, não deve ser extraditada, uma vez que tem cidadania italiana.
Para Zambelli, contudo, ter ou não um cargo político no Brasil não afeta sua chance de ser extraditada.
"A extradição é baseada em um tratado bilateral, e nele não importa qual é a relação que a extraditanda tem com o Brasil", diz o advogado especialista em direito internacional Dorival Guimarães Pereira Jr., coordenador da Skema Business School, em Belo Hhorizonte.
"Zambelli nem precisaria ser brasileira para ser extraditada."
Direitos políticos
Na tentativa de explicar a renúncia de Zambelli, também se especulou que ela poderia ter direitos políticos preservados com a renúncia.
Mas a Lei da Ficha Limpa impede que ela tente se eleger enquanto durar o cumprimento da pena.
Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a mais cinco anos por perseguir um homem com uma arma em São Paulo.
Ao longo desses quinze anos, ela não poderá buscar um novo mandato.
"Zambelli pode estar pensando que, ao renunciar, os efeitos dos processos possam ser brecados. Mas a verdade é que, como ela foi condenada criminalmente, os efeitos jurídicos não podem ser contornados", afirma o procurador de Justiça Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac).
"Talvez esse seja mais a tentativa de criar uma narrativa para as redes sociais de que ela está sendo perseguida, de que ela seja uma vítima. Mas isso é uma falsa vitimização", diz Livianu.
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