Cantor cubano que fugiu para o Brasil relata o drama de ser perseguido na ilha comunista
O cantor cubano Leonardo Alvarez Canizarez, conhecido como Leo Katarziz (foto), da banda de punk rock Katarziz, chegou a Porto Alegre no último dia 21 de dezembro, depois de uma viagem de cinco dias fugindo pelas florestas da Guiana e cruzando rios amazônicos de barco. Em entrevista a Crusoé, ele, que tem 29 anos, contou...
O cantor cubano Leonardo Alvarez Canizarez, conhecido como Leo Katarziz (foto), da banda de punk rock Katarziz, chegou a Porto Alegre no último dia 21 de dezembro, depois de uma viagem de cinco dias fugindo pelas florestas da Guiana e cruzando rios amazônicos de barco. Em entrevista a Crusoé, ele, que tem 29 anos, contou por que decidiu deixar a ilha comunista.
Você decidiu sair de Cuba porque a repressão aumentou depois dos protestos contra o comunismo, no dia 11 de julho?
Não consegui sair para protestar nesse dia. Desde manhã cedo, uma viatura da polícia estacionou na porta da minha casa. Havia outros carros com pessoas das forças de segurança parados nos quarteirões próximos. Mesmo assim, fui preso dois dias depois. Eu já estava na mira da polícia política há tempos. Desde 2020, tenho sido constantemente intimado a depor. Já perdi a conta de quantas vezes tive de ir a uma delegacia. Tudo começou porque eu colei cartazes na minha cidade, Sancti Spiritus, pedindo liberdade de expressão, o fim do comunismo e do Partido Comunista. Mesmo sem ter qualquer evidência, eles desconfiaram de mim e passaram a me chamar e a me pressionar. Por causa dos cartazes, os agentes do governo me acusaram de ser terrorista. Eu respondi que isso não fazia sentido. Eles então mudaram a acusação para desacato de autoridade. Ao final, eles admitiram que eu não tinha cometido crime algum, mas me disseram que, se eu continuasse em meu país, eles inventariam um delito para mim. Depois de participar de um videoclipe que foi difundido nas redes sociais, um agente me disse que, se eu quisesse me manifestar, teria de deixar a ilha. Eles também ameaçaram tirar o emprego de minha esposa, que dá aulas numa universidade, ou atrapalhar a carreira dela. Com toda essa pressão, decidi vir para o Brasil.
Desde quando o sr. tem tido problemas com o regime comunista?
Todo mundo que faz punk rock em Cuba tem problemas com o Partido Comunista, não tem jeito. Isso porque as letras sempre acabam irritando as autoridades. Embora os temas das canções sejam variados, há sempre algumas que acabam sendo críticas ao regime. Na música Resumindo, por exemplo, falamos: "Seus atropelos, minha vergonha. Sua prisão, minha dignidade. Sua censura, minha consciência". Isso faz com que seja impossível viver de punk rock em meu país. Para uma banda se apresentar profissionalmente em Cuba, é preciso que ela tenha uma autorização do Ministério da Cultura. Sem isso, não se pode cobrar ingresso do público. Também não pode ser remunerada por um dono de um bar ou restaurante. Nos trinta anos de história do punk rock em Cuba, nunca uma banda com esse estilo conseguiu essa autorização. Se um dono de bar nos pagar por uma apresentação, ele pode ser multado depois. Por isso, não dá para viver de punk rock em Cuba. Dos seis integrantes da banda, eu e mais um fugimos do país no ano passado.
O sr. era bastante conhecido em Cuba?
Nossa banda foi ganhando bastante fama dentro e fora da ilha com o tempo, com ajuda das redes sociais. Mas nunca nos deixaram sair para fazer shows no exterior. Depois dos protestos do dia 11 de julho, eu dei uma entrevista para um jornalista cubano, dizendo que o regime manipulava de tal jeito as leis que qualquer pessoa que se manifestasse nas ruas podia ser acusada de ter feito algo inconstitucional. Eles deturparam a minha fala e publicaram no jornal da televisão um trecho do vídeo mostrando só um pedaço em que eu considerava os protestos inconstitucionais. Eu fiquei indignado, pois sempre fui a favor dos protestos. Meus amigos que sabem como eu penso também ficaram bravos. Foi mais uma maneira que encontraram para me pressionar.
