Foto: Caio Mattos/ CrusoéSantuário com os restos de Mamá Antula, na Basílica Nuestra Señora de la Piedad, em Buenos Aires, Argentina. Foto: Caio Mattos/ Crusoé

Papa Francisco canoniza primeira santa argentina, Mamá Antula

11.02.24 06:00

O papa Francisco conduz, neste domingo, 11 de fevereiro, a cerimônia de canonização da primeira santa argentina, María Antonia de Paz, conhecida como Mamá Antula (foto).

Mamá Antula viveu no século 18, quando a Argentina ainda era colônia espanhola.

Nascida onde hoje é a província de Santiago del Estero, no centro-norte argentino, a beata ficou conhecida por sua rebeldia.

“Ela foi uma mulher heróica”, afirma padre Raúl, responsável pela Basílica Nuestra Señora de la Piedad, na cidade de Buenos Aires, onde estão os restos da Mamá Antula.

Quem foi Mamá Antula e por que é considerada rebelde?

 

Primeiro, aos 15 anos, Mamá Antula se recusou tanto a casar quanto a virar freira, as duas opções que teria na época.

Ela, então, se juntou aos jesuítas como uma mulher laica, e passou a portar até as mesmas roupas deles.

Quando o Reino da Espanha expulsa os jesuítas de suas colônias na América do Sul em 1767, Mamá Antula desobedeceu as autoridades mais uma vez  e continuou com seu trabalho.

Ao longo de oito anos depois da expulsão dos jesuítas, ela viajou a pé e descalça por o que hoje são oito províncias da Argentina até se instalar na cidade de Buenos Aires, hoje distrito federal.

Nessa jornada, Mamá Antula atendeu a mais de 70.000 pessoas e percorreu, estima-se, 5.000 km, o equivalente à distância entre Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e Boa Vista, em Roraima.

Quais foram os milagres de Mamá Antula?

 

Como qualquer santo, Mamá Antula é canonizada por ter dois milagres certificados pela Igreja Católica.

Um milagre é quando se atribui a cura de uma pessoa à reza a uma figura já falecida.

O primeiro, que foi certificado pelo papa Bento XVI em 2016 e a tornou beata, ocorreu na primeira década dos anos 1900, mais de dois séculos após a morte de Mamá Antula. Na ocasião, uma freira sofria de uma infecção generalizada.

O segundo milagre aconteceu em 2017 e envolveu um homem que sofrera um AVC e uma infecção. Os médicos lhe haviam dado 48 horas de vida.

Quão popular é Mamá Antula?

 

Os milagres foram o que popularizou Mamá Antula.

Segundo padre Raúl, a beata não era tão conhecida quando ele assumiu a Basílica Nuestra Señora de la Piedad, em 2014, antes da certificação do primeiro milagre.

“Mamá Antula era pouco conhecida quando cheguei aqui. Não a conhecia muito bem. Como os restos dela estão aqui, passei a ler mais sobre ela”, diz o pároco.

“Não sei o porquê de terem se esquecido de Mamá Antula. Muitos personagens cotidianos, generosos e heróicos… A cultura de hoje destaca os midiáticos”, acrescenta.

Padre Raúl explica que a história da beata foi “resgatada a partir das cartas que ela escrevia”.

Outra pessoa que já conhecia Mamá Antula antes da certificação dos milagres é a devota Soledad Saubidet, de 52 anos.

“Sou guia turístico na cidade de Buenos Aires. Então, já a conhecia havia uns 20 anos pelo meu trabalho”, diz Saubidet.

Padre Raúl afirma que Basílica Nuestra Señora de la Piedad passou a receber mais fiéis a partir de 2016, quando ela virou beata.

Berta Coronel, de 60 anos, visitou essa igreja pela primeira vez na vida nesta quinta-feira, 8 de fevereiro.

Ela estava no ônibus em direção ao seu trabalho, na área de limpeza, quando decidiu parar na basílica.

“Vim conhecer Mamá Antula. Estou com uma necessidade espiritual pela minha filha. Espero que Mamá Antula me escute”, diz Coronel.

A fiel relata que sua filha, de 36 anos, tem “rancores da vida” pelo relacionamento com seu pai, de quem Coronel é divorciada.

Qual é o legado de Mamá Antula?

 

O principal legado material de Mamá Antula é a Santa Casa de Exercícios Espirituais, localizada na cidade de Buenos Aires.

“Essa casa sempre me chamou a atenção por conservar muitos testimônios do passado colonial e se manter ao lado de tantos edifícios”, afirma Saubidet.

O local não tem relação com a Basílica Nuestra Señora de la Piedad, onde a beata está enterrada.

“A casa atualmente é usada para os exercícios espirituais e acolhe as mulheres que não tem onde viver durante o dia. Elas podem se alimentar e tomar banho”, diz padre Raúl.

Para além da casa ela deixa, claro, o exemplo moral como legado.

“Hoje, se fala de ‘mulher empoderada’. E ela foi empoderada no século 18. Sempre me chamou a atenção a fortaleza dela em um tempo em que a mulher não tinha muita participação”, afirma Saubidet.

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