Entidades do mercado editorial se calam após censura de Flávio Dino
Crusoé entrou em contato com a Câmara Brasileira do Livro, CBL, e com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Snel, mas não obteve resposta
As duas principais organizações do mercado editorial brasileiro não reagiram à censura do ministro Flávio Dino que na sexta, 1º, ordenou a retirada de circulação de quatro livros jurídicos.
Crusoé entrou em contato com a Câmara Brasileira do Livro, CBL, e com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Snel, mas não obteve resposta.
Ao longo de uma semana, as duas entidades também não soltaram notas criticando a censura de Dino.
Leia em Crusoé: A normalização da censura
Dino ordenou a destruição de quatro livros jurídicos por considerar que eles “desbordam do exercício legítimo dos direitos à liberdade de expressão e de livre manifestação do pensamento, configurando tratamento degradante, capaz de abalar a honra e a imagem de grupos minoritários (comunidade LGBTQIAPN+) e de mulheres na sociedade brasileira, de modo a impor a necessária responsabilização dos recorridos”.
Um dos trechos que incomodaram o magistrado dizia que “algumas das mulheres mais lindas e gostosas” seriam “do uso exclusivo dos jovens playboys”. Enquanto que “outras mulheres do mesmo estilo ficam ainda, com playboys velhos de 40, 50 e 60 anos, que teimam em roubas as mulheres mais cobiçadas do mercado”.
Outro trecho dizia que a Aids só existe devido “a prática doentia do homossexualismo, bissexualismo e entre os heterossexuais, quando da penetração anal das mulheres”.
Leia em Crusoé: Flávio Dino, o destruidor de livros
Deltan Dallagnol
Em conversa no Papo Antagonista, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol comentou o impacto no mercado editorial da decisão de Dino, que ele chamou de mordaça.
"É este o país que a gente quer? A gente quer colocar uma mordaça autoimposta aos escritores? Porque eles não querem ser os próximos a pagarem uma indenização de 150 mil reais. A gente sabe que livro dá pouco dinheiro no Brasil. Eu aposto que essas pessoas que escreveram esses livros devem ter ganho aí menos de 5 mil ou 10 mil reais. E aí eles vão ter que pagar uma indenização de 150 mil reais? Gente, eu não vou escrever mais livro. Estou com medo", afirmou Dallagnol.
Ainda que vários editores estejam apreensivos e com medo de serem multados por qualquer publicação que desagrade a Corte, as duas principais organizações preferiram não se manifestar.
Para os que aplaudem os abusos do STF, vale um aviso: quem apoia a censura do outro, um dia também será censurado.
Assista ao Papo Antagonista com Deltan Dallagnol:
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