Mauro Vieira relativiza sequestro de crianças ucranianas
Ministro duvidou do número de vítimas de Vladimir Putin, mas não demonstra o mesmo rigor quando fala da Faixa de Gaza

O ministro de Relações Exteriores Mauro Vieira tentou relativizar o sequestro de crianças ucranianas em seu depoimento no Senado na terça, 20.
Mas Vieira não colocou em dúvida os dados de crianças mortas na Faixa de Gaza, citando sem qualquer ressalva os números divulgados pelo grupo terrorista Hamas.
"Com relação às famílias e a questão na Ucrânia, o Brasil acompanha com cuidado e com atenção. Há uma diferença de informações obviamente de ambos os lados. Nós temos inclusive declarações e relatórios do Acnur e das Nações Unidas dizendo que os números como são apresentados não podem ser levados totalmente em conta. Há divergências. Há desequilíbrios. Alguns dos deslocamentos inclusive das crianças e separação das famílias aconteceram pela própria dinâmica da guerra e do conflito", disse Vieira.
Ao analisar a situação na Faixa de Gaza na mesma audiência, Vieira não fez qualquer ressalva.
"Temos até o momento segundo dados também do dia 13 de maio o inaceitável número de mais de 53 mil palestinos civis mortos dos quais mais de 15.600 são crianças e cerca de 8.300 são mulheres. Além disso, 120 mil feridos, Apenas um dia, o dia 18 de março deste ano, já em violação ao cessar-fogo, foram mortos por Israel mais de 180 crianças palestinas, o maior número diário desde o início do conflito", afirmou Vieira.
Há dificuldades óbvias em constatar o número de crianças sequestradas ou mortas nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia ou na Faixa de Gaza.
Mas Vieira seria mais honesto se usasse o mesmo rigor para analisar os dados, sejam de crianças ucranianas ou palestinas.
Quanto ao número de 180 crianças palestinas mortas em um único dia na Faixa de Gaza, a fonte da informação parece ser a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos, a UNRWA, um órgão controlado pelo grupo terrorista Hamas, como diversas reportagens e entrevistas de Crusoé e O Antagonista já apontaram.
Vieira, contudo, não demonstra a mesma confiança na ONU quando a organização fala das atrocidades na Ucrânia. Ele nem se dá ao trabalho de falar nos números.
Em um relatório de março sobre a situação das crianças na Ucrânia, constatou-se que 669 crianças foram mortas e 1.800 foram feridas na guerra deflagrada por Vladimir Putin.
"O Escritório de Direitos Humanos da ONU também verificou que, no primeiro ano após a invasão, pelo menos 200 crianças, incluindo muitas delas vivendo em instituições, foram transferidas para dentro de territórios ocupados ou para a Federação Russa – atos que podem constituir crimes de guerra. No entanto, sem acesso à Federação Russa ou aos territórios ocupados, o Escritório não conseguiu avaliar completamente a escala dessas transferências", diz o relatório da ONU.
A Missão da ONU para a Ucrânia também detalha como as crianças ucranianas estão sendo tratadas nos territórios ocupados e na Rússia.
"Impuseram a cidadania russa e o currículo escolar russo, além de restringir qualquer acesso à educação em língua ucraniana. Priorizaram o treinamento militar-patriótico nas escolas e em grupos de jovens, expondo as crianças à propaganda de guerra", diz o texto.
Crianças estão sendo mortas e sequestradas na Ucrânia. Elas são um dos alvos do ditador Vladimir Putin, que quer acabar com a cultura e o idioma ucranianos.
Crianças estão sendo mortas na Faixa de Gaza. Elas são o efeito colateral de uma guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Todas precisam ser igualmente defendidas.
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Comentários (1)
Mariade
2025-05-21 11:23:10Foi difíciel assistir a este senhor. Sempre saindo pela tangente. Raposa velha, muito polido. é diplomata.