Encontro entre papa comunista e presidente libertário parece dar química

O presidente da Argentina, Javier Milei, se reuniu com o papa Francisco no Vaticano na manhã desta segunda-feira, 12 de fevereiro.

Essa foi a primeira reunião bilateral entre os dois chefes de Estado.

Os dois haviam apenas se cumprimentado em público no domingo, 11, durante a cerimônia de canonização de Mamá Antula, a primeira santa argentina.

Quanto tempo durou a reunião?

A julgar pelo tempo que durou o encontro desta segunda, Milei e Francisco parecem ter se entendido.

Os dois se reuniram a sós por mais de 70 minutos.

Desde que assumiu o pontificado, em 2013, Francisco nunca recebeu um mandatário argentino em seu gabinete no Vaticano por tanto tempo.

O recorde anterior era de Cristina Kirchner, que permaneceu 50 minutos em 2015 — se considerado almoços oficiais, a kirchnerista ficou duas horas e meia com o papa em 2014.

No fundo do ranking, Mauricio Macri se reuniu com Francisco por meros 22 minutos em 2016.

Como foi a reunião?

Nem a assessoria de comunicação da Presidência nem a da Santa Sé divulgaram nenhum detalhe do encontro privado entre Milei e Francisco.

Depois dos 70 minutos, os dois chefes de Estado abriram a reunião à comitiva do governo argentino.

Dentre os presentes, estiveram a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, e a secretária-geral da Presidência, Karina Milei — que fora alvo de uma gafe do Vaticano no domingo (leia abaixo).

Milei e Francisco trocaram presentes nesse momento da reunião.

Quais foram os presentes trocados entre Milei e Francisco?

O presidente da Argentina trouxe três presentes ao papa.

O primeiro presente foi uma pasta com uma carta de um ex-ministro das Relações Exteriores argentino a Juan Bautista Alberdi, que representou a Argentina na Europa e foi embaixador na Santa Sé.

Alberdi é um dos ídolos liberais argentinos que Milei costuma citar desde antes de vencer as eleições em 2023.

Os outros presentes foram uma caixa de alfajores de doce de leite e bolachas de limão, as favoritas de Francisco, e uma carta fabricada pelos Correios da Argentina em 2017 em homenagem a Mamá Antula na época da beatificação.

Milei ainda entregou ao papa um presente extraoficial, uma coletânea de livros de um economista liberal espanhol chamado Jesús Huerta de Soto.

Francisco, por sua vez, também trouxe três presentes oficiais ao mandatário argentino: um medalhão de bronze, um conjunto de documentos papais e a Mensagem pela Paz deste ano de 2024.

Como era a relação entre Milei e Francisco?

Após a reunião com o papa nesta segunda, Milei afirmou que “teve que reconsiderar suas posturas”.

A relação entre o libertário e Francisco é desgastada desde o princípio.

Os motivos foram ataques de Milei ao papa Francisco datados de desde 2017. O hoje presidente chegou a chamar Francisco de “comunista” e “representante do maligno na Terra”.

As hostilidades chegaram ao clímax na semana do primeiro turno das eleições argentinas, no início de outubro, quando se transmitiu pela televisão pública argentina uma entrevista do papa com alfinetadas a Milei.

Talvez fossem inevitáveis as desavenças. Afinal, o libertário sempre foi duro em suas críticas à esquerda, enquanto Francisco, como grande parte da Igreja na Argentina, nunca hesitaram a demonstrar afinidade ideológica com o peronismo.

Essa ligação estão relacionadas a um princípio católico popular na América Latina, chamado “opção preferencial pelos pobres”.

Ainda durante as eleições, Milei se desculpou em público, como durante em debate presidencial, pelos xingamentos ao papa.

Segundo a imprensa italiana, o presidente voltou a pedir desculpas, desta vez presencialmente a Francisco.

Gafe com Karina?

O Vaticano cometeu uma gafe com Karina Milei, secretária-geral da Presidência e irmã do presidente.

Conhecida por liderar a campanha eleitoral do libertário em 2023, Karina foi apresentada como “esposa” de Milei na transmissão em espanhol da canonização de Mamá Antula no domingo, 11.

O Vaticano emitiu uma nota oficial de desculpas.