De que outras formas o regime fez pressão para que você deixasse a ilha?
Eu estava sendo constantemente perseguido e vigiado. Uma hora, comecei a ficar paranoico. Constantemente, eu achava que estava sendo monitorado. Esse é um sentimento que o regime incentiva, de propósito. Uma vez, eu estava caminhando na rua e meu isqueiro caiu. No mesmo segundo, recebi uma chamada no meu telefone celular. A pessoa se identificou como um agente de segurança, perguntou o que tinha caído no chão e para quem eu estava levando aquilo. Eles fazem esse tipo de coisa para que a gente fique instável e com medo.
O que você pretende fazer no Brasil?
Minha prioridade agora é tentar trazer também minha esposa e meus três filhos. Também vou pedir refúgio na Polícia Federal. Com minha situação regularizada, pretendo pensar em projetos musicais por aqui.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (10)
JOSE
2022-01-11 01:34:58Chico Buarque, muda pra lá, e leva sua trupe de admiradores da democracia cubana! Se puder, leve o mala do Zé de Abreu, e seu ídolo, o Zé Dirceu!
Nilson
2022-01-10 21:57:35E os petralhas aplaudem e apoiam a "democracia" cubana, por que será?
MARCELO
2022-01-10 17:42:51E ainda tem gente que acredita no Lula. Nem PT e nem Bolsonaro.
Jaime
2022-01-10 17:10:26Parceiro, se fosse nos tempos "áureos" do Chile, e Cuba estivesse sob domínio de um Pinochet da vida, não seria uma viatura da popó que estaria parando na frente de sua casa...seria um esquadrão da Morte. Tua sorte é que Fidel embarcou. Eu só me pergunto pq preferiu o Brasil aos Estados Unidos, bem mais perto? A Lei dos Pés Secos ainda vale por lá. E, por AQUI, com essa pinta de revoltado, de dissidente, a coisa pode não ficar suave pro teu lado...espero não estar enganado.
MARCIO
2022-01-10 15:16:49Que pena dessa família, eles nem sabem o que todos nós iremos sofrer após o PT voltar de vez.
PAULO
2022-01-10 15:14:44Ramones, Sex Pistols, Nirvana, o punk rock tem ATITUDE. Nenhum regime totalitário aceita um movimento que faz o indivíduo pensar. Então só restará ao indivíduo sair do país. Com isso ocorre o título do disco que tornou o Ramones, uma das maiores bandas de todos os tempos: "Brain Drain". E o país se torna um "Pet Semetary", música mais famosa do Ramones, trilha do filme Cemitério Maldito. Moro 🇧🇷
João Carlos
2022-01-10 14:34:53Bolsopetismo é perigoso pra você, cubano! Aqui está todo mundo misturado. Uns que se dizem bolsonaristas defendem os petistas. Os petistas defendem os bolsonaristas. Cuidado!
Fnc
2022-01-10 13:23:25O Brasil não o melhor dos mundos, mas é melhor que Cuba. O governo que temos vai passar, só rezo que não caia na infâmia petista, se não cubanos de bem serão deportados. Vejam o exemplo dos pugilista no governo. LULA. UMA CHAGA IMPERDOAVEL. CESARE BATISTI, CRIMINOSO TERRORISTA, UMA CHAGA IMPERDOAVEL. Fique aqui sr. Cubano, nenhum desses dois defuntos vai assumir o Brasil em 23.
Maria
2022-01-10 12:12:15MORO PRESIDENTE 2022! 🇧🇷🇧🇷🇧🇷
Emilio Cêdo
2022-01-10 10:56:39Estranho mesmo... toda esta aventura lamacenta para tentar o paraíso bolsonarista...Aí têm, Teixeirinha.