Entrada da Venezuela no Brics é questão de tempo
Não há cláusula democrática no bloco, como ocorre no Mercosul. E quem manda lá é a China
A Venezuela e a Nicarágua aparentemente não foram incluídas na lista dos países que serão convidados para participar do Brics.
Mas a entrada da ditadura de Nicolás Maduro (na foto, com Putin) no bloco é só uma questão de tempo.
Esse ingresso vai acontecer mais cedo ou mais tarde porque é do interesse da China e da Rússia.
A China compra petróleo da Venezuela e quer expandir ao máximo o bloco, pois se trata de uma maneira de se opor ao Ocidente e aumentar sua influência entre países em desenvolvimento.
A Rússia, por sua vez, tem na ditadura chavista um dos principais mercados para suas armas.
Vladimir Putin vê no Brics uma maneira de compensar as sanções que o Ocidente tem lhe imposto após a invasão da Ucrânia.
Com a Venezuela, Putin ainda tem uma maneira de espezinhar os americanos no quintal deles, que é a América Latina.
Tapete vermelho para ditadores
Maduro, aliás, foi convidado em agosto por Putin para participar da 16ª Cúpula dos Brics, em Kazan, na Rússia.
Ao desembarcar nessa cidade, o venezuelano foi recebido com tapete vermelho.
Disse Putin para Maduro em Kazan: "A Venezuela é um velho e confiável sócio da Rússia na América Latina e no mundo em geral, e a cooperação mutuamente benéfica está se desenvolvendo em todas as áreas".
Maduro publicou um vídeo com Putin nas redes sociais e escreveu a seguinte mensagem: "A Venezuela está no caminho dos Brics, do equilíbrio do mundo".
Não há cláusula democrática no Brics
Se é verdade que o Brasil foi o responsável pela não inclusão da Venezuela, então é preciso entender os motivos por trás disso e suas consequências.
Essa ação brasileira nada tem de pressão democrática para Maduro divulgar atas eleitorais ou para respeitar o resultado das urnas, que deram vitória a Edmundo González Urrutia, da oposição.
Se fosse isso, essa questão, em primeiro lugar, teria sido externalizada.
Além disso, não faria nenhum sentido bloquear um país nesse grupo alegando razões democráticas, simplesmente porque não há uma cláusula democrática no Brics, como ocorre no Mercosul.
O bloco, aliás, está se consolidando como uma liga de ditaduras truculentas.
O problema nessa história é que o Brasil tem se incomodado com a expansão do Brics porque isso tira o poder relativo do país, que fica diluído com a inclusão de tantos outros.
Celso Amorim, o assessor especial da Presidência, deu entrevistas nos últimos dias dizendo que não há "julgamento moral" nas discussões sobre o ingresso de novos membros no Brics.
Amorim também já afirmou que a preocupação brasileira é com o excesso de membros.
“Eu não defendo a entrada da Venezuela. Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher o Brics de países, senão daqui a pouco cria-se um novo G77″, disse ele, em referência à coalizão de 77 países em desenvolvimento que, muito raramente, atua em conjunto na ONU (atualmente são 134 países).
A expansão do Brics, contudo, é um fenômeno real, que já começou e vai continuar.
Nesse processo inexorável, o Brics virou um amontoado de países unidos em torno da China, a grande potência econômica que manda no clube.
E nesse desenho, o poder de o Brasil impedir qualquer coisa está cada ano menor.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
Marcia Elizabeth Brunetti
2024-10-24 11:29:17Lula ama Maduro mas não quer repartir os holofotes. Mas o idiota ganharia mais se saísse desse bloco de ditadores sanguinários.