Extradição de blogueiro bolsonarista deflagra onda de perseguição no governo

O processo de extradição e prisão do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos (foto), determinado há quase dois meses pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, desencadeou uma onda de perseguição dentro do governo Jair Bolsonaro. 

Em menos de um mês, duas delegadas da Polícia Federal envolvidas diretamente no caso do blogueiro, que continua em liberdade nos Estados Unidos, onde mora em situação ilegal, foram exoneradas de suas funções na própria PF e no Ministério da Justiça.

O caso mais recente envolve a delegada Dominique de Castro Oliveira, que trabalhava junto à Interpol em Brasília e preparou o procedimento de inclusão do nome de Allan dos Santos na Difusão Vermelha, responsável por emitir a ordem de prisão para cerca de 190 países.

Dominique foi avisada nesta quarta-feira, 1, por seu superior que deveria deixar o cargo na Interpol, onde atuava havia 16 meses, para se apresentar à Superintendência da PF no Distrito Federal. Em mensagem enviada a colegas, a delegada disse que o motivo alegado foi que ela fez “algum comentário que contrariou” a cúpula da instituição, comandada pelo diretor-geral Paulo Maiurino.

“Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu”, escreveu a delegada, que disse ainda ter ficado com uma “forte sensação de revolta” com sua “expulsão” da Interpol, órgão responsável por atuar nos pedidos de prisão e extradição de estrangeiros no Brasil e de brasileiros no exterior.

Ela entrou na mira da cúpula da PF depois que reuniu as informações referentes a Allan dos Santos no inquérito que investiga as ameaças feitas contra o Supremo e encaminhou o pedido de prisão determinado por Alexandre de Moraes para a sede da Interpol em Lyon, na França. Até hoje a Interpol não incluiu o nome do blogueiro na lista de procurados internacionalmente.

Vinte dias antes, o governo Bolsonaro já havia exonerado a delegada Silvia Amélia Fonseca, que atuou no processo de extradição de Santos dentro do Ministério da Justiça. Ela comandava o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da pasta e a demissão dela foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Outros assessores envolvidos no processo também podem perder seus cargos em breve.

Tanto a PF quanto o Ministério da Justiça afirmaram que as exonerações não têm relação com o episódio de extradição e prisão de Allan dos Santos, um dos blogueiros mais fiéis ao bolsonarismo. Ele está nos Estados Unidos desde agosto de 2020 — à época, ele já era investigado em inquéritos do STF por disseminação de fake news e organização de atos antidemocráticos.

Como mostrou Crusoé na edição 183, mensagens obtidas pela CPI da Covid indicam que Allan teve ações bancadas pela família Bolsonaro. Nas conversas, ele afirma que estaria em um “bunker pago pelo Eduardo (Bolsonaro)”, em referência ao filho 03 do presidente.