Lula perde um amigo e ganha um inimigo em Portugal

A vitória da coalizão Aliança Democrática, de centro-direita, em Portugal neste domingo, 10, deve alterar drasticamente a relação entre o futuro governo do país e o Brasil de Lula.

O petista tinha uma ótima relação com o ex-primeiro-ministro António Costa (foto), do Partido Socialista, que renunciou após ser citado em uma investigação de corrupção em negócios no setor energético. O próximo governo será formado pelo coalizão Aliança Democrática, que tem como principal componente o Partido Social Democrata, PSD, da centro-direita tradicional. Mas, para aprovar seus projetos no Parlamento, o PSD dependerá muito do partido Chega! de André Ventura, de direita populista.

No início de março, Ventura disse que, caso seu partido vencesse as eleições, Lula seria impedido de entrar no país. “O governo não vai deixar entrar esses corruptos internacionais todos em nosso território (…) Já temos muitos corruptos. Não precisamos que venham outros de fora (…) O Lula ficará no aeroporto e não entrará no país. Se insistir, vai parar na cadeia, o que não será uma grande novidade para ele“, disse ele.

André Ventura, do Chega!, partido que poderá fazer parte da coalizão governista em Portugal, disse que Lula seria impedido de entrar no país: "Se insistir, vai parar na cadeia, o que não seria novidade para ele." pic.twitter.com/xRUmk42KM4

— O Antagonista (@o_antagonista) March 11, 2024

O Chega colocou o combate à corrupção como um de seus temas centrais. Ventura tinha por costume criticar Lula porque, dessa forma, acabava batendo, por tabela, em José Sócrates, seu rival do Partido Socialista.

José Sócrates foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011. Em 2014, foi detido ao voltar para seu país após uma temporada na França, e permaneceu 11 meses preso, suspeito de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal, num caso que envolve a farmacêutica suíça Octapharma.

Algumas das suspeitas não se sustentaram na Justiça, mas, mesmo assim, o socialista foi apartado da vida partidária. Sócrates é amigo de Lula e governou Portugal mais ou menos no mesmo período dos dois primeiros mandatos do petista no Palácio do Planalto (2003-2010).

No final do ano passado, quando outro primeiro-ministro do Partido Socialista, António Costa, ainda no cargo, foi envolvido em um escândalo de desvio de dinheiro, o discurso anticorrupção do Chega! ganhou tração entre os eleitores. Das 230 cadeiras do Parlamento, o Chega! conseguiu 48. Com isso, será o fiel da balança para que o Partido Social Democrata, que conquistou 79, alcance a maioria de 116 assentos.

Mensagem do partido Chega!, de Portugal, com André Ventura

O socialista António Costa é investigado por supostas irregularidades em contratos do governo para exploração de lítio em minas portuguesas, de produção de energia a partir de hidrogênio verde e de construção de um datacenter.

Em 2022, Costa gravou um vídeo em apoio a Lula durante a campanha presidencial. “O primeiro-ministro de Portugal, obviamente, não se pronuncia nem interfere nas eleições dos nossos irmãos brasileiros. Mas o secretário-geral do Partido Socialista, o amigo do Brasil, tem muita saudade das relações de proximidade, de amizade entre Portugal e Brasil. O mundo precisa de um Brasil forte, um Brasil que participe das grandes causas da humanidade, como combater a desigualdade, a luta pela saúde, para enfrentarmos as alterações climáticas. O Brasil e o mundo precisam de Lula da Silva. Lula, conte comigo”, disse Costa.

Em abril do ano passado, Lula viajou com Janja para Portugal e foi bem recebido pelo então primeiro-ministro António Costa e pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Foi nessa viagem que a primeira-dama comprou uma gravata de mil reais para o seu marido.

Ainda que o petista continue contando com a simpatia do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, será difícil que Lula volte a programar uma viagem para Lisboa com um clima desses.

Assista à entrevista no podcast Latitude com Francisco Pereira Coutinho sobre André Ventura: