Ricardo Stuckert PR

Biden precisa de Trump, assim como Lula não vive sem Bolsonaro

08.01.24 14:36

O presidente Lula (foto) e o americano Joe Biden lembraram dos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 e 6 de janeiro de 2021, respectivamente, basicamente da mesma forma: apresentando seus rivais políticos como grandes ameaças à democracia.

Mas o que está em jogo vai muito além de uma ameaça ao Estado Democrático de Direito no Brasil e nos Estados Unidos. O que Lula e Biden querem é convencer a todos de que eles ainda são essenciais na política e, por isso, devem ganhar o direito de se candidatar à reeleição. Se, pelo contrário, o povo brasileiro e americano entenderem que não há uma ameaça, então não faria nenhum sentido votar novamente em alguém que se coloca como defensor da democracia.

No discurso que fez no dia 5 de janeiro para lembrar os três anos da invasão do Capitólio, em Washington, Biden citou 44 vezes Donald Trump.

A multidão de Trump não foi um protesto pacífico. Foi um ataque violento. Eles eram rebeldes, não patriotas. Eles não estavam lá para defender a Constituição; eles estavam lá para destruir a Constituição. Trump não fará o que um presidente americano deve fazer. Ele se recusa a denunciar a violência política. Então, ouçam-me claramente. Direi o que Donald Trump não dirá. A violência política nunca, jamais, é aceitável no sistema político dos Estados Unidos – nunca, nunca, nunca. Não tem lugar numa democracia. Nenhum“, disse Biden.

Em um artigo publicado no jornal Washington Post nesta segunda, 8, Lula foi na mesma linha, ainda que não tenha citado nominalmente Jair Bolsonaro. O petista fala apenas de “líderes políticos“, mas a referência é clara.

A tentativa de golpe foi o culminar de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para desacreditar a democracia em seu próprio benefício. O sistema eleitoral brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua integridade, foi questionado por aqueles que foram eleitos por esse mesmo sistema. Sem provas, eles reclamaram da urna eletrônica do Brasil, assim como os negacionistas eleitorais nos Estados Unidos reclamaram da votação pelo correio. O objetivo destas falsas denúncias era desqualificar a democracia para perpetuar o poder de forma autocrática”, escreveu Lula.

No discurso que deu neste 8 de janeiro no Congresso Nacional, Lula chegou a dizer o que seria do Brasil caso um golpe de Estado tivesse ocorrido. “Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser enforcados em praça pública, a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha e seus seguidores tramaram nas redes sociais“, disse Lula.

Tanto Biden quanto Lula são políticos idosos que se recusam a ceder espaço para a geração mais nova. O americano tem 81 anos. O petista, 78.

Em abril do ano passado, Biden disse que iria tentar a reeleição. Por causa da sua insistência, não há hoje um plano B no Partido Democrata caso o atual presidente mude de ideia ao longo deste ano. E isso ocorre mesmo com quase metade dos democratas afirmando, em pesquisas, que Biden não deveria tentar a reeleição.

No Brasil, Lula foi eleito em 2022. Durante a campanha, ele afirmou que não pensava em buscar a reeleição.

Eu não vou ser um presidente da República que está pensando na sua reeleição. Eu vou ser o presidente que vou estar pensando em governar este país por quatro anos e deixá-lo tinindo para que o povo brasileiro recupere definitivamente o bem-estar social, a alegria, o prazer de viver, o prazer de ser baiano, o prazer de ser brasileiro”, disse Lula em uma entrevista na Bahia. “É isso que eu quero deixar. Então, eu tenho quatro anos da minha vida para dedicar, para cuidar desse povo.

Lula tomou posse prometendo que comandaria uma frente ampla, o que deu alguma esperança para as pessoas em seu entorno de que poderiam substituí-lo. Entre eles estavam Fernando Haddad, Simone Tebet e Geraldo Alckmin. Mas o petista logo começou a espalhar que pensa na reeleição. Em vez de insistir em uma frente ampla, o que ele fez foi se aliar ao velho Centrão. Assim como Biden nos Estados Unidos, Lula acabou com a possibilidade de outras candidaturas na esquerda ou no centro-esquerda.

Mas há uma diferença fundamental entre as duas situações.

Biden tem razões para se preocupar com uma volta de Trump. Nas pesquisas eleitorais, o republicano aparece com iguais chances ou até um pouco melhor que o democrata. Mesmo que Trump seja preso, ele ainda poderá concorrer e vencer o pleito de novembro.

No Brasil, por mais que Lula se coloque como o grande salvador da democracia, Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral e não poderá ensaiar uma volta ao poder em 2026.

Para Lula, será muito mais difícil manter a retórica de que a democracia está sob perigo, quando estiverem se aproximando as próximas eleições presidenciais.

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  1. Se o cenário de 2026 não estiver muito favorável pro Nine, eu vou dizer aqui o que penso que vai acontecer: nossos juizes supremos darão um jeito de anular ou reverter as decisões que tornaram o Bozo inelegível, acatando recursos de advogados do Bozo, tudo em nome da “justiça”, “amplo direito de defesa”, blábláblá. Só pra tornar o Bozo elegível e dar uma forcinha pro Nine se reeleger.

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