Até show de Madonna cai na polarização brasileira
O show de Madonna na praia de Copacabana, na noite do último sábado, 4, foi um evento grandioso que entregou exatamente o que dele era esperado: com pouco menos de 45 dias de aviso, a cantora arrastou 1.6 milhão de pessoas — mais que os seus 200 últimos espetáculos, somados — para um espetáculo que...
O show de Madonna na praia de Copacabana, na noite do último sábado, 4, foi um evento grandioso que entregou exatamente o que dele era esperado: com pouco menos de 45 dias de aviso, a cantora arrastou 1.6 milhão de pessoas — mais que os seus 200 últimos espetáculos, somados — para um espetáculo que chamou a atenção em todo mundo. O Madonnna-verso de danças vibrantes, letras picantes e lascívia solta virou uma máquina de memes em redes sociais quase em tempo real, transmitido pela TV. E em tempos onde tudo no país é polarizado, nem a artista denominada "rainha do pop" conseguiu escapar deste buraco negro.
A primeira polêmica sobre sua apresentação começou horas antes da cantora subir ao palco. Afinal de contas, já no sábado era sabido da gravidade das chuvas no Rio Grande do Sul, o alto número de mortes e do alagamento que tomou centenas de cidades do estado de uma vez. "Como celebrar o show da cantora em uma tarde de 40 graus no Rio de Janeiro com tanta destruição?" foi o primeiro dos questionamentos.
O cachê da cantora, de 17 milhões, foi alvo de críticas pelo mesmo motivo: como o poder público poderia destinar tanto dinheiro a um show neste momento? (resposta: não enviando. O evento, com organização 100% privada, foi pago pelo Itaú e pela Heineken, patrocinadora oficial, conforme documentos tornados públicos pelas próprias instituições. O montante pago à cantora foi integralmente captado pelo banco).
Mas o estrago ocorreu mesmo após a cantora subir ao palco: as falas com conteúdo sexual (sobrou para a tradutora da TV Globo mandar um: "essa bandeira verde e amarela que eu vejo em todo o canto, eu consigo sentir em meu coração, eu consigo sentir em minha periquita"), assim como a presença de Pabllo Vittar em trajes mínimos (e também em tons de verde-e-amarelo) e a simulação de sexo oral com seus dançarinos quebrou a internet brasileira no meio.
Fãs da cantora (em sua maioria membros da comunidade LGBT) se viram em uma noite catártica, onde toda a libido parecia jorrar pela TV em direção a pais, avós e tios caretas do Whatsapp, pegos de surpresa por uma senhora tão velha quanto eles (Madonna tem 65 anos) defendendo valores dito "pouco puritanos" quanto os deles em rede nacional.
Outros foram às redes sociais reclamar — em número suficiente para que os termos "satanismo" e "Sodoma e Gomorra" figurassem por mais de um dia como os mais comentados no X (ex-Twitter). Em um momento da sociedade onde tudo tem um dito "significado oculto" com símbolos que "não querem que você saiba", as cruzes queimando ao fundo de Like a Virgin e as roupas da cantora já seriam combustíveis suficientes.
"Se espantar porque a Madonna fez um show satânico e pornográfico é o mesmo que dizer que assustou com o calor do fogo", escreveu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Sóstenes Cavaclante (PL-RJ), outro da bancada evangélica, chamou o show de "crime premeditado". Kim Kataguiri (União Brasil-SP) disse que o Brasil precisaria "rever suas prioridades com o gasto público" (novamente, o show foi pago como uma ação de marca do Itaú).
Outros bolsonaristas foram mais discretos. Foi o caso de Fábio Wajngarten, o advogado pessoal de Jair Bolsonaro e seu ex-Secom, que esteve na área VIP do show junto do maquiador de Michelle Bolsonaro Agustin Fernandez. Poupado das críticas, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL; ele próprio um cantor religioso), apareceu sorridente ao lado destes nas areias da praia.
O senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) também estava no lugar. Cobrado pelos seus eleitores mais radicais, Seif disse que foi até Copacabana (a 1h30 de voo de Santa Catarina, onde reside ou de Brasília, onde trabalha) apenas para levar a esposa ao show — mas que foi embora ao ver que o conteúdo seria "não só um show de música". Ele preferiu acompanhar no show no sigilo, sem postar nenhuma foto em suas redes sociais, causando alguma ira de seus eleitores nas suas redes sociais e descobrindo que, de fato, se tratava apenas de um show de música.
Leia mais em Crusoé: Madonna, objeto de estudo
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Comentários (1)
KEDMA
2024-05-07 08:29:16Mesmo sendo o Itaú o grande patrocinador não deixa de ser dinheiro público já que vem dos correntistas e aplicadores do banco.