Adriano Machado/Crusoé

Delator cita ‘alinhamento’ de Alckmin com Odebrecht por propina no metrô

06.08.20 12:09

Ex-diretor do Metrô de São Paulo e delator da Lava Jato paulista, o engenheiro Sergio Corrêa Brasil afirmou à Polícia Federal que havia um “alinhamento” entre o ex-governador Geraldo Alckmin (foto), do PSDB, e a cúpula da Odebrecht para viabilizar o pagamento de propina e caixa dois de campanha por meio de obras públicas contratadas pelo governo tucano no estado.

Alckmin foi denunciado em julho pelo Ministério Público Eleitoral por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa dois, junto com o ex-secretário Marcos Monteiro e um ex-assessor do governo acusado de receber o dinheiro em espécie na casa dele. Segundo a denúncia, o tucano recebeu 11,3 milhões de reais de origem ilícita nas eleições de 2010 e 2014. Nesta quarta-feira, 5, o trio teve os bens sequestrados pela Justiça.

No relatório que resultou no indiciamento de Alckmin, a PF cita diversos trechos inéditos da delação premiada feita por Sergio Brasil. O depoimento do ex-diretor do Metrô ajudou os investigadores a confirmarem que os pagamentos ilícitos feitos ao tucano em 2014 foram uma contrapartida pela assinatura do contrato da construção da linha 6-Laranja do metrô, em dezembro de 2013.

À época, Sergio Brasil era secretário-executivo do Conselho Gestor de Parceiras Público Privadas, as PPPs, modelo utilizado no contrato de quase 10 bilhões de reais assinado pelo governo Alckmin com o consórcio liderado pela Odebrecht. Após a empreiteira ser pega na Lava Jato, a obra foi paralisada.

No acordo de delação homologado em agosto do ano passado pela Justiça Federal, Sergio Brasil narra um alentado esquema de corrupção envolvendo obras bilionárias de três linhas do metrô de São Paulo, que teria perdurado entre os anos de 2003 e 2014. Entre os delatados pelo ex-diretor também está Rodrigo Garcia, do DEM, vice de João Doria no governo paulista.

O “alinhamento”, segundo Brasil, consistia no pagamento de propinas para ele e de caixa dois para as campanhas de Alckmin. “Para essas coisas funcionarem (recebimento de propinas) tem que ter um processo que eu chamo de ‘alinhamento”, disse. “Quem está acostumado com a gestão pública percebe os sinais, as mensagens, as intenções dos governantes”, continuou o delator.

“São contratos vultuosos e é natural que esses contratos produzam esse tipo de coisa que aconteceu comigo. Eu fiz um negócio particular para mim, mas também para que eles subsidiassem e dessem a condição da remuneração para as campanhas políticas”, afirmou o ex-diretor do Metrô.

Segundo o delator, um exemplo do alinhamento é que no mesmo dia em que ele recebeu um executivo da Odebrecht para tratar da fraude na licitação da PPP do metrô, no Palácio dos Bandeirantes, diretores da empreiteira estavam reunidos com Alckmin no gabinete do então governador. “O nível de diretoria que falava comigo e o nível da alta direção das empresas subindo pra falar com o governador”, afirmou o engenheiro.

Sergio Brasil detalhou que esse “alinhamento” era transmitido pela atuação de pessoas da confiança de Alckmin, em especial, o ex-secretário Marcos Monteiro, que à época era o presidente da Imprensa Oficial do estado, mas acompanhava reuniões técnicas do Metrô na construção da linha 6. “Eu não ia fazer algo pra mim que não estivesse seguro que aquilo estava atendendo a alta administração do governo”, completou.

De acordo com Brasil, Marcos Monteiro atuava como tesoureiro informal de Alckmin, fato que era conhecido pelos executivos das empreiteiras que abasteceram campanhas eleitorais do tucano. O nome de Monteiro foi revelado como intermediário dos pagamentos ilícitos a Alckmin pelos delatores da Odebrecht. Por isso, afirmam, o codinome usado nas planilhas de propina da empreiteira para registrar os repasses ao ex-governador tucano era M&M.

Segundo a PF, havia uma relação financeira entre as empreiteiras e Alckmin, “por meio da qual se estabeleceu uma verdadeira aquisição das boas relações, visando assim facilitar a obtenção de recursos por meio de obras públicas e, obtendo, em contrapartida, elevados valores em doações eleitorais não contabilizadas”. O ex-governador diz que jamais recebeu pagamentos ilícitos da empreiteira.

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  1. Ainda irão faltar muitas e muitas provas para confirmar o que esse tal delator está dizendo. O que ele diz dele mesmo ter recebido diretamente propinas, claro que dá pra acreditar, não é? Já o que ele diz que foi dado para as campanhas dos demais mencionados, alguém terá que provar, ou dizer como se provar.

